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Carregadores de taco aprendem a jogar e se envolvem com o esporte; caminhada reforça sociabilidade
"Caddies" se transformam em bons jogadores
DO ENVIADO ESPECIAL
Esporte caro que exige um sem-número de equipamentos. Um
jogo com etiqueta excessiva, sem
ação e vocabulário complicado,
em inglês. Essas são algumas das
razões enumeradas no Brasil por
quem vê o golfe como modalidade sem graça, mas que mascara a
realidade do jogo que atrai 26,4
milhões de praticantes nos EUA e
quase 3 milhões na Europa.
A prática do golfe entre nós é
menor do que na Argentina, só
para se tomar um exemplo. Aqui
a atividade esportiva ainda está ligada aos campos de clubes particulares, de visibilidade restrita,
abertos quase que somente aos
sócios e cujos títulos custam caro.
Enquanto a Argentina tem campos públicos há décadas, apenas
no fim dos anos 90 é que o acesso
do brasileiro começou a ser facilitado por meio de empreendimentos turísticos e de "driving ranges" públicos, mas não gratuitos.
Quanto ao estereótipo de que
quem gosta do esporte é milionário ou aposentado, os "caddies"
-responsáveis por carregar as
bolsas de tacos pelos 18 buracos,
limpar as bolas e dar dicas do
campo- rebatem a afirmação.
Nos campos brasileiros, eles costumam ser jovens de famílias de
baixa renda que moram nas redondezas e aprendem a jogar com
tacos emprestados ou usados que
ganharam de presente de sócios.
Alguns dos melhores jogadores
do Brasil foram "caddies", caso de
Acácio Jorge Pedro e João Corteiz.
Na história do golfe (leia na
pág.F5), o esporte oscilou entre
atividade popular e de elite.
Jogo
O golfista pode ter até 14 tacos
na bolsa. Nem todos são imprescindíveis para o novato -ou até
para amadores com "handicap"
alto (índice que mede o nível do
atleta, quanto menor, melhor o
jogador). Cada taco é apropriado
para situações específicas, mas o
golpe executado muitas vezes não
depende dessa sofisticação, mas
da habilidade de quem joga.
O "putter" (próprio para o
"green"), o "driver" (para o "tee")
e o "sand wedge" (para as bancas
próximas ao "green") são os tacos
imprescindíveis. Mais três ferros
para jogadas de longa, média e
curta distâncias seriam suficientes para um golfista que não tivesse como adquirir equipamento
usado -coisa corriqueira.
A bola é o item com menor durabilidade, mas é o mais barato
(uns R$ 6 a caixa com três) e também pode ser comprado seminovo. A luva, para agarrar firme o taco, e sapatos com pregos de plástico ou de borracha, para não escorregar na execução do "swing",
são bens que duram anos.
"Swing" é o nome que se dá ao
movimento de execução da tacada. Esse balanço é o principal
componente de um golpe preciso
que chega ao destino que se deseja. É o aprendizado mais difícil do
golfe. Por essa razão se dedica tanta atenção a cada detalhe, desde a
posição dos pés, o giro dos ombros, a rigidez dos braços etc.
A ação está presente nas mais de
70 tacadas (sem contar "swings"
de prática antes do golpe propriamente dito) e nos seis quilômetros percorridos durante um jogo.
A caminhada sob sol ou chuva
por cerca de seis horas é outra
atração. Apesar de poder soar como um martírio, o golfe a torna
prazerosa. Além da conversa, pesa o contato com a natureza. O esporte estimula a sociabilidade e
ajuda a reunir amigos e familiares
de várias faixas etárias.
Nas partidas amistosas e nos
torneios se entra no campo para
jogar em grupos de três ou quatro
pessoas, no máximo.
Princípios e etiqueta
Atitudes como assumir a perda
de uma bola que deveria ser localizada com facilidade ou se denunciar por ter raspado com o taco na areia antes de se executar
uma tacada na banca são corriqueiras no golfe. Embora nesses
casos estejam previstas penalidades com o acréscimo de golpes, alguns poucos usam a malandragem para melhorar o "score",
pois um dos desafios é melhorar o
próprio jogo. Honestidade e cavalheirismo são parte do golfe.
A educação está presente ao se
dar passagem já em campo a uma
turma que vem logo atrás e que
joga com maior velocidade, no
respeito ao horário e no silêncio
no momento em que o colega
executa um golpe.
Há uma série de procedimentos
específicos: nos "tees", joga primeiro quem tiver se saído melhor
no buraco anterior (menor número de tacadas); no "fairway" e
no "green", quem estiver mais
longe do buraco.
Cuidar do campo é outra obrigação. Recolocar pedaços de grama arrancados e rastelar as bancas de areia após o impacto causado pelas tacadas são atos primordiais. Estragar a grama com o taco
porque se errou um golpe ou arranhá-la com os pregos de metal
do sapato (o uso deles hoje é proibido na maioria dos campos) são
atitudes condenáveis.
(MARCELO SAKATE)
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