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QUALQUER VIAGEM
Internet: a história de um grupo de "geeks"
DAVID DREW ZINGG
em Sampa
"O que é legal na Internet é que ninguém sabe que você é cachorro."
Charge na "The New Yorker"
A história da Internet é a história do "geek".
A World Wide Web tem apenas
30 anos de idade, completados no
mês passado.
A data exata em que ela nasceu,
se você é dado a comemorar acontecimentos arcanos como esse, foi
no dia 29 de outubro de 1969.
Tio Dave é uma espécie de
"geek" confesso, Joãozinho.
Já falávamos da Internet nesta
coluna muuuito tempo atrás, em
1994, época que, em termos de história da Internet, equivale aproximadamente à Idade da Pedra.
A primeira vez que vi a Internet,
usávamos esotéricos comandos do
DOS para passar as informações
de um lugar a outro.
Não havia nada dessas coisas
modernosas da Netscape para
ajudar sua namorada a encontrar conselhos sentimentais no
UOL.
A história da Internet é a história dos "geeks" que a construíram.
Hoje esses mesmos "geeks" estão
transbordando de carros chiquérrimos, escritórios também chiquérrimos, grandes veleiros que
participam do America's Cup e
mansões monumentais.
Um tema importante da saga
da Internet é o da Vingança dos
"Geeks". Você os derrotou no ginásio -agora eles são donos dos
melhores times de futebol.
Eram aqueles adolescentes chatos, espertinhos demais, cheios de
espinhas no rosto, que tocavam
guitarra acompanhando as músicas do Grateful Dead.
Eram os meninos que usavam
aqueles óculos fundo-de-garrafa,
com pesados aros pretos.
Os "geeks" inventaram a Internet e, agora, são barões da Web.
Aos 25 anos de idade, estão criando as novas "empresas ponto
com" e andam por aí naqueles detestáveis BMW amarelos conversíveis.
Como a confusão começou
Vamos dar um "fast reverse" e
encarar uma aulinha de história.
No final da década de 50, o Pentágono, que era paranóico e tinha
bolsos grandes, financiava o planejamento da defesa nacional nos
grandes computadores mainframe de universidades espalhadas
pela Gringolândia, por meio de
uma coisa chamada Agência de
Projetos de Pesquisa Avançada,
ou Arpa (as iniciais do nome em
inglês).
No final da década de 60, a Arpa contratou uma equipe de
"geeks" brilhantes para inventar
uma maneira de interligar todos
esses computadores, para o caso
de os malévolos russos sabotarem
a companhia telefônica, expulsando-a do ramo das comunicações.
Assim nasceu a ARPAnet, à prova de bombas. Ela foi criada graças a uma tecnologia esdrúxula
chamada "packet-switching", que
não vou tentar explicar a você hoje.
A ARPAnet foi a tataravó da
Internet que você hoje conhece,
ama e utiliza para navegar por
todos aqueles sites sexuais molhados.
A primeira ARPAnet ia apenas
do ponto A ao ponto B. Tinha só
dois nodos.
Pense em Alexander Graham
Bell e na invenção do telefone.
Em lugar de "venha para cá,
por favor, senhor Watson", a primeira mensagem transmitida
pela recém-nascida ARPAnet foi,
à típica moda "geek", "LOG IN".
Ou, melhor dizendo, teria sido, se
a ARPAnet não tivesse dado pau
antes de meio caminho percorrido. A mensagem que de fato chegou foi um solitário "LO". A verdadeira diferença entre os
"geeks" e você é que eles, quando
chegam a esse ponto, não começam a chorar, gritar, chutar as
cadeiras e desistir de tudo.
Por razões nada evidentes, eles
seguem adiante. Continuam tentando.
Em meados da década de 70, a
Internet já era uma realidade
prática, embora ninguém soubesse o que fazer com ela.
Então um "geek" chamado Ray
Tomlinson inventou o e-mail.
De repente aquela tecnologia
militar caríssima, de ponta, estava sendo utilizada para que as
pessoas pudessem digitar bilhetinhos como "o que você vai fazer
depois do trabalho, querida?" e
enviá-los umas às outras.
Durante muito tempo esse ciberespaço primitivo permaneceu
como domínio exclusivo de cientistas e fãs do Grateful Dead.
Finalmente, foi necessária a
criação da amplamente acessível
World Wide Web (um sistema
universal de endereços desenvolvido no laboratório Cern, em Genebra) e o desenvolvimento relativamente recente do navegador
Web de utilização simples para
levar a coisa toda ao ponto em
que o Joãozinho do Público pudesse utilizá-la para procurar fotos de mulheres peladas.
É difícil enxergar a história da
Internet até hoje como "história"
propriamente dita, já que ninguém, a começar pelo Velho Geek
Dave, faz idéia de onde tudo isso
vai parar.
Estou certo de que a revolução
da Internet nem sequer começou
realmente e que a fase de 1968 a
1998 será tratada na primeira
página da História do Ciberespaço.
Em dois ou três anos estaremos
dando ordens verbais à Internet
embutida em nossas escovas de
dentes elétricas.
Também é difícil imaginar como alguma coisa que em sua pré-história não despertava o interesse de ninguém, exceto dos mais
"geeks" dos "geeks", pode ser
transformada em algo que dê
uma leitura interessante.
Nas palavras de James Gosling,
o "geek" inventor da linguagem
de computador Java: "O tipo de
coisa que eu faço é algo que não
tenho idéia de como explicar à
minha mãe".
Compreendo perfeitamente como se sente a mãe dele.
Tradução de Clara Allain
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