São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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OLHAR CARIOCA

Santa boliviana rebatizou "Sacopenapã"

No posto 6, imagem da Nuestra Señora de Copacabana originou igreja destruída para dar lugar ao forte do arquivo do IMS mostra a a igreja de Nossa Senhora de Copacabana, onde hoje fica o forte; ao lado, o aqueduto da Carioca, conhecido como arcos da Lapa

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

"Copacabana" (2001), filme de Carla Camurati -leia entrevista com a cineasta na pág. F9-, conta a história da praia carioca que, antes de virar bairro, era habitada pelos tamoios e se chamava Sacopenapã.
O nome Copacabana chegou ao Rio vindo da Bolívia, possivelmente no fim do século 18.
Foi então achada no local uma imagem de Nuestra Señora de Copacabana, num tempo em que pequenos "milagres" eram pretexto para a edificação de uma igreja e a consequente urbanização. Mais antiga que a santa venerada na Bolívia, a história do nome Copacabana deriva da divindade Cópac Awana, de origem quíchua, que o sincretismo transformou numa santa católica às margens do lago Titicaca.
O fato é que o "achamento" da imagem da santa no Rio inspirou a construção da capela de Copacabana, em 1746.
Retratada pelo pioneiro francês da fotografia Marc Ferrez (1842-1923), essa igreja pairava solitária na encosta onde, depois, foi edificado o forte de Copacabana, no canto direito da praia, chamado de posto 6.
Antes de ser anexada ao Rio, Copacabana ganhou, em 1776, o forte do Leme, no canto esquerdo da praia, num tempo em que o sistema de defesa da cidade era prioridade da Coroa portuguesa.
A abertura do túnel Velho, em 6 de junho de 1892, trouxe a Copacabana o bonde -e, com ele, o rio desandou a crescer.
Em 1918, em meio a uma Copacabana já relativamente urbanizada, a igreja foi demolida e, no seu lugar, foi construído o forte de Copacabana.
Em 5 de julho de 1922, eclodiu a Revolta dos 18 do Forte. Então, no bojo do movimento tenentista contra o presidente Epitácio Pessoa, o Rio entra na modernidade.
De 1923, o aristocrático hotel Copacabana Palace, projeto do francês Joseph Gire, foi construído por Octavio Guinle, colocando o bairro -e a praia- no mapa-múndi do turismo.
Vieram a Revolução de 1930, a intensa urbanização e o estilo art déco virou onipresente nos prédios que tomaram a orla.
Nos anos 50 e 60, um paredão de edifícios substituiu os casarões à beira-mar e, afinal, o bairro enfrentou a decadência.
Quando Juscelino Kubitschek mudou a capital para Brasília, em 1960, tocava nas rádios cariocas a marchinha "dizem, é voz corrente, que em Goiás será a nova capital/ façam o que quiserem, mas não tirem o nosso Carnaval". Felizmente, tal mudança nunca aconteceu.


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