São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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BÉLGICA "HYPE"

Curador de "Mode 2001" admite mistura das duas áreas, embora afirme que ela não faz parte do projeto

Mostra mescla moda e artes plásticas

DO ENVIADO ESPECIAL À BÉLGICA

Como curador da "Mode 2001", o estilista Walter Van Beirendonck teve de usar seu talento para apresentar uma mostra com o que há de mais significativo no mundo fashion e também consolidar a Antuérpia como uma das capitais mundiais da moda.
Um dos "seis de Antuérpia", grupo de estilistas que despontou em Londres nos anos 80, ele trabalhou com conceitos como emoção, radicalismo, mutilação, espontaneidade, personalidade e autenticidade no projeto.
O resultado parece uma síntese do próprio estilista, que oscila entre a agressividade aparente de seu visual -com seus coturnos, vasta barba e os enormes anéis e brincos de prata- e a doçura do seu modo de falar. Leia a seguir entrevista na qual ele expõe seu projeto "100% fashion". (GW)

Folha - A moda e a arte convivem bastante na Antuérpia. Como essa relação se reflete na mostra?
Van Beirendonck -
Não sei dizer se essa relação é tão óbvia assim. Ela é clara para alguém do Brasil?

Folha - Sim, especialmente na mostra "Mutilar?". Isso não é consequência de a faculdade de moda ter sido formada dentro da Academia Real de Belas Artes?
Van Beirendonck -
É verdade, há essa influência, mas o projeto é 100% de moda. Não pediria a artistas plásticos que trabalhassem com estilistas nem que estilistas se transformassem em artistas para a mostra. Se me perguntam se a mostra tem algo de arte, respondo que não, que o projeto é puramente de moda. É claro que a maneira como pensamos a moda é bem próxima ao mundo da arte.
Como a Escola de Antuérpia [a faculdade de moda" é parte da Academia [Real de Belas Artes", os estudantes convivem com escultores, artistas, pintores e desenvolvem uma relação próxima.
Também contribui para essa aproximação o fato de "Mutilar?" estar no Museu de Arte Contemporânea. Fiz isso para passar uma sensação de contemporaneidade próxima ao mundo da arte.

Folha - Por que você escolheu quatro lugares diferentes na cidade para expor moda?
Van Beirendonck -
Parte disso veio do "briefing". De um lado, a idéia da mostra veio do Instituto de Moda, que queria fazer algo relacionado ao mundo fashion. Por outro, parte da realização estava a cargo da Antuérpia, que, por ver a moda como uma manifestação cultural, me pediu que considerasse a cidade como parte do projeto. Por isso estou guiando as pessoas pela Antuérpia, levando-as de um lado a outro da cidade.

Folha - Nas exposições você utiliza muitas videoinstalações. Por que você escolheu esse suporte?
Van Beirendonck -
No "Mutilar?" era importante mostrar em vídeo todas as coisas feitas com o corpo. Imagens que normalmente nós conhecemos só de fotos, livros e pessoas comentarem. Para mim era importante mostrar os resultados das mudanças promovidas pelas pessoas nos seus corpos. Por isso usei o vídeo, quase como uma forma de documentar a vida real.
Para a mostra "Duas Mulheres", diferentemente do "Mutilar?", o vídeo foi usado para mostrar a força da Coco Chanel. Se você a vê explicando a maneira como ela enxerga e sente o mundo, consegue captar o quanto ela foi forte e como ela foi importante para aquele momento da moda.

Folha - Você acredita que a moda tem se libertado das roupas e está ganhando o corpo das pessoas?
Van Beirendonck -
Acho que essa é uma evolução natural. É claro que isso soa bastante drástico e provavelmente um tanto futurista, mas em "Mutilar?" eu escolhi a Amanda Lepore [transexual que remodelou o corpo para se tornar a caricatura de uma mulher" como o ícone perfeito da cirurgia plástica porque acredito que o que ela faz não é só para mudar seu corpo, mas para expressar seus sentimentos do mesmo jeito que fazemos ao nos vestir. É o mesmo raciocínio que está por trás de modelar o corpo com roupas. Antes, as pessoas usavam espartilhos, hoje esculpem o corpo.

Folha - Como foram escolhidas as pessoas que têm seu trabalho mostrado em "Radicais"?
Van Beirendonck -
Foi uma seleção espontânea. Eu queria que parte dos estilistas fosse belga, porque eles estão trabalhando muito com imagens, de uma forma radical. Ao lado disso, eu queria ter estilistas internacionais que expressassem os mesmos sentimentos. Para mim, isso era traduzido pela palavra "radical", o que não que dizer que os trabalhos não possam ser radicalmente poéticos ou radicais ao trazer propostas. Na verdade, o que conta é a identidade dos estilistas.


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