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BÉLGICA "HYPE"
Curador de "Mode 2001" admite mistura das duas áreas, embora afirme que ela não faz parte do projeto
Mostra mescla moda e artes plásticas
DO ENVIADO ESPECIAL À BÉLGICA
Como curador da "Mode 2001",
o estilista Walter Van Beirendonck teve de usar seu talento para apresentar uma mostra com o
que há de mais significativo no
mundo fashion e também consolidar a Antuérpia como uma das
capitais mundiais da moda.
Um dos "seis de Antuérpia",
grupo de estilistas que despontou
em Londres nos anos 80, ele trabalhou com conceitos como emoção, radicalismo, mutilação, espontaneidade, personalidade e
autenticidade no projeto.
O resultado parece uma síntese
do próprio estilista, que oscila entre a agressividade aparente de
seu visual -com seus coturnos,
vasta barba e os enormes anéis e
brincos de prata- e a doçura do
seu modo de falar. Leia a seguir
entrevista na qual ele expõe seu
projeto "100% fashion".
(GW)
Folha - A moda e a arte convivem
bastante na Antuérpia. Como essa
relação se reflete na mostra?
Van Beirendonck - Não sei dizer
se essa relação é tão óbvia assim.
Ela é clara para alguém do Brasil?
Folha - Sim, especialmente na
mostra "Mutilar?". Isso não é consequência de a faculdade de moda
ter sido formada dentro da Academia Real de Belas Artes?
Van Beirendonck - É verdade, há
essa influência, mas o projeto é
100% de moda. Não pediria a artistas plásticos que trabalhassem
com estilistas nem que estilistas se
transformassem em artistas para
a mostra. Se me perguntam se a
mostra tem algo de arte, respondo
que não, que o projeto é puramente de moda. É claro que a maneira como pensamos a moda é
bem próxima ao mundo da arte.
Como a Escola de Antuérpia [a
faculdade de moda" é parte da
Academia [Real de Belas Artes",
os estudantes convivem com escultores, artistas, pintores e desenvolvem uma relação próxima.
Também contribui para essa
aproximação o fato de "Mutilar?"
estar no Museu de Arte Contemporânea. Fiz isso para passar uma
sensação de contemporaneidade
próxima ao mundo da arte.
Folha - Por que você escolheu
quatro lugares diferentes na cidade para expor moda?
Van Beirendonck - Parte disso
veio do "briefing". De um lado, a
idéia da mostra veio do Instituto
de Moda, que queria fazer algo relacionado ao mundo fashion. Por
outro, parte da realização estava a
cargo da Antuérpia, que, por ver a
moda como uma manifestação
cultural, me pediu que considerasse a cidade como parte do projeto. Por isso estou guiando as
pessoas pela Antuérpia, levando-as de um lado a outro da cidade.
Folha - Nas exposições você utiliza muitas videoinstalações. Por
que você escolheu esse suporte?
Van Beirendonck - No "Mutilar?"
era importante mostrar em vídeo
todas as coisas feitas com o corpo.
Imagens que normalmente nós
conhecemos só de fotos, livros e
pessoas comentarem. Para mim
era importante mostrar os resultados das mudanças promovidas
pelas pessoas nos seus corpos. Por
isso usei o vídeo, quase como uma
forma de documentar a vida real.
Para a mostra "Duas Mulheres",
diferentemente do "Mutilar?", o
vídeo foi usado para mostrar a
força da Coco Chanel. Se você a vê
explicando a maneira como ela
enxerga e sente o mundo, consegue captar o quanto ela foi forte e
como ela foi importante para
aquele momento da moda.
Folha - Você acredita que a moda
tem se libertado das roupas e está
ganhando o corpo das pessoas?
Van Beirendonck - Acho que essa
é uma evolução natural. É claro
que isso soa bastante drástico e
provavelmente um tanto futurista, mas em "Mutilar?" eu escolhi a
Amanda Lepore [transexual que
remodelou o corpo para se tornar
a caricatura de uma mulher" como o ícone perfeito da cirurgia
plástica porque acredito que o
que ela faz não é só para mudar
seu corpo, mas para expressar
seus sentimentos do mesmo jeito
que fazemos ao nos vestir. É o
mesmo raciocínio que está por
trás de modelar o corpo com roupas. Antes, as pessoas usavam espartilhos, hoje esculpem o corpo.
Folha - Como foram escolhidas as
pessoas que têm seu trabalho mostrado em "Radicais"?
Van Beirendonck - Foi uma seleção espontânea. Eu queria que
parte dos estilistas fosse belga,
porque eles estão trabalhando
muito com imagens, de uma forma radical. Ao lado disso, eu queria ter estilistas internacionais que
expressassem os mesmos sentimentos. Para mim, isso era traduzido pela palavra "radical", o que
não que dizer que os trabalhos
não possam ser radicalmente
poéticos ou radicais ao trazer propostas. Na verdade, o que conta é
a identidade dos estilistas.
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