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11.09/UM ANO DEPOIS
Agora descolado envia mala pelo correio e embarca com as mãos abanando
Episódio altera o modo de viajar
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Se você é um dos cerca de 50 milhões de turistas que vêm a Nova
York todos os anos, aqui vai um
aviso: reveja sua rotina ao arrumar as malas, principalmente a
bagagem de mão. O ataque de 11
de setembro mudou tudo no já
nada maravilhoso mundo dos aeroportos norte-americanos.
A Secretaria de Transportes,
que controla a segurança nos aeroportos e nos aviões, soltou uma
lista restringindo ainda mais os
itens que os passageiros podem
carregar. A coluna de "não pode"
conta agora com quase 30 artigos.
Entre eles estão os outrora insuspeitos saca-rolhas e tesourinha de unhas, que, se flagrados
pelas máquinas de raio-X das barreiras de segurança, são confiscados. Sim, essa é a razão daquele
balde de alicates de cutícula que
você viu da última vez que passou
pelo aeroporto internacional JFK.
Além disso, como a revista agora é supostamente mais rigorosa
que antes, mudaram as regras de
etiqueta do bom viajante. Sapato
sem meia nem pensar, para não
ter de pisar no chão imundo cada
vez que for pedido que você prove
não ser um "shoe-bomber". Vale
a regra de ouro dos restaurantes
japoneses: verifique se não há furos na meia antes de sair de casa.
Mais: nada de sutiã com armação
de metal, elemento que, em geral,
pós-11/9, é "out", então pegue leve
nas jóias e nas bijuterias.
Outro truque ensina que ser o
primeiro a se apresentar para entrar no avião é ruim, pois esses são
os escolhidos para a checagem
aleatória. Colocar roupas velhas
ou usadas cobrindo o conteúdo
da mala também funciona para
abreviar a revista.
Para evitar as filas intermináveis
nos check ins e check outs, viajantes nova-iorquinos mais descolados estão despachando sua mala
de mão por FedEx. Segundo o serviço de correio privado, dobrou o
número de bagagens sendo enviadas desde o fim de 2001.
Assim, o sujeito chega ao aeroporto sem nada, para ser menos
revistado e perder menos tempo
nas barreiras. De quebra, leva um
casaco com muitos bolsos, para
não ter de abrir mão da leitura de
bordo e das guloseimas.
Como consequência, hotéis como o Club de Nova York dobraram o espaço destinado a guardar
malas que chegam antes ou após
os donos. Alguns convidam seus
frequentadores habituais a deixar
seus pertences guardados para a
próxima estada. O serviço é oferecido pela rede Four Seasons e pelo
The Regent Wall Street, que lava,
passa e dobra o que for deixado
no quarto e põe tudo no mesmo
lugar na próxima visita.
Tenha em mente, no entanto,
que nem tudo está tão seguro
quanto parece. No início da semana passada, sem se identificar, repórteres do jornal "The New York
Post" conseguiram embarcar em
14 vôos com facas, estiletes, saca-rolhas e sprays de pimenta em
suas bagagens de mão sem sofrer
nenhum problema.
Os jornalistas compraram bilhetes apenas de ida, pela internet
e usando cartão de crédito, três fatores que, juntos, o colocam no
grupo dos 19 sequestradores de 11
de setembro e deveriam colocá-los na lista de potenciais suspeitos. Mesmo assim, não foram parados em nenhum momento.
Todos tiveram sua bagagem
examinada pelas máquinas de
raio-X, a maioria passou pela revista manual que se segue e metade teve de tirar os sapatos a pedido de um funcionário do aeroporto. De novo, nada foi encontrado ou pego. "Ainda temos
muito trabalho a fazer", foi a declaração oficial da Secretaria de
Transportes norte-americana,
quando avisada da reportagem.
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