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No centro da feira, vendem-se livros, blusas e quinquilharias, mas o tango se faz presente nos arredores
San Telmo atiça consumo e resgata tradição
DA ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES
Colecionadores e amantes de
quinquilharias: muita calma nessa hora. Atravessar a feira de antiguidades de San Telmo e chegar
ao outro lado sem sacolas nas
mãos é uma missão muito difícil.
São inúmeras as barraquinhas
com bijuterias, cristais, brinquedos e tudo aquilo de que ninguém
precisa, mas, uma vez visto, parece indispensável, como esculturas
feitas de talheres, que custam de
30 a 190 pesos cada uma.
Mas mesmo quem não gosta de
feiras, badulaques e afins tem
bons motivos para visitar San Telmo. Em uma das ruas que levam à
praça Dorrego, ponto central da
feira, um senhor bem grisalho
imita Gardel. Em outra, dançarinos resgatam os ritmos folclóricos
da Argentina. Mais além, há um
show de marionetes. O bairro
emana diversão e arte.
Ao redor disso tudo, dezenas de
bares e restaurantes onde se pode
saborear ao mesmo tempo dois
ícones da cultura nacional: o bife
de chouriço e o tango.
Um desses estabelecimentos é o
restaurante Mitos Argentinos
(www.mitosargentinos.com.ar),
onde uma refeição completa sai
por 17 pesos. O prédio em que o
restaurante está instalado já completou um século. As paredes permanecem com os tijolos à mostra.
Delas, pendem fotografias e quadros antigos. Do piso superior,
tem-se a melhor vista do palco,
mas há duas desvantagens: as mesas são apertadas e, de lá, Maria
Sílvia Varela não poderá chamá-lo para participar do show.
No térreo, a cantora percorre as
mesas. Segura os clientes pelo
braço, crava sobre eles o olhar
dramático: "Yo no sé si soy una
tonta, siempre lista, siempre
pronta a entregarme a los demás...". Ri alto, finge chorar e sofrer. Depois confessa à reportagem: "Toda mulher é uma atriz".
Para quem gosta de tango, San
Telmo possui alguns endereços
preciosos, como o Almacén de
Tangos Generales, em uma das
esquinas da praça Dorrego. Ali, é
possível encontrar desde blusas
até baralhos temáticos. Além dos
livros, como o que traz "Las Mejores Anécdotas del Tango - y Otras
Curiosidades", da editora Planeta.
Uma das histórias ali narradas
aconteceu no Rio de Janeiro. Conta o livro que em 1940 (no período
da Segunda Guerra Mundial
-detalhe importante para o decorrer dos fatos), o cantor Francisco Canaro veio apresentar-se
no cassino da Urca.
Lá ele teria conhecido uma mulher, chamada Tajaira, que, após
sua volta a Buenos Aires, começou a lhe enviar telegramas de
amor. As mensagens, porém,
ocultavam informações secretas,
o que tornava Canaro cúmplice
de um esquema de espionagem.
Mas isso ele só soube quando,
em outra viagem, foi detido pela
polícia brasileira. E o pior, conclui
o livro: Canaro nunca soube nem
ao menos para que lado da guerra
ele havia servido como espião. Será que, como disse a cantora de
tango, toda mulher é uma atriz?
(AMARÍLIS LAGE)
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