São Paulo, segunda-feira, 10 de maio de 2004

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CAFÉ COM TURISMO

Fazendas abrem as portas para turistas e podem virar samba-enredo em 2005

Ouro negro reergue sul fluminense

MARIO HUGO MONKEN
ENVIADO ESPECIAL AO SUL FLUMINENSE

Vinte e quatro antigas fazendas produtoras de café da região do Médio Paraíba (sul fluminense) e que produziram parte da riqueza do país durante o século 19 estão abertas para visitação ou hospedagem aos fãs do turismo rural. E, segundo Nilson Ferreira, carnavalesco da escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz, essas fazendas podem virar samba-enredo da agremiação em 2005, caso haja patrocinadores.
Algumas dessas propriedades, como a fazenda Paraízo, em Rio das Flores (a 170 km do Rio), conservam, intactas, as mesmas características do período cafeeiro.
Construída de 1845 a 53, serviu de cenário para a gravação da minissérie "Um Só Coração", da TV Globo, encerrada recentemente.
Uma de suas principais relíquias é o maquinário no qual o café era moído. O equipamento foi comprado nos EUA e foi o primeiro do tipo a ser usado no país.
A Paraízo conserva as senzalas e o prédio onde funcionava o hospital dos escravos. A fazenda mantém ainda os móveis usados pelos proprietários originais, a família de Domingos Custódio Guimarães, o visconde do Rio Preto. O mobiliário foi importado da França. O fogão à lenha original também foi preservado.
A casa tem dois andares divididos em quatro alas (comercial, social, íntima e de serviço). Na parede de um dos salões, está pintada a obra "Baía de Guanabara 1800", do espanhol José de Villaronga.
Outro ponto conservado é o aqueduto, por onde saía a água usada na produção do café. Ele se assemelha aos arcos da Lapa, no Rio. A Paraízo, que foi a primeira fazenda a ter iluminação a gás no país, abrigou o imperador dom Pedro 2º e a princesa Isabel.

Fazenda União
Perto dali, a fazenda União também conserva alguns traços do período cafeeiro, embora tenha perdido muito de sua originalidade por ter passado pela mão de vários proprietários.
A fazenda, que também pertencia ao visconde do Rio Preto, está aberta para hóspedes. Quem chega é recepcionado por mulheres vestidas como sinhazinhas e mucamas, personagens da época.
À noite, é servido o chamado "jantar dos barões", no qual são servidos pastel de angu e mandioca frita.
Segundo o atual proprietário da fazenda, o arquiteto João Reis, em breve a antiga estrutura das senzalas, que permanecem intactas, será transformada em quartos para abrigar hóspedes.

Museu dos escravos
A fazenda Ponte Alta, no município de Barra do Piraí, a 119 km do Rio, abriga o museu dos Escravos, aberto para hóspedes e visitantes. O acervo fica exposto no lugar onde um dia funcionaram as senzalas.
O museu possui de obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) que retratam o trabalho escravo a instrumentos de tortura utilizados pelos senhores de engenho.
O visitante também descobre, percorrendo o museu, que cada escravo tinha direito a apenas duas peças de roupa durante o ano (uma na época das festas juninas e outra no Natal).
A principal atração da Ponte Alta são os saraus, que apresentam danças típicas e pequenas dramatizações do século 19. As refeições são servidas em baixelas de prata, como no período cafeeiro.
Toda a fazenda é mostrada por um homem vestido como um barão de café da época. Construída no início do século 19, a Ponte Alta pertencia ao barão de Mambucaba, um dos maiores produtores de café da região. Já no século 20, a propriedade chegou a hospedar o presidente Getúlio Vargas durante o seu segundo mandato.
A fazenda Galo Vermelho, em Vassouras (a 116 km do Rio), oferece todos os sábados o chá imperial, no qual revive os encontros entre os grandes barões do café.
A cidade também tem como atrativo a história contada pela fazenda Secretário. Os jardins da propriedade possuem estátuas em ferro fundido da famosa fundição Barbezat & Co., localizada no vale d'Osne (França), típicas da época do café. O local também serviu de cenário para minisséries da TV Globo, como "Os Maias" e "O Quinto dos Infernos".
Na página www.valedocafe.com.br há informações sobre outras fazendas na região que estão abertas para visitação.


Mario Hugo Monken viajou a convite do Sebrae/RJ.


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