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BATISMO GELADO
Estação argentina, com pistas de até 3.430 m de altitude, dispensa helicópteros para chegar a trechos difíceis
Las Leñas carrega esquiador ao extremo
EDNEY CIELICI DIAS
ENVIADO ESPECIAL A LAS LEÑAS
O dia está ensolarado. Da janela
do avião, vê-se uma planície seca
e, ao fundo, a cordilheira dos Andes. Distingue-se à distância a trilha de poeira deixada por um automóvel minúsculo. Em poucos
minutos, pousamos em Malargüe, na Província de Mendoza, a
1.200 km de Buenos Aires.
A cidade possui 22 mil habitantes e está a 1.400 m do nível do
mar. Temos 70 km de subida na
cordilheira até a estação de Las
Leñas. Quando chegarmos, estaremos a 2.300 m de altitude.
À medida que subimos, a vegetação rala escasseia ainda mais. A
pedra intercalada por neve predomina na paisagem. Sobrevive
uma vegetação mais baixa e resistente, como a leña amarilla (Adesmia pinifolia), típica dessa área.
Daí vem o nome: Valle de Las Leñas Amarillas (amarelas).
O vale é cercado por picos imponentes. Cerros Ponce, Torrecillas, Entre Rios. Como aproveitar
da melhor maneira essa natureza?
Os que conhecem bem a região
não têm dúvida. Para desfrutar a
cordilheira em sua plenitude, é
imprescindível dominar o esqui.
A estação
Las Leñas funciona desde 1983.
Hoje é uma espécie de condomínio privado, com uma administração geral e estabelecimentos
independentes. Conta com cinco
hotéis, apart-hotéis, restaurantes
e bares, duas danceterias, supermercado, minishopping, banco,
cassino e posto médico.
A grande maioria dos mil empregados da estação trabalha no
local somente na temporada de
inverno, de junho a outubro. Parte deles é composta de estudantes
recrutados em Buenos Aires e de
gente da própria região. Outro
contingente é formado por trabalhadores para os quais é inverno
quase o ano todo -quando o hemisfério Sul se aquece, vão trabalhar em estações de esqui na Europa e nos Estados Unidos.
Segundo Leonardo Szeinman,
presidente de Las Leñas, 2002 foi
o melhor ano na recepção de turistas. Cerca de 50 mil pessoas se
hospedaram na estação. A grande
maioria são argentinos -o turismo doméstico cresceu devido à
desvalorização do peso. Em número bem menor, aparecem os
brasileiros (mais de 2.000), norte-americanos e viajantes de outros
países da América Latina.
Las Leñas exerce uma forte atração sobre os amantes do esqui. As
pistas totalizam mais de 60 km e
possuem características variadas.
Não é necessário nenhum meio
de transporte para chegar à montanha. Os hotéis estão à borda dos
meios de elevação. O clima na
cordilheira possibilita uma neve
fofa e seca, mais sol e calor.
Por grau de dificuldade, 5% das
pistas são para principiantes;
30%, para os de nível intermediário; 25%, para os de técnica avançada e 40%, para experts.
Apesar do baixo percentual, os
trechos apropriados para iniciantes são longos. A pista Vênus, por
exemplo, tem cerca de 1.800 m de
extensão e é uma das maiores do
mundo em sua categoria.
Para os esquiadores de alta qualificação, o leque de possibilidades é amplo. Há o acesso relativamente fácil a descidas fora do circuito, o chamado esqui extremo.
A descida se dá a partir dos pontos mais altos, com percursos de
grande dificuldade. Em Las Leñas, não é necessário o uso de helicóptero para chegar até eles. Os
locais de esqui radical são acessíveis pelos meios fixos de elevação
ou por um veículo próprio para
percorrer a neve, o snowbus. A altitude no topo é de 3.430 m.
Às segundas, às quartas e aos sábados, é possível praticar esqui
noturno até as 20h, em duas pistas
iluminadas. Dos frequentadores
da estação, cerca de 80% praticam
o esqui e 20% o snowboard.
Hora do jantar
O Piscis é o único cinco estrelas
de Las Leñas. Ele pode parecer um
pouco rústico se considerarmos a
classificação que possui. O aspecto despojado, no entanto, é compensado pela qualidade do atendimento e o ambiente caloroso (e
não se trata de uma referência à
calefação, que é eficiente).
Os pacotes incluem, em geral, o
jantar, e não o almoço. Isso é prático: durante o dia, come-se nos
restaurantes próximos à pista para não perder tempo.
Pablo Musumeci é proprietário
do Piscis e do Escorpio, outro hotel da estação. Ele não gosta de esquiar e, por hobby, dedica-se à cozinha dos dois restaurantes do
Piscis. "O que você achou do risoto?", perguntou com uma curiosidade ansiosa, típica de quem gosta de cozinhar. O prato estava
muito bom, assim como o vinho.
Mendoza é responsável por
70% da produção vinícola argentina. Nos restaurantes e mesmo
no pequeno supermercado da estação (a preços mais baixos, claro), encontram-se tentadoras garrafas de malbec e de cabernet sauvignon, para citar dois tintos, e de
sauvignon blanc e chardonnay,
para mencionar dois brancos.
Opções na noite
O esqui consome muita energia.
Depois de um dia cheio e do jantar farto, uma boa noite de sono é
convidativa. Mas existem possibilidades de divertimento noturno.
O hotel Piscis possui um cassino
aberto ao público. Para quem gosta de dançar, há a Ufo Point, especialista em música eletrônica que
funciona à noite e também nos
fins de tarde, e o Corona Club,
com repertório eclético.
Fora da temporada, a estação
tem como atrações o ecoturismo
-passeios, trekking, cavalgadas.
Las Leñas, no entanto, tornou-
se nos últimos 20 anos sinônimo de esportes de inverno.
Edney Cielici Dias viajou a convite das Aerolineas Argentinas, dos hotéis Piscis (Las Leñas) e Sheraton Libertador (Buenos Aires) e da Ski Network
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