São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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doces rivalidades

Bem-humorada, rixa é regada a cerveja

CONTENDA > Disputa entre a chique Düsseldorf e a informal Colônia inclui também estilo, poder, vocação turística e futebol

SERGIO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A
DÜSSELDORF E COLÔNIA, ALEMANHA

Düsseldorf e Colônia, as duas principais cidades do noroeste da Alemanha, vivem uma intensa e divertida rivalidade que começa pela cerveja -assunto seriíssimo para os alemães.
Os moradores de uma Düsseldorf industrial e sofisticada chamam de "líquido ralo e sem graça" a cerveja "kölsch", típica de Colônia. Já os habitantes da cidade rival, mais turística e casual, xingam a cerveja "alt", orgulho da rival, de "remedinho horrível", por seu gosto mais amargo e cor escura.
Durma-se com um colarinho apertado desses. Que, aliás, fica apenas por cima de uma polêmica que engloba aspectos como estilo e qualidade de vida, poder econômico, atrações turísticas e até futebol. Düsseldorf está rindo até agora da queda do Colônia para a 2ª divisão da Bundesliga no campeonato do ano passado.
Do lado mais acima do rio Reno, atual capital política da Renânia do Norte-Westfalia e principal centro da moda na Alemanha, Düsseldorf se orgulha da Königsalle, uma espécie de Champs Elysées com pragmatismo alemão: um quilômetro com suntuosas sedes de bancos de um lado e butiques de grifes renomadas do outro, cortado ao meio por um canal, árvores, jardins repletos de flores e ciclovias.
Um pouco mais ao sul, à margem do mesmo rio, Colônia, a antiga capital do Estado, aposta na sua grande catedral e se produz, perfumada com a tradicional água de cheiro que leva seu nome, para atrair visitantes que lhe geram renda.

Tão perto, tão longe
Se Düsseldorf tem um jeitão mais São Paulo de ser, o estilo de Colônia é bem carioca. Entre as duas, a doce rivalidade faz parecer bem maior a distância de pouco mais de 40 km vencidos rapidamente pela autobahn (auto-estrada) ou por trens velozes.
Enquanto o morador de Düsseldorf, mais formal, costuma usar terno até para comer pizza -ou salsicha- no domingo à noite, o de Colônia prefere um estilo bem mais relax, que não chega ao exagero de bermudas ou jeans. Uma é mais executiva, por conta de suas indústrias e bancos. A outra, mais universitária, com estudantes predominando na fauna local.
Em um único local a rivalidade Düsseldorf-Colônia arrefece um pouco. É na Altstadt (Cidade Velha) da primeira, que concentra, em cerca de 500 m2, mais de 200 restaurantes, cervejarias e bares, numa seqüência conhecida como "o maior balcão" do mundo. Vem gente até de Colônia beber sua "kölsh" ("argh!" para os locais) e gastar horas em torno de copos e mais copos, debatendo com energia as diferenças.
Se está mesmo provado que só é possível filosofar em alemão, como diz a música, a culpa só pode ser da cerveja.
Por natureza, criação ou vocação, diz o lugar-comum, os alemães são sérios, tensos, rigorosos e meticulosos; através da "loura", servida nem tão gelada assim, eles soltam seu lado mais expansivo, generoso, alegre e falante.
Aliás, diga-se, como falam quando bebem! Parece que discutem sempre. O idioma, ao que parece, convida.
É nas mesas de bar -ou melhor, das cervejarias- que a polêmica entre as duas cidades atinge seu tom mais alto.
Nem as salsichas, seus diversos tipos, qualidades, calibres e tamanhos escapam das ditas comparações.
A gastronomia, que na Alemanha combina muita carne suína, batatas e chucrute, além de tortas e doces servidos com fartas porções de creme chantili, não é lá muito light.
Embora aqui caiba uma dica que faria a cabeça do gaulês Obelix: nas cervejarias e restaurantes da Cidade Velha em Düsseldorf, vale a pena pedir um eisbein (ou joelho de porco) assado que, acompanhado da "alt bier" e de uma mostarda que dói no cérebro de tão forte, é de se comer -literalmente- chorando. Bem diferente do eisbein gorduroso normalmente servido nos restaurantes alemães no Brasil.


Sergio Costa viajou a convite do grupo empresarial ThyssenKrupp Steel


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