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PACÍFICO NOROESTE
Sr. Boeing conectou Seattle a Vancouver
Há 90 anos, pioneiro da aviação levou malote de correio da cidade canadense à cidade norte-americana
Silvio Cioffi/Folha Imagem
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Em Vancouver, em marina perto do parque Stanley, águas refletem os barcos aportados
SILVIO CIOFFI
ENVIADO ESPECIAL A
VANCOUVER E SEATTLE
Há 90 anos, para provar a
confiabilidade das viagens aéreas na entrega de correspondências, o pioneiro construtor
de aviões Bill Boeing (1881-1956) e seu piloto Eddie Hubbard cruzaram a fronteira entre os EUA e o Canadá num hidroavião biplano C-700.
Empreendendo a primeira
viagem aérea internacional de
serviço de correio, eles decolaram de Seattle no dia 3 de março de 1919 e viajaram até Vancouver. Na ida, uma tempestade de neve forçou o pouso da
dupla em Anacortes.
Chegando ao Canadá, eles
embarcaram um malote com
60 cartas -isso numa época em
que a velocidade da difusão da
informação se tornava crucial
para o desenvolvimento econômico- e retornaram a Seattle.
A estadunidense Seattle e a
canadense Vancouver sempre
foram cidades próximas. Distam 227 km em linha reta uma
da outra, têm geografia até que
semelhante e, mesmo historicamente, existências paralelas.
Em ambas, há um "waterfront", área contígua ao porto
onde a população passeia, compra e se hospeda em bons hotéis; as duas têm mercados públicos históricos com frutos do
mar imensos provenientes de
águas oceânicas frias.
Cidades portuárias originadas na mesma época e de colonização semelhante, as duas
também mantêm acesa e tradicional relação comercial com o
Extremo Oriente e com o Alasca. Tanto Seattle como Vancouver nasceram em colinas
diante de braços de mar cheios
de ilhas na costa pacífica. E, não
por acaso, cresceram explorando negócios semelhantes.
Rivalidade dourada
Outra particularidade em comum: as duas cidades se desenvolveram a olhos vistos na Corrida do Ouro, no final do século
19 na Califórnia e, a seguir, em
vastas áreas da costa noroeste
da América do Norte.
Entre 1848 e 1855 a notícia
do descobrimento de metais
preciosos trouxe a essa região
garimpeiros, caçadores de fortuna, comerciantes, carpinteiros e trabalhadores braçais de
locais díspares como Europa,
Ásia, América Latina e Havaí.
Seattle já tinha 80 mil habitantes em 1900, três ferrovias e
uma estrada para a região de
Cascades; dez anos depois, em
1910, 250 mil pessoas viviam ali
-entre elas, muitos eram imigrantes alemães, suecos, japoneses e chineses.
Já Vancouver, cujo assentamento Gastown já levava uma
vida boêmia em 1870, foi incorporada ao Canadá em 1886, no
mesmo ano em que a ferrovia
transcontinental Canadian Pacific Railway ali chegou.
Nessa cidade agora canadense, o censo de 1891 contou 19
mil habitantes. Mas, com a intensificação do fluxo imigratório, Vancouver viu a sua população crescer para 100 mil moradores em 1911.
Séc. 20: voar é para avião
Nascido em Detroit, mas radicado em Seattle desde 1908,
Bill Boeing se chamava, de fato,
William Edward Boeing.
Do pai, um comerciante alemão que grafava seu sobrenome com trema -Böing-, herdou o senso de empreender. Já
a mãe, uma vienense perfeccionista, lhe ensinou que o tino para negócios só não era mais importante do que o estudo.
Irrequieto, Boeing tinha
pressa; aos 22 anos, largou o
curso de engenharia na universidade Yale. Isso foi em 1903,
aliás, mesmo ano em que, na
Carolina do Norte (EUA), os irmãos Orville e Wilbur Wright
voaram o Flyer, primeiro avião
motorizado -três anos antes
de Santos Dumont decolar, na
França, o 14 Bis.
Refazendo os passos do pai,
que ganhou dinheiro comerciando madeira-de-lei e minérios, Bill Boeing embrenhou-se
pelo noroeste dos EUA e, cinco
anos depois, com um certo capital, estabeleceu-se em Seattle
no ano de 1908.
Tinha então 27 anos e a ideia
de construir "flying boats", nome que se dava à época aos primeiros hidroaviões, numa área
que adquiriu em Grays Harbor,
na beira do lago Union.
Em 1910, Bill Boeing visitou a
Califórnia por ocasião do primeiro encontro norte-americano de aeronautas, mas voltou
frustrado: não conseguiu uma
carona para voar.
Voltou a Seattle determinado a construir seu próprio hidroavião. Foi, então, procurar
um engenheiro na Marinha,
George Conrad Westervelt,
que, graduado em ciências aeronáuticas no MIT, havia como
ele estudado em Yale. Juntos,
eles compraram um hidroavião
Curtiss e fundaram um clube
de entusiastas da aeronáutica.
Em 1916, Boeing e Westervelt finalmente construíram o
seu próprio "flying boat", batizado de B&W em alusão às iniciais de seus sobrenomes.
Um ano depois, em 1917, Bill
Boeing refundou a companhia,
que até então se chamava Pacific Aero Products, criando a
Boeing Airplane Company,
empresa que cresceu extraordinariamente quando a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), travada em solo europeu,
passou a ter envolvimento
mais direto dos EUA.
Terminado o conflito mundial, lá estava o próprio sr.
Boeing, decolando, ao lado de
Hubbard, em março de 1919, o
"flying boat" B&W de Seattle
no rumo de Vancouver. E foi
assim que, há nove décadas, esse voo, documentado em foto,
mostrou ao mundo que, a partir de então, o avião escreveria
um capítulo fundamental no
universo da comunicação, dos
negócios e do turismo.
SILVIO CIOFFI , editor de Turismo, voou a convite da AirCanada
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