São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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mercadões

Tsukiji traz à tona as iguarias de Netuno

PEIXE FRESCO - Alagadiço, o mercadão toquiota não é chique nem hi-tech; na visita, vale calçar galochas de plástico

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE TURISMO

Nunca vá aos domingos: o maior mercado atacadista de pescados do mundo, o Tsukiji (www.tsukiji-market.or.jp/youkoso/welcom_e.htm), na estação Tsukiji do metrô, abre diariamente, das 5h às 15h, mas fecha nesse dia da semana.
Um dos três entrepostos de peixe de Tóquio -ao lado dos mercados de Ota e de Adachi-, Tsukiji funciona no mesmo lugar desde 1923 e detém 90% do comércio local de pescados.
Ali, numa área de 21 hectares que parece um hangar, 1.700 bancas vendem peixes e frutos do mar de 450 espécies. Há coisas inimagináveis: algas frescas, peixes secos e, em aquários, polvos azulados, moluscos e camarões fosforescentes.
Mas a estrela desse mercado é o leilão de atum, espetáculo pelo qual vale a pena madrugar (e até usar galochas).
O evento começa às 5h da manhã e acaba uma hora depois. Nesse meio tempo, donos de restaurantes examinam os atuns congelados que, enfileirados no chão, têm códigos e etiquetas com ideogramas.
Antes de o leiloeiro chegar, os interessados bisbilhotam com lanterna dentro da goela dos peixes e verificam o tom da carne arrancando lascas com minúsculas picaretas. Quando o leiloeiro chega e toca um sininho, faz-se silêncio. Aí, ele sobe num caixote ao lado de cada atum, iniciando a barganha com os compradores, que travam uma disputa frenética.
Lamentavelmente, os atuns diminuíram de tamanho -e, hoje, correm o risco de extinção. Há dez anos, era comum ver gigantes de mais de 120 kg, mas agora os peixes têm, em geral, entre 30 kg e 60 kg.
Pescados em barcos ultra-equipados nos mais diversos mares, os melhores atuns são congelados imediatamente e seguem de helicóptero e de avião para Tóquio. Do arquipélago de Samoa Ocidental, do Atlântico Norte, da Nova Zelândia e até dos mares gelados de Aomori, ao norte do Japão, chegam os maiores peixes.
Estima-se que 30% do 1,7 milhão de toneladas de atum consumido anualmente no mundo seja degustado no Japão. Cru, em sushis e sashimis ou cozido, o atum ("maguro") é disputado nos restaurantes toquiotas, onde 1 kg de "toro", a barriga gordurosa desse peixe, custa até US$ 20 mil.
A chef japonesa Mari Hirata narra a comercialização de um raro atum "hon-maguro" (em inglês chamado "bluefin tuna"), em 2004. Com 200 kg, o tal peixe foi vendido em Tsukiji por US$ 200 mil, o que hoje se traduz em quase R$ 400 mil, preço de um apartamento de três quartos em São Paulo.
Se por azar você tiver apenas um domingo livre em Tóquio (www.jnto.go.jp), lembre-se que nesse dia a metrópole de 23 milhões de habitantes é mais tranqüila, com menos gente na área metropolitana central. E não desanime por completo: aos domingos, o mercado de Tsukiji não abre, mas há uma profusão de locais interessantes no seu entorno.
Entre a estação de metrô e o mercado, é possível comer frutos do mar de qualidade em banquinhas e restaurantes, com destaque para o Sushizanmai (www.kiyomura.co.jp).
Ali, há sopinhas com caranguejos inteiros, sushis de mackrell (peixe de carne branca e gordurosa) chamuscados com maçarico e suculentas ovas de salmão ("ikurá") e de arenque ("kazunoko"). Os sabores variam do delicado ao exótico -e os arranjos dos pratos são de arregalar os olhos!


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