São Paulo, Segunda-feira, 12 de Julho de 1999
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CENTRO-OESTE
Título de Patrimônio da Humanidade, da Unesco, pode tirar sossego da antiga capital goiana
Goiás Velho estacionou no século 18

Fotos: Rodolphe Hammadi
Vista parcial de Goiás Velho, fundada em 1727 pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva (filho), com a Serra Dourada ao fundo


CYNARA MENEZES
enviada especial a Goiás Velho

Primeira capital do Estado de Goiás, Goiás Velho quer virar Patrimônio da Humanidade. O dossiê apresentando a candidatura foi entregue à Unesco no começo do mês. O resultado será divulgado em janeiro de 2001.
Enquanto espera o resultado de sua candidatura ao título de Patrimônio da Humanidade junto à Unesco, a Cidade de Goiás, como seus cerca de 30 mil habitantes preferem chamá-la, traz à memória outro Brasil, desaparecido junto com o que se conhece como "progresso".
Os casarões do século 18, a maioria em ótimo estado de conservação, as ruas de pedra, os doces cristalizados à venda no parapeito das janelas, o cheiro de café coado no pano oferecido aos visitantes: a todo momento, a cidade faz lembrar que o tempo parou por ali.
O arraial de Sant'Ana, fundado em 1727 por Bartolomeu Bueno da Silva (filho), passou a se chamar vila Boa de Goiás no ano de 1739, em homenagem aos índios Goyazes, os primeiros habitantes do território. Até hoje os moradores da atual Goiás Velho (ou Cidade de Goiás) são intitulados "vilaboenses".
Foi capital do Estado até a inauguração de Goiânia, em 1935. Pouca gente sabe, mas a cidade, a 135 km da nova capital, também foi planejada: possui planta ordenando seu centro colonial, considerado "simples" arquitetonicamente.

Arquitetura original
As atrações históricas incluem o museu das Bandeiras, construído em 1761, com um acervo rico em peças e documentos do período colonial até a República.
Também são de interesse turístico a igreja de Nossa Senhora da Boa Morte (1779), hoje também museu, e a casa da poeta Cora Coralina, entre outras construções de época.
A "casa velha da ponte", datada provavelmente da segunda metade do século 18, fica na ponte da Lapa, uma das três que unem as duas partes da cidade (separada pelo infelizmente poluído rio Vermelho). Essa ponte, feita de madeira, é ponto de encontro e referência em Goiás Velho.
Cora Coralina, morta em 1985, nasceu na cidade em 1889, morou 30 anos em Jaboticabal, no interior de São Paulo, e voltou para Goiás já depois dos 60 anos, quando se dedicou às artes de fazer poesia e de preparar doces cristalizados.
A casa, como a própria cidade, foi mantida como nos tempos em que Cora estava viva.
Estão lá sua cama simples, seu fogão a lenha com as panelas de cobre brilhante, os panos de mesa bordados e os doces -hoje já feitos por outras mãos e que estão à venda.


Ecoturismo
Mas nem só de lembranças vive Goiás Velho. A exótica vegetação do cerrado é uma atração à parte, com suas árvores de troncos retorcidos e o "papirus" -símbolo do Estado, árvore cujo tronco se desfolha como papel. Diz-se que antigamente se costumava escrever nessas folhas.
A serra Dourada, de areias multicoloridas à vontade dos raios do sol ao nascer e no crepúsculo, convidam os aventureiros a um passeio radical: vencer os três quilômetros de subida em terreno íngreme numa noite de lua cheia.
Sem falar nas cachoeiras -pequenas, simpáticas e sossegadas. É hora de aproveitar: as hordas de turistas ainda não descobriram a cidade. Se sair o título de Patrimônio da Humanidade, com certeza, a tranquilidade de Goiás Velho é que será coisa do passado.
(CYNARA MENEZES)

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