São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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AFRO-BAHIA

Cidade é prato cheio para quem acredita em métodos que driblariam o mau-olhado

Rota mística de Salvador lava a alma

Heloisa Helena Lupinacci/Folha Imagem
Casario do Pelourinho, em Salvador, cidade que tem várias alternativas de consultas espirituais


HELOISA HELENA LUPINACCI
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

Fazer consultas espirituais pode ser o pretexto para uma viagem a Salvador, durante a qual o turista descobre o seu orixá, ou seja, o santo do candomblé que regeria sua vida, fica sabendo se estaria sendo alvo de mau-olhado e quais são as indicações que variados métodos de adivinhação trazem para o seu futuro.
Há uma grande oferta de experiências espirituais pelas quais o turista pode passar em Salvador: de uma consulta aos búzios a uma visita a um terreiro de candomblé, passando por leitura de cartas, vidência na água, limpezas, descarregos, desobsessões.
O difícil é definir quais delas experimentar.
Existem muitos modos de escolher uma mãe-de-santo, ou ialorixá, em iorubá, para consultar. Até nos classificados do jornal é possível encontrar anúncios para uma consulta, que custa, em média, de R$ 10 a R$ 20. O mais indicado, no entanto, é se informar quando as ialorixás dos terreiros mais conceituados lêem os búzios.
A tradição de jogar os búzios vem dos mitos africanos que sustentam o candomblé. Funciona assim: a mãe ou o pai-de-santo joga 16 búzios no ifá, normalmente um tabuleiro feito de palha.
A distribuição dos búzios no ifá determinaria a qual odu pertence a situação daquele que procurou o método. Odus são os signos do oráculo iorubano, mitos que dariam indicações sobre a vida. Em algumas regiões da África, no lugar dos búzios, são jogados 16 caroços de dendê.
O orixá que rege a adivinhação pelos búzios é Orunmilá, também chamado de Ifá. Na origem africana do candomblé, somente os babalaôs, ou adivinhos, sabiam os segredos do orixá.
No Brasil, essa função passou para as mãos das ialorixás ou babalorixás, mães e pais-de-santo, respectivamente.
As cartas, de baralho normal ou de tarô, também são suposta fonte de informações sobre o futuro. Um dos videntes que foram consultados pela Folha, que prefere não ser identificado, diz que usa as cartas apenas para confortar aquele que o consulta. "Eu poderia dizer tudo o que digo sem olhar para elas, mas essa sensibilidade assusta as pessoas."
A vidência na água também é frequente. O consultor olha em um copo geralmente com pedras submergidas em água. Enquanto reza, faz perguntas ao copo, que revelaria segredos do futuro. Em alguns casos, os adivinhos usam sinos feitos de metal, que são tocados a cada pergunta feita e servem como parte da reza.
Ainda é possível consultar as runas, 24 pedras divididas em três famílias que representam deuses de origem escandinava.

Soluções
Depois da consulta, os adivinhos podem indicar trabalhos a serem feitos. No candomblé, o consulente é aconselhado a fazer um ebó, oferenda aos orixás, que ajudariam a resolver seu problema. Segundo os mitos, os búzios indicariam qual ebó deve ser feito para qual orixá.
Há também os banhos, que teriam muitos objetivos. O mais comum é o banho de descarrego. Ele serviria para afastar os pensamentos negativos dos outros, como inveja, cobiça e mau-olhado.
Há, no campo da umbanda, a desobsessão, feita quando se acredita que um espírito ruim ronda o consulente e lhe traz prejuízos.
Independentemente da veracidade dos diversos modos de consulta e de seus resultados, cada um deles representa uma parte da cultura religiosa e mística de Salvador e mostra como é grande a gama de rituais existente na capital baiana.

Heloisa Helena Lupinacci viajou a convite do hotel Holiday Inn


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