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AFRO-BAHIA
Segundo Reginaldo Prandi, artistas tornaram Estado uma referência na religião, embora RS tenha mais adeptos
Arte fez da Bahia centro do candomblé
DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
O candomblé é o conjunto de
várias religiões trazidas por diferentes etnias vindas da África. As
que mantiveram suas tradições
viraram nações do candomblé,
como a nação Queto, formada
por negros que vieram da cidade
de mesmo nome. "Queto ficava
no Benin, próxima à fronteira
com a Nigéria", explica Reginaldo
Prandi, doutor em sociologia e
professor titular do Departamento de Sociologia da USP. Segundo
ele, pertencem à nação os terreiros Casa Branca, Ilê Axé Opô
Afonjá e Gantois, entre outros.
Prandi é autor de cerca de dez livros sobre candomblé, entre eles
"Mitologia dos Orixás", que reúne mitos da religião. As lendas
mostram elementos usados nos
rituais e contam sobre as origens
dos ritos. A compilação dos mitos
demorou, entre pesquisa e reunião de conteúdo, cerca de 11 anos
para ficar pronta e, durante o processo, Prandi entrevistou mães e
pais-de-santo de vários terreiros.
As várias correntes do candomblé apareceram no Brasil no século 19, mas a religião cresceu nos
locais com maior adensamento
de negros. Essas populações viviam isoladas umas das outras, e,
em cada local, uma tradição africana foi lembrada e sofreu influências do lugar.
Há o Tambor de Mina, no Maranhão e no Pará, o Xangô, em
Pernambuco, e o Batuque, no Rio
Grande do Sul. As correntes ganharam nomes associados à música e à dança, exceto o Xangô, o
orixá mais cultuado, pois foi o
quarto rei da cidade de Oió, que
virou o império de Oió.
"Com a sua expansão, cresceu o
culto a Xangô. Quando o império
foi destruído, as cidades ficaram
sem proteção militar, e os negros
foram presos e trazidos para o
Brasil. Quando chegaram, traziam a lembrança da proteção de
Xangô. Em Pernambuco o culto
era tão frequente que a religião foi
batizada com o nome do orixá."
Cultura baiana
O candomblé da Bahia ficou
mais popular no Brasil e transformou Salvador numa espécie de
central da religião. A explicação
de Prandi para esse fenômeno remete à construção da identidade
do país. "Nos anos 20 e 30, formava-se a idéia do Brasil como nação, unificado, com um povo de
três raças. A Bahia era o celeiro da
inspiração de artistas e escritores.
Assim, na construção da identidade nacional, houve uma popularização da cultura baiana. Dos
anos 20 aos anos 50 há uma espécie de consumo nacional pelos
cultos locais e então consolida-se
essa imagem da Bahia como a
central do candomblé."
As referências da religião na cultura do Estado ajudaram a firmar
o conceito de que ele abriga grande parte dos adeptos da religião.
"Em recente pesquisa que fiz sobre a música brasileira do século
20, percebi que o samba exaltação, que fala das belezas e riquezas do Brasil, quando fala sobre a
Bahia, traz muitas referências aos
terreiros e aos orixás."
Mas, no Rio Grande do Sul, o
candomblé, chamado de Batuque, é muito forte, segundo Prandi, embora o homem da fronteira,
o gaúcho, tenha mais força no
imaginário popular. Por isso o
Batuque não ganhou projeção.
O Rio Grande do Sul é o Estado
que tem mais adeptos ao candomblé. Segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2000, 1,63% da
sua população segue religiões
afro-brasileiras, conceito que engloba candomblé e umbanda.
(HELOISA HELENA LUPINACCI)
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