São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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PORTO À PAULISTA

Desde 2001, foram gastos R$ 60 milhões no centro, que, revigorado, angaria adeptos até para curtir a noite

Santos investe para resgatar seu glamour

Alex Almeida/Folha Imagem
Imagem aérea mostra orla; terreno ajardinado que a circunda é o maior do mundo em seu estilo


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTOS

A sensação de que Santos anda meio em baixa pode estar se desfazendo com algumas transformações pontuais na cidade, que fica a 40 minutos de São Paulo. Depois de algumas restaurações e reformas -realizadas desde 2000- e com a confirmação pelo "Guinness" de que o jardim que acompanha toda a orla é o maior do mundo, em extensão, de sua categoria (fato citado com orgulho por qualquer santista), esse destino, antes tão popular entre os paulistas, dá sinais de que pode voltar a ser coroado como tal.
Na orla, o imenso jardim ainda reina como o trunfo de uma cidade moderna, que já foi a queridinha da alta sociedade paulista nos anos 50 e 60, desenvolvida em torno de sua atividade portuária -a mais intensa do Brasil.
Santos guarda, na fachada dos edifícios que revestem sua orla, a atmosfera desenvolvimentista do século 20, com seus hotéis históricos, o Atlântico, por exemplo, se impondo frente ao mar da praia do Gonzaga, com um agradável bar de pé-direito alto.
Em determinado ponto da praia, os edifícios inclinados por imprevistos da engenharia acabam na mesma bacia de outros atrativos turísticos, como um aquário municipal e a pinacoteca Benedito Calixto, agora novos em folha, após reformas.
Mas o plano de restauro e recuperação levado pela prefeitura concentra-se principalmente no centro histórico da cidade, cada vez mais usado como set de minisséries. Desde 2001, foram gastos cerca de R$ 60 milhões, em investimentos dos governos municipal, estadual e federal e da iniciativa privada.
A criação de um calçadão na rua XV, agora iluminada por lampiões antigos, as restaurações da via-sacra do Monte Serrat, uma escadaria que leva ao topo de uma montanha considerada o principal ponto turístico da cidade, e da fachada da Casa de Frontaria Azulejada, assim como a revitalização da Cadeia Velha e o lançamento da linha de bondes históricos, são apenas alguns exemplos.
O plano está dando certo, tanto que o centro já sinaliza uma movimentação diferente. Há menos de cinco anos, esvaziava-se durante a noite, o que ainda acontece durante a semana, embora as sextas sejam agora ocupadas pela festividade de bares e clubes.
Por volta das 23h, a vida noturna começa a fervilhar, com mesas na calçada e música vazando para as ruas. Acaba só pelas 5h, com o sol nascendo por trás de prédios históricos, como o teatro Coliseu - alguns anos atrás usado como sala de cinema pornô- e a antiga Bolsa do Café. São duas construções do início do século 20, hoje totalmente recuperadas.
De dia, a farra corre pela orla, com areias mais limpas, especialmente agora, quando termina a alta temporada na cidade. Ainda que a água muitas vezes esteja imprópria para o banho, há duchas espalhadas por toda a extensão do jardim que acompanha a praia.
Os bares de quiosque completam o circuito, reunindo galeras de diversos perfis, jovens estudantes, trabalhadores, grupos de idosos, jogadores de dominó, famílias. A cerveja de garrafa, que fica sempre em torno de R$ 3,50, acompanha petiscos do mar, como as porções de camarão a R$ 15. A vista são os navios que passam sem cerimônia, já por costume integrados à paisagem. Muita gente ainda vai lá só para assistir ao espetáculo, num fim de tarde regado a água-de-coco, a R$ 2.
A poucos metros da orla, em direção ao centro, Santos toma ares de metrópole, com o comércio despontando por entre ruas e avenidas estreitas e largas, restaurantes, hotéis, lanchonetes, shoppings e uma circulação de carros típica de cidade grande, dando suporte à marca de 417.983 habitantes. Pelo crescimento bem administrado, a cidade chegou a ser apontada pela ONU como uma das localidades brasileiras com mais elevado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O reflexo desse desenvolvimento é nítido. O santista aprendeu a preservar e a defender a estrutura e a memória da cidade, com gestos simbólicos, como dar bronca em quem corre pelos gramados dos jardins da praia, como testemunhou a reportagem da Folha, em uma visita à cidade. Os museus (Museu da Pesca, Museu do Mar e Museu de Arte Sacra, entre outros) e um notável esforço para tornar a noite de Santos mais um de seus atrativos turísticos contribuem para uma nova impressão da cidade.


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