São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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BUENOS AIRES

Jorge Luis Borges morreu esperando o prêmio Nobel

do enviado especial a Buenos Aires

Jorge Luis Borges (1899-1986), o patriarca das letras argentinas, nasceu na capital portenha e sobre sua cidade natal escreveu, ainda no início da carreira, os versos "Fervor de Buenos Aires" (1923).
Escritor que suscita a unanimidade, Borges deixou notável obra poética e ensaística, além de uma prosa ficcional sem paralelo, mas morreu esperando -em vão- o Prêmio Nobel de Literatura.
Polêmico e conservador na política, Borges talvez seja o escritor contemporâneo de língua espanhola mais difundido e respeitado pela crítica internacional.
Publicou cerca de 40 obras, traduzidas em 38 idiomas, e entre seus livros mais importantes está "O Aleph" (1933-69), considerado um marco da literatura de imaginação em língua espanhola.
Já conhecido, em 1938 tornou-se bibliotecário e, em 1942, escreveu, com o conterrâneo Adolpho Bioy Casares, contos policiais publicados sob o pseudônimo de H. Bustos Domecq.
Perseguido pelo caudilho Juan Domingo Perón (leia texto à pág. 7-11), acabou perdendo o emprego de bibliotecário, em 1946, por ter assumido posições simpáticas aos aliados na Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Só em 1955, com o fim da ditadura peronista, foi reconduzido à Biblioteca Nacional, onde ocupou o cargo honorífico de diretor.
Nos anos seguintes Borges foi ficando cego, sem, entretanto, nunca deixar de fazer conferências, dar aulas e ditar seus livros.
O escritor -que faria 100 anos em 24 de agosto do ano que vem- introduziu ainda um sem-número de autores de língua inglesa no ambiente literário da Argentina.
No mundo intelectual, Borges também foi voz dissonante quando, em 1976, apoiou na Argentina a ascensão dos militares.
Mas, em 1982, quando irrompeu a Guerra das Malvinas, declarou à imprensa que a guerra entre a Argentina e a Inglaterra era como se "dois carecas brigassem por causa de um pente".

Anglofilia precoce
O curioso é que, alfabetizado em inglês pela avó paterna Fanny Haslam, que possivelmente tinha origem anglo-judaica, aos 3 anos de idade, o "Bruxo" escreveu seu primeiro conto aos 8.
No ano seguinte, traduziu "O Príncipe Feliz", de Oscar Wilde.
Em 1914, ano em que a Primeira Guerra Mundial começou, Borges mudou com a família para Genebra, na Suíça, cidade onde está sepultado.
Depois da guerra, em 1919, foi para Londres e para Madri.
Só quando voltou a Buenos Aires, em 1921, redescobriu a cidade onde havia nascido, passando a se dedicar ferozmente à atividade literária, que lhe trouxe a notoriedade, também precoce, desde que publicou "Fervor de Buenos Aires". (SILVIO CIOFFI)


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