|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TOSTADO E APROVADO
Diferenças entre o churrasco brasileiro e o argentino devem ser destrinchadas em Buenos Aires
Carnívoros se banqueteiam com parrilla
DA ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES
Mundialmente famosa, a parrilla é programa preferencial para
carnívoros em Buenos Aires.
Carnes suculentas são um dos
destaques da gastronomia local.
Até o brasileiro, rodeado de
churrascarias e de boa carne, deve
explorar a parrilla e as diferenças
em relação ao churrasco nacional.
A primeira diz respeito à textura. Em termos gerais, a carne argentina é mais macia. Claro que
no Brasil é possível comer carne
macia. Mas, em média, nossa carne é um pouco mais rija, embora
seja tida como mais saborosa.
As diferenças entre os churrascos dos dois países, no entanto,
começam no boi e vão até a brasa.
István Wessel, proprietário da
marca Carnes Wessel, explica que
tudo começa na alimentação.
Como exemplo, cita a diferença
da carne argentina para a norte-americana. São as mesmas raças,
mas nos EUA o gado é alimentado com milho, assim engorda rápido e é abatido cedo. Conseqüência: a carne não é saborosa,
traço que aumenta com a idade
do boi, e é supermacia. Na Argentina, o gado é alimentado com capim, que retarda o abate. O boi é
abatido mais tarde, logo é mais saboroso. No Brasil, o boi também
come capim, mas de outro tipo.
O segundo ponto citado por
Wessel é a raça. O gado argentino
é formado por raças européias,
como a Aberdeen Angus e a Hereford. Por uma questão genética,
essa carne tem uma marmorização maior, ou seja, possui finas
camadas de gordura entremeadas
na carne, o que lhe atribui maciez,
e tem um contrafilé grandão, que
vai gerar o célebre bife de chorizo.
As raças zebuínas, originárias
da Índia, são maioria no gado
brasileiro, "azebuado" por excelência. Os animais, mais rústicos,
demoram mais para chegar ao
abate. O resultado é uma carne
mais dura e, por outro lado, saborosa, com a gordura externa.
A questão do relevo é o terceiro
ponto: os pastos argentinos, nos
Pampas, são planos. Os brasileiros, mais acidentados. Há algum
tempo, isso muda com o crescimento da pecuária no Mato Grosso do Sul, onde as pastagens são
planas como o horizonte.
Walmor Clarini, consultor de
desenvolvimento de produtos da
marca Bassi, levanta outro ponto:
"O boi argentino tem parte de sua
engorda em confinamento ou semiconfinamento. Já no Brasil, o
gado é criado solto no pasto. Isso
acentua a maciez na carne argentina e o sabor na brasileira".
Ao lado da migração da pecuária brasileira, há outro traço em
mudança: a raça. Cresce a popularidade dos europeus-zebus, mescla que une a rusticidade do zebu
à genética de maciez européia.
A questão do corte, levantada
por muitos como motivo de peculiaridades, é relativizada por Wessel. "A maioria dos cortes é anatômica, o músculo se divide naturalmente." Mas aí residem outras
diferenças. Wessel explica que o
contrafilé nas raças européias é
mais volumoso. "Na Europa, é a
grande carne. No Brasil, é bom,
mas, geralmente, duro e seco."
A ferro e fogo
Quando chega o preparo, as diferenças aumentam. Se o hábito
brasileiro reza que se deve colocar
sal grosso na carne antes de ela ir
para a churrasqueira, o argentino
prega que o sal, refinado, seja colocado na hora de virar a carne na
grelha. Para Eduardo Santalla, dono do restaurante 348 Parrila Argentina, isso evita a desidratação
da carne.
Muda também o formato das
hastes da grelha. Explica Manuel
Ceccoti, gerente do restaurante La
Caballeriza: a argentina é redonda, a brasileira, em forma de "v".
E muda o sistema: "Em geral, as
carnes no Brasil são assadas em
espetos a uma distância de 50 cm
do braseiro. Na Argentina, vai diretamente na grelha, a cerca de 20
cm do fogo", diz Clarini, da Bassi.
Conhecendo todas essas peculiaridades, explore esses sabores
de acordo com o tanto de pesos
que tem a gastar (leia abaixo).(HELOISA LUPINACCI)
Texto Anterior: Pacotes Próximo Texto: Puerto Madero reúne boas carnes Índice
|