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TOSTADO E APROVADO
Feira recôndita na região oeste portenha oferece dança e comida e deve ser divulgada em breve
Forasteiro ainda não descobriu Mataderos
DA ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES
Ao contrário da feira de San
Telmo, na qual são vendidas antigüidades, que concentra grande
número de turistas, a feira de Mataderos ainda é pouco freqüentada por forasteiros.
Ao contrário da feira de Palermo, que oferece objetos de design
e concentra jovens descolados, a
de Mataderos atrai a população
local em busca de dança e comida.
Na região oeste da cidade, essa
feira recôndita reúne várias regiões da Argentina em um punhado de quadras.
Atraente por sua autenticidade,
a feira de Mataderos acaba de entrar na lista de atrações a serem
divulgadas pela Secretaria de Turismo de Buenos Aires.
Para chegar lá, é inevitável pensar que o taxista está tentando tirar vantagem. O caminho é bem
longo, e até condutores bonairenses podem se perder.
Um deles, quando apanhado
nos arredores da feira, exclama:
"Vivo nesse bairro há dez anos e
nunca tinha visto essa feira".
Esse não tem olhado muito por
onde anda. A feira de Mataderos
tem 17 anos e ocupa o entorno do
mercado de Hacienda. Ela se divide em duas partes. Em uma, há
barracas de roupas, brinquedos,
utilidades domésticas. Uma espécie de mercado a céu aberto, com
mercadorias baratas.
Na outra parte, produtores de
todas as regiões do país expõem
produtos regionalizados.
Comum às duas partes: a fumaça que ondula a partir das brasas
da parrilla, o churrasco argentino,
presente em cada esquina.
No centro da feira, fica um palco
ao redor do qual se forma um
amontoado de gente. Ali, no meio
dessa multidão, moradores da região e visitantes bailam os passos
típicos de danças como o chamamé, da região litorânea, o zamba e
o gato, da região dos pampas, e a
chacarera, vinda do norte do país.
Os locais vibram a cada vez que
o locutor anuncia a próxima dança. A música começa a sair de caixas de som que propagam faixas
de CDs e de fitas-cassete.
O zamba é um dos mais bonitos
de ver. Com lencinhos da mão, o
casal se prende, passando o pano
por trás do pescoço do par. Olhares românticos são abundantes
nesses passos. Outra que se destaca é o bailecito. Ela também exige
o uso de um lencinho, mas agora,
em vez de enlaçar o par, ele chacoalha no ar a cada refrão.
Alguns ensinam visitantes a
dançar. O clima é receptivo. Ninguém fica bravo com esbarros ou
falta de habilidade. Até porque, se
fosse para encrencar com topadas
alheias, a dança não aconteceria:
na pista circulam vendedores de
doces como pirulitos ou cones recheados de "dulce de leche".
As barracas também vendem
preciosidades gastronômicas regionais. Do norte, vindas de Tucumán, e dos confins da Patagônia, ao sul. Os queijos orgânicos
La Albertina são feitos com leite
de vaca e podem ser temperados,
sem tempero ou defumados. O
preço: nove pesos por 500 g. Os
queijos de ovelha da marca Santa
Agueda são produzidos segundo
tradições de diversos países. Há
queijo fresco, queijo tipo feta (grego), queijo tipo pecorino (italiano). Tudo feito de maneira artesanal com leite ovino na cidade de
Flores, na Província de Buenos
Aires. Cada um custa a partir de
cinco pesos. Na barraca Quesito
de Tucumán, os queijos de leite de
vaca podem ter forma de trança
(os mais caros, dez pesos) ou ser
do tipo criollo, bastante rústico e
normalmente aromatizado com
ervas. Nessa mesma barraca, vendem-se doces em compota. O
mais curioso é o de cayote (pronuncia-se quase como "caixote"),
fruta que parece uma melancia
branca. Em uma barraquinha
sem nome comandada por um
garoto de Tucumán, sopressatas
dividem espaço com lingüiças calabresas e salsichas alemãs. O
mais caro é a sopressata, tipo de
salame feito com a carne mais
magra do porco: 25 pesos o quilo.
Mas à parte da sessão de queijos
e embutidos, o destaque mesmo é
o festival de grelhas sobre as quais
são assados grandes pedaços de
carne (leia na pág. F4).
A parrilla domina os cantos da
feira. E os nacos de carne não poderiam se sentir mais em casa.
O nome da feira e do bairro,
Mataderos, se dá por conta de um
mercado de Hacienda instalado
na região. Fundado em 1890, o
mercado tem seu prédio tombado. Nesse tipo de mercado, os bois
são mortos, e os pedaços de carne
são separados e vendidos.
Devido aos problemas trazidos
pela proximidade de um estabelecimento do tipo para o bairro, como o cheiro ruim decorrente da
morte dos bois, o mercado deve
ser fechado em breve.
Seu espaço será incorporado
pela feira, que passará a contar
com uma área coberta.
Essa área deve virar o palco das
demonstrações de habilidades
gauchescas, hoje espremidas num
fim de rua no canto da feira, onde
gaúchos argentinos mostram
seus truques.
Os homens que se apresentam
representam um tipo bastante específico: são os gaúchos que moram na cidade e mantêm suas tradições. A região de Mataderos
concentra esse tipo.
Descentralização
A feira surgiu de uma iniciativa
que visa a descentralizar as atenções voltadas ao centro de Buenos
Aires. Tenta levar os visitantes a
conhecer uma região que está fora
do circuito turístico, por onde eles
dificilmente transitariam.
Ela acontece aos domingos, de
abril a dezembro. Nos outros meses do ano, ganha ares de quermesse. (HELOISA LUPINACCI)
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