São Paulo, segunda, 13 de outubro de 1997.



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POR DENTRO DA HISTÓRIA
Trilha de beato descortina sertão baiano

ACÁCIA RIOS
free-lance para a Folha

Para seguir os passos de Antônio Conselheiro, saindo de Salvador, em direção ao norte, a primeira cidade a ser conhecida é Aporá, a 100 km da capital baiana. No caminho, você passa por Simões Filho e Pojuca, onde fica o entroncamento para a rodovia BA-093.
Conselheiro esteve por lá quando ainda não possuía um séquito grande e tencionava dar continuidade à construção do muro do cemitério. Ele chegou a iniciar a construção, mas o padre local não gostou da idéia. E o peregrino partiu, sem concluir a obra.
É atribuída a Conselheiro a igreja do Sobrado em Aporá, mas, segundo documentação da cidade, a igreja já existia quando ele chegou. As opiniões dos estudiosos são divergentes. Pelo sim e pelo não, de lá você pode continuar a trajetória.
Localizada na praça central, a igreja de Bom Jesus é a principal da cidade de Crisópolis. A sua construção foi realizada por Conselheiro entre 1875 e 1876, quando o beato fundou o arraial. A data distinta da fachada se explica pelo fato de a igreja só ter sido benzida em 1892, pelo padre Agripino Borges.
Há uma historinha em torno da igreja. Segundo Vicente Dobroruka, recente biógrafo de Conselheiro, a igreja foi construída dentro da área da fazenda Dendê de Cima, local onde, reza a lenda, teria ocorrido um crime famoso: uma mulher mandara assassinar o marido.
No decorrer desse tempo, a capela sofreu algumas modificações, mas conservou a estrutura arquitetônica planejada por Antônio Conselheiro.
A cidade seguinte é Mocambo, que atualmente se chama Olindina, onde o peregrino permaneceu por cerca de um ano.
Nessa localidade, ele prometeu construir uma igreja, mas não chegou a fazê-lo. Ninguém sabe a razão. Essa promessa seria efetivada no Arraial do Bom Jesus, depois Vila Rica, e atualmente Crisópolis.
Apenas 14 km separam Olindina da cidade vizinha, Itapicuru, onde Conselheiro permaneceu por cerca de dois anos. Na cidade, ele restaurou uma parte da igreja Matriz e levantou o muro do cemitério. Durante esse tempo, Conselheiro já havia conseguido reunir um séquito grande. O beato foi preso em Itapicuru.
Essa cidade mantém viva a memória de Conselheiro. Ele restaurou a igreja Matriz, construiu o muro do cemitério, foi preso e muitos itapicurenses o acompanharam. Por conta disso, intrigas políticas surgiram entre os líderes. O poder religioso aprovava sua presença, mas o político, não.
A acusação contra o beato foi a de ter matado sua mulher e a própria mãe. Por isso, errava pelos sertões, para se eximir da culpa.



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