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CAPITAIS GOIANAS
Procissão de encapuzados sai de "igreja-museu", cujo acervo saltou de 154 peças para mais de 1.000 em 36 anos
Fiéis de Goiás Velho se cobrem na quarta
ALESSANDRA KIANEK
ENVIADA ESPECIAL A GOIÁS
A cidade de Goiás, ou Goiás Velho, como é conhecida, mantém
viva sua principal tradição, iniciada há 258 anos: a celebração da
Semana Santa. Os festejos começaram ontem, no Domingo de
Ramos, e terminam domingo,
com a missa de Páscoa.
O evento mais aguardado é a
procissão do Fogaréu, que começa à meia-noite desta quarta-feira
na porta da igreja da Boa Morte. A
cerimônia, que dura duas horas,
simboliza a busca e a prisão de Jesus Cristo. Na procissão, 40 farricocos, fiéis encapuzados, representam a guarda romana e os homens que abrem os cortejos de
execução. As luzes das ruas são
apagadas e milhares de pessoas
caminham pela cidade carregando tochas ao som de tambores e
músicas barrocas do século 19.
A cidade, que recebeu no final
de 2001 o título de Patrimônio
Cultural da Humanidade da
Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura) e, dias depois, enfrentou uma terrível enchente, espera
receber a visita de cerca de 6.000
pessoas nesta semana.
Goiás Velho (apelido que incomoda os moradores mais antigos,
por terem cedido a capital do Estado para Goiânia nos anos 30)
tem hoje seis igrejas tombadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
A igreja da Boa Morte -de onde sai a Procissão do Fogaréu-
foi construída em 1779, em estilo
barroco. Ela foi feita em blocos de
pedra, com apenas quatro paredes de taipa (estilo de construção
bastante encontrado na parte
mais antiga do centro histórico).
Desde 1969 o templo abriga o
Museu de Arte Sacra da Boa Morte, que possui um acervo de mais
de mil obras. O destaque são as
imagens de santos talhadas em
cedro pelo escultor José Joaquim
da Veiga Valle, que viveu na cidade no século 19. O museu ainda
guarda os restos mortais do artista e outras peças dos séculos 18 e
19, como castiçais e coroas.
Há 36 anos, Antolinda Borges,
70, a tia Tó, é responsável pelo
museu e pelas outras igrejas tombadas da cidade. Quando ela assumiu a administração, o acervo
era de apenas 154 peças. A multiplicação ocorreu com um intenso
trabalho de resgate e doações.
Moradora apaixonada pela cidade, tia Tó se orgulha do seu trabalho. "Cada vez que mostro o
museu, mostro Goiás. Não tenho
filhos, sou solteira e adotei as peças como se fossem minha família. Estou aqui por amor."
Além da Semana Santa, a cidade
tem outro evento peculiar: o Festival Internacional de Cinema
Ambiental, que neste ano será de
10 a 15 de junho e cujas inscrições
acabam amanhã. Em 2002, ele recebeu cerca de 400 inscrições de
filmes produzidos em mais de 60
países. Informações: 0/xx/62/229-3745; www.fica.art.br.
Museu de Arte Sacra da Boa Morte
-Aberto de terça a sexta, das 8h às 11h30
e das 13h às 17h; sábados, das 9h às 17h;
e domingos e feriados, das 9h às 16h; tel.
0/xx/62/371-1207; ingresso: R$ 2.
Alessandra Kianek viajou a convite da
Secretaria Municipal de Turismo de
Goiânia, da Agência Goiana de Turismo,
do Goiânia C&VB e da Varig.
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