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BÁLCÃS
Tito vira anti-herói no país que o venerava
DO ENVIADO ESPECIAL À CROÁCIA
Josip Broz Tito, o estadista de
orientação socialista que criou e
dirigiu a Iugoslávia de 1945 a 1980,
nasceu na Croácia (então Império
Áustro-Húngaro) em 7 de maio
de 1892. Transformada em museu, a casa onde ele cresceu em
Kumrovec, a cerca de meia hora
de carro de Zagreb, está aberta para visitação.
Porém o local não é tão visitado
como poderia supor qualquer turista interessado em história. A
casa estava vazia, sem nenhum visitante, quando o repórter da Folha lá chegou.
O pequeno imóvel estava deserto e a porta estava aberta, sem nenhum porteiro ou segurança, o
que faz com que o visitante entre
diretamente, pois não há ninguém para perguntar se é necessário ou não comprar ingresso.
O fato é simbólico, pois Tito,
nascido e idolatrado por décadas
no país, é hoje uma espécie de anti-herói na Croácia. O revisionismo do período posterior ao colapso da ex-Iugoslávia o tirou do
pedestal e o colocou na geladeira.
Na visão histórica oficial da
Croácia de hoje, Tito foi um dos
maiores culpados pelos sangrentos conflitos dos Bálcãs dos últimos dez anos.
Ao defender, por um lado, o
controle central da Federação em
Belgrado e, por outro, estimular o
direito à autonomia das seis Repúblicas e o reconhecimento das
minorias étnicas de cada uma, Tito teria criado um conflito interno
que serviu de base para a implosão de seu próprio "império".
No museu, o texto que relata a
sua trajetória política elogia a
atuação de Tito como líder dos
partisans contra as tropas de ocupação nazista e sua coragem ao
enfrentar Stálin e trilhar na Iugoslávia um caminho alternativo,
não-alinhado ao comunismo da
então União Soviética nem ao capitalismo dos EUA.
Em nenhum momento, porém,
ficam escondidos os pontos mais
obscuros de sua movimentada
biografia. O museu da casa onde
Josip Broz Tito nasceu o apresenta como um líder com vocação
autoritária que, nas mais de três
décadas em que esteve no poder,
fracassou ao tentar impor uma integração dos povos eslavos do sul
que se provaria inviável.
O resultado dessa reavaliação
do papel de Tito em sua terra natal fica claro no vazio da casa de
sua juventude.
Até os anos 80, dezenas de ônibus escolares de todas as partes da
Croácia levavam semanalmente
as crianças para conhecer o museu. As autoridades agora já não
promovem com o mesmo entusiasmo essa viagem de estudos.
(MARCELO STAROBINAS)
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