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ESCALAS ERUDITAS
Missas garantem recital grátis em igrejas londrinas
Nos últimos sete séculos, capital inglesa abrigou compositores como Haydn, Mozart e Mendelssohn
DA FOLHA ONLINE, EM LONDRES
A importância de Londres
para a música pode ser medida
pelo número de gênios que a cidade abrigou nos últimos sete
séculos. Entre alguns fenômenos, Mozart (1756-1791), Joseph Haydn (1732-1809), Felix
Mendelssohn (1809-1847),
George Frideric Haendel
(1685-1759) e Johann Christian Bach (1735-1782) tocaram,
viveram ou morreram ali.
Como ocorreu em outras regiões do mundo, a igreja era
mantenedora de músicos, cantores, "luthiers" (construtores
de instrumentos) e suas numerosas e quase sempre adoentadas famílias.
Embora de forma mesquinha, a igreja distribuiu renda na
Idade Média não só ao clero,
mas também à classe artística.
As exigências, porém, eram infinitas: músicos eram tratados
como fâmulos pouco melhores
que faxineiros.
Era na igreja que prosperava
uma obra musical farta, embora exclusivamente sacra. Até
hoje, assistir a uma missa em
Londres pode ser tão agradável
(do ponto de vista musical)
quanto ver um ótimo concerto
em qualquer hall do mundo.
Há pela Grande Londres milhares de capelas e igrejas católicas e protestantes. A maioria
possui organistas, corais ou pequenas formações de cordas.
Entre em qualquer uma e pergunte a que horas começa o
"the service". Sempre há música, e você é muito bem recebido
pelos cordiais ingleses. Só é
chato mesmo ouvir o sermão.
Foi nessas igrejas que surgiram compositores talentosos
como John Taverner (1490-1545), Thomas Tallis (1505-1585), Thomas Morley (1557-1603) e o mais querido, William
Byrd (1543-1623), co-organista
da Capela Real e um dos primeiros a compor música profana, pondo em risco o cargo.
Curiosamente, quando se associa hoje música clássica &
Londres, o primeiro nome que
vem à mente não é o de um inglês, mas o de um austríaco: Joseph Haydn, batizado pelos ingleses de "o papa". Ele foi como
um sumo pontífice para protestantes (e católicos corajosos).
Amigo de Leopold Mozart
(pai de Wolfgang), professor
ausente e rival nada cordial de
Beethoven, casado com uma
mulher de língua peçonhenta,
Joseph Haydn começou a ficar
famoso na sua Áustria natal.
Mas foi em Londres que alçou vôo. A nobreza britânica
fez de tudo para tirá-lo do país
vizinho: o assediou com cargos,
dinheiro e honrarias.
Os ingleses o elevaram ao patamar de sumidade e Haydn
não se fez de rogado: aceitou
vários convites para passar
temporadas no reino, causando
ciumeira entre os vienenses.
Ainda mais porque muitos de
seus sucessos foram compostos
em Londres, e não em sua terra.
Durante mais de cinco décadas "o papa" compôs em praticamente todos os gêneros musicais, sendo um mestre primordial de sinfonias e quartetos. Morreu famoso, rico e benquisto. Seu talento transcendeu as fronteiras: é dele o belíssimo hino da Alemanha, a Marcha do Imperador, que ouvimos tantas vezes nos últimos
anos enquanto Michael Schumacher levantava a taça dos
GPs da Fórmula 1.
Haydn foi um dos poucos
músicos vivos pelos quais Beethoven tinha algum respeito.
Até o dia de sua morte, recebeu
do governo, diariamente, uma
garrafa do melhor vinho servido aos oficiais militares.
(RICARDO FELTRIN)
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