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ESPANHA OCULTA
Isolada na costa norte do país, língua falada na Província facilita a comunicação
"Portunhol" é eficiente na Galícia
OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL AO NORTE DA ESPANHA
Esqueça a intensidade das touradas, o modernismo de Gaudí, as
altas temperaturas do Mediterrâneo, a agitação da vida madrilena.
Galícia e Astúrias, no noroeste da
península Ibérica, são o outro lado da Espanha, o lado menos conhecido pelo visitante estrangeiro, uma região em que a topografia é o destino.
Isoladas entre as montanhas e o
mar bravio, as duas Províncias
desenvolveram vocação para a
autonomia e tiveram condições
de preservar identidades próprias, o que pode ser percebido na
história, na economia, na arquitetura, nas artes e até nas línguas.
Embora haja predominância da
presença medieval, como na
maior parte da Espanha, a paisagem da Galícia e de Astúrias é influenciada também pela cultura
celta. Lendas, rituais, magias e
uma parte do vocabulário local
remetem o turista de hoje a esse
povo de origem indo-européia
que dominou a região desde o segundo milênio antes de Cristo até
o Império Romano esticar suas
fronteiras ao "fim da terra", o cabo Finnesterre, o ponto mais ocidental da Espanha.
A confluência de culturas remotas cria um ambiente único. É
possível, por exemplo, contemplar a catedral de Santiago de
Compostela, um dos mais importantes santuários católicos do
mundo, ao som da tradicional
gaita de fole, instrumento típico
dos povos adoradores de pedras
em templos encantados.
Não há sincretismo de cultos,
como no Brasil, mas uma sobreposição que impregna os caminhos salpicados de cruzes cristãs e
de dólmenes neolíticos.
O brasileiro não demora para
começar a se sentir em casa na
Galícia. Se o castelhano nunca foi
uma barreira para o turista do
Brasil, o galego, a língua oficial da
Província, é uma ponte que leva
ao português. O inevitável "portunhol" ganha eficiência na Galícia. Compre um exemplar do jornal "Galicia Hoxe", por 1, e veja
como é grande a semelhança linguística. Troque o jota pelo xis
("hoxe" em vez de "hoje") e terá
vencido uma das principais distâncias fonéticas entre o galego e o
português.
Antes de fazer as malas, porém,
o turista deve se lembrar de que o
noroeste do país, banhado pelo
oceano Atlântico, e o norte, que
dá para o mar Cantábrico, estão
emergindo de uma catástrofe
"ecolóxica" provocada pelo naufrágio do petroleiro Prestige, em
novembro do ano passado.
No local que traz uma advertência no próprio nome -a costa da
Morte-, a embarcação se acidentou, partindo-se em duas, e
deixou vazar milhares de toneladas de petróleo a mais de 200 quilômetros do litoral da Galícia. Levada pela maré, a mancha negra
atingiu muitas praias da região,
ameaçando a diversificada fauna
marinha, base da elogiada gastronomia galega e asturiana.
As consequências do desastre
ainda ocupam lugar de destaque
na pauta nacional (leia abaixo).
No final de junho, o rei Juan Carlos esteve na região para acompanhar os trabalhos de limpeza, que,
em algumas praias, precisa ser feito até duas vezes por dia. O programa de recuperação da área
consumiu, em seis meses, cerca
de 700 milhões, o que ambientalistas e oposicionistas consideram insuficiente.
Em janelas de casas e vitrines
das lojas vê-se afixado, com frequência, um cartaz com o dizer
"Nunca Máis". Trata-se da parte
mais visível de um amplo movimento popular que pressiona o
governo por uma ação ecológica
mais efetiva. Em julho, quando a
pesca foi retomada na costa da
Morte, o grupo ambientalista distribuiu cartazes alertando a população para os perigos da poluição.
O consumo de peixes e de frutos
do mar não diminuiu, segundo a
Associação Comercial de Codificação Comercial, que divulgou
um estudo segundo o qual o consumidor, apesar do vazamento de
petróleo, manteve a confiança nos
mariscos. Em um giro pelas duas
Províncias, um grupo de jornalistas brasileiros pôde constatar que
os restaurantes continuam servindo polvo, lula, lagosta, enguia,
mexilhões e crustáceos.
Para não correr o risco de se decepcionar, o visitante brasileiro
também precisa levar em conta a
intempérie. O fato é que chove
muito na região, e, não por outro
motivo, as duas Províncias são
conhecidas como a "Espanha
Verde". Em julho, no verão, a média mensal é superior a 50 milímetros, enquanto em cidades do
Mediterrâneo praticamente não
chove. Mas não se deve desanimar: um dia de chuva aparentemente sem fim pode terminar
com um irisante pôr-do-sol depois das dez horas da noite.
Feitas as ressalvas, uma boa notícia: Galícia e Astúrias são regiões
relativamente baratas. Hotéis e
restaurantes custam menos do
que nas regiões mais visitadas da
Espanha. Uma comparação mais
precisa pode ser arriscada, porque é difícil precisar equivalência
entre estabelecimentos, mas a população local estima uma diferença de 20% a 30% nos preços.
Isso se dá, em parte, pelo fato de
o turismo galego e asturiano estar
voltado, sobretudo, para o visitante espanhol. Para quem prefere o regional ao globalizado, trata-se de uma vantagem adicional.
Oscar Pilagallo viajou a convite do Centro Oficial de Turismo Espanhol (SP), da
Tour Galícia, da Sociedade Regional de
Turismo do Principado de Astúrias e da
Ibéria Linhas Aéreas.
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