São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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VALE ENCANTADO
Chamerolles fica temático e explica ao visitante por que o francês não toma banho
Castelo faz passeio por perfumes

do enviado especial ao Vale do Loire

O Château de Chamerolles foi um dos primeiros castelos do Vale do Loire a sentir o odor dos novos tempos. Situado em região de grande produção de perfumes, o castelo foi um dos primeiros que percebeu no ar que história não era o suficiente para atrair hordas turísticas.
E história, no sentido turístico, nunca foi o forte de Chamerolles. Nenhum rei usou suas dependências, nenhuma rainha viveu em seus aposentos, nem mesmo alguma amante real passou por sua ponte levadiça.
Assim, Chamerolles foi um dos primeiros a apostar na "disneyficação" cultural e virar uma espécie de castelo temático.
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Parque dos perfumes Em 1992, o castelo abre depois de longa reforma e logo se projeta como o "Château Promenade des Parfums". No "Castelo do Passeio dos Perfumes", o turista não vai escutar nada sobre Henrique 2º ou Francisco 1º. Ele só vai aprender sobre como os europeus se relacionavam com os cheiros a partir do século 15, o que não é pouco.
A primeira sala do passeio dos perfumes, por exemplo, mostra que no século 15 as atividades de cama, mesa e banho, todas elas, eram realizadas no mesmo quarto.
O século seguinte marca a decadência da arte de se banhar. Em tempos puritanos de contra-reforma, a igreja decide combater os banhos públicos, que passam a ser considerados imorais.
Cem anos adiante, a medicina divulga que na água quente os poros se dilatariam e permitiriam a entrada de micróbios.
Os franceses passam a colocar perfumes em pequenas toalhinhas para se limpar "a seco". Nasce assim o termo "toilette" (toalha pequena, em francês).
O tour continua, e a guia fala sobre o surgimento do banheiro, sobre a construção das primeiras indústrias de perfume, sobre o surgimento das primeiras essências para homens...
O passeio termina de maneira a ficar claro que, para o castelo de Chamerolles, não falta faro para os negócios. Antes de chegar à saída, o visitante, e são 65 mil deles por ano, tem de passar por uma loja que vende quase 200 tipos de perfume. (CASSIANO ELEK MACHADO)



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