São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra tem linguagem revolucionária

DA ENVIADA ESPECIAL

"Os Sertões" chocou os círculos intelectuais da República. A obra é apontada como revolucionária por sua linguagem épica, densa, sinuosa. Para narrar a Guerra de Canudos, que acabara em 1897, cinco anos antes da publicação do livro, Euclides da Cunha fez uma análise minuciosa da natureza e do homem do sertão, que vinha ilustrada por desenhos de paisagens e mapas geológicos, botânicos e geográficos e por fotografias de Flávio de Barros.
Se como correspondente do jornal "O Estado de S.Paulo" ele tinha sido muitas vezes omisso em contar o massacre dos sertanejos pelos militares republicanos, em "Os Sertões" fez um retrato contundente da guerra.
Dividiu o livro em três partes: "A Terra", "O Homem" e "A Luta". Tratou em "A Terra" da geologia e da geografia do sertão baiano; em "O Homem", das origens do americano, da formação racial do sertanejo. Explicou a guerra como o resultado do choque entre dois processos de mestiçagem, a litorânea e a sertaneja. Em "A Luta" denunciou o governo e o Exército pela destruição da comunidade sertaneja e pela degola dos prisioneiros, realizadas em nome da República.
Euclides mostra, amparado no positivismo e no darwinismo social, que o fanatismo religioso e o conflito expressavam a revolta de uma população miserável, ignorada por um sistema que lhe exigia fidelidade sem a amparar. Seu líder, o cearense Antônio Conselheiro, começara a perambular pelo sertão em 1874 e instalou-se em Canudos após nove anos. O beato proibia que bêbados, prostitutas, ladrões e republicanos morassem no povoado, com 5.000 habitantes. Os coronéis perderam o controle e denunciaram o local às autoridades como se fosse um antro de monarquistas.
O primeiro conflito armado foi em 1896, quando Canudos sofreu um ataque de cem soldados, derrotados por mil jagunços armados precariamente. A segunda expedição tinha 543 soldados e 14 oficiais, e a terceira, 1.300 homens, todos derrotados. A batalha final começou em junho de 1897, com 5.000 soldados comandados pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães, e se estendeu até 5 de outubro, quando Canudos foi totalmente destruído e a população, dizimada. Calcula-se que 15 mil pessoas foram mortas. (MD)


Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: Cidade dedica semana a autor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.