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Obra tem linguagem revolucionária
DA ENVIADA ESPECIAL
"Os Sertões" chocou os círculos
intelectuais da República. A obra
é apontada como revolucionária
por sua linguagem épica, densa,
sinuosa. Para narrar a Guerra de
Canudos, que acabara em 1897,
cinco anos antes da publicação do
livro, Euclides da Cunha fez uma
análise minuciosa da natureza e
do homem do sertão, que vinha
ilustrada por desenhos de paisagens e mapas geológicos, botânicos e geográficos e por fotografias
de Flávio de Barros.
Se como correspondente do jornal "O Estado de S.Paulo" ele tinha sido muitas vezes omisso em
contar o massacre dos sertanejos
pelos militares republicanos, em
"Os Sertões" fez um retrato contundente da guerra.
Dividiu o livro em três partes:
"A Terra", "O Homem" e "A Luta". Tratou em "A Terra" da geologia e da geografia do sertão
baiano; em "O Homem", das origens do americano, da formação
racial do sertanejo. Explicou a
guerra como o resultado do choque entre dois processos de mestiçagem, a litorânea e a sertaneja.
Em "A Luta" denunciou o governo e o Exército pela destruição da
comunidade sertaneja e pela degola dos prisioneiros, realizadas
em nome da República.
Euclides mostra, amparado no
positivismo e no darwinismo social, que o fanatismo religioso e o
conflito expressavam a revolta de
uma população miserável, ignorada por um sistema que lhe exigia fidelidade sem a amparar. Seu
líder, o cearense Antônio Conselheiro, começara a perambular
pelo sertão em 1874 e instalou-se
em Canudos após nove anos. O
beato proibia que bêbados, prostitutas, ladrões e republicanos
morassem no povoado, com
5.000 habitantes. Os coronéis perderam o controle e denunciaram
o local às autoridades como se
fosse um antro de monarquistas.
O primeiro conflito armado foi
em 1896, quando Canudos sofreu
um ataque de cem soldados, derrotados por mil jagunços armados precariamente. A segunda expedição tinha 543 soldados e 14
oficiais, e a terceira, 1.300 homens,
todos derrotados. A batalha final
começou em junho de 1897, com
5.000 soldados comandados pelo
general Artur Oscar de Andrade
Guimarães, e se estendeu até 5 de
outubro, quando Canudos foi totalmente destruído e a população,
dizimada. Calcula-se que 15 mil
pessoas foram mortas.
(MD)
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