São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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Roteiro das pingas ainda não está estruturado, e fabricantes locais têm comportamento inocente

Prosa acanhada dá mais graça a alambiques

DA ENVIADA A SÃO JOSÉ DO RIO PARDO

Desde que a porquinha Chica nasceu, há quatro meses, Pascoal Mantovani, 70, tem uma companheira no trabalho. Apesar de não fazer mais o serviço pesado da feitura artesanal da pinga, o que aprendeu aos oito anos, Mantovani acompanha o trabalho dos filhos que tocam o alambique com o nome da família. Chica segue o dono como um cachorro. De tão acostumada, a porquinha só falta latir. Deita, pede carinho, espreguiça sobre o bagaço da cana. E corre em direção a Mantovani.
Em São José do Rio Pardo, são cinco os alambiques de pinga artesanal. O departamento de turismo da cidade quer montar um roteiro da pinga, embora não haja nada formalmente estruturado.
Com isso, o visitante dos alambiques não é atormentado por pessoas querendo vender seu produto a qualquer custo. Por outro lado, a estrutura rudimentar pode causar espanto: em muitos alambiques, a pinga é comercializada em garrafas de plástico.
Além de a pinga rio-pardense ser de boa qualidade, o que conquista nos alambiques é a falta de pressa dos seus proprietários. Com paciência, eles explicam o processo da fabricação da bebida, contam histórias de suas vidas e o motivo de estarem lá.
E é uma delícia perceber que a pouco mais de três horas da maior metrópole do país ainda existam pessoas como José Ricardo Giovanelli, 42, dono do alambique que leva seu sobrenome. Descendente de italianos que foram para São José do Rio Pardo e começaram seu negócio com a produção de rapadura, ele preferiu apostar na pinga, que vende para consumidores da região.
Quando chega um visitante diferente, ele se sente intimidado, com um olhar envergonhado, meio sem jeito, como se o outro fosse mais importante do que ele. Mas é só começar um bate-papo sobre o assunto que Giovanelli mais entende, o feitio da pinga, que ele explica tudo.
O mais interessante é que, apesar de seu alambique ter uma pequena área para visitantes com placas informando os valores do litro (R$ 2,50) e do garrafão (R$ 12) e um alerta de que lá não se vende fiado, a ingenuidade de Giovanelli não lhe permite evitar que um conhecido leve um garrafão sem pagar ou que os visitantes saiam do local sem degustar um golinho da bebida.
As informações sobre os alambiques podem ser obtidas na Casa Euclidiana, onde funciona o departamento de turismo da cidade (veja tel. na pág. F7).
(MIRELLA DOMENICH)


Alambiques - Giovanelli: sítio Paula Lima, ao lado do trevo de entrada da cidade, tel. 0/xx/19/3608-3664; da Lage: r. Henry Nestlé, 404, tel. 0/xx/19/3608-5334; Mantovani: sítio Recreio, rod. SP-350, km 268, sentido São José do Rio Pardo-Guaxupe, tel. 0/xx/19/3608-2901.


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