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BOM DIA, TURISMO
"Rezo por menos censura", diz diretor
Jovem cineasta, Di teve curta selecionado pelo Festival de Veneza, mas governo barrou sua participação
MARINA DELLA VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL
Exclusividade de estúdios estatais até 2003, o cinema vietnamita vive fase de renovação
após surgimento de produções
privadas. Apesar da maior liberdade, o governo continua a
controlar o que é visto no país
por meio da censura.
Um dos nomes de destaque
nessa revigoração do cinema do
Vietnã -cenário de inúmeros
filmes de guerra- é o diretor
Phan Dang Di, de 32 anos. Seu
curta "Khi Toi 20" (quando eu
tiver 20 anos) foi selecionado
para o Festival de Veneza em
2008. Di, porém, foi proibido
pelo governo vietnamita de levar o filme ao festival.
O Departamento de Cinema
Vietnamita permitiu apenas a
exibição restrita do curta (no
qual um rapaz sabe que sua namorada trabalha como prostituta) sob a alegação de que o filme "vai contra as tradições e
costumes" vietnamitas.
O festival decidiu contrariar
o governo vietnamita e exibir o
curta, utilizando o DVD enviado na fase de seleção. O filme,
sem legendas, pode ser visto no
link http://homepage.mac.com/tbn1977/.Public/DI/khi%20toi%2020%20104M.mov.
O primeiro longa de Di, "Bi,
Don't Be Afraid", cujas filmagens começam em junho, foi
selecionado para o programa
L'Atelier do Festival de Cannes
e recebeu 50 mil do World
Cinema Fund do Festival de
Berlim em 2008. Leia trechos
da entrevista exclusiva que Di
concedeu à Folha, por e-mail.
FOLHA - Como você vê o episódio
do Festival de Veneza?
PHAN DANG DI - Fiquei um pouco desapontado por não poder
ir a Veneza. Qualquer um iria
adorar visitar Veneza ao menos
uma vez na vida. Ir com meu filme seria ainda mais lindo. De
qualquer modo, a chance se foi.
Felizmente ainda sou jovem e
cheio de energia para novos
projetos. Estou confiante ao
afirmar que devo ter outra
chance de voar a Veneza um
dia, talvez com um longa-metragem. Também rezo para que
a questão da censura no Vietnã
seja menos restritiva, assim jovens diretores deste país poderão apresentar seus trabalhos
"made in Vietnã" pelo mundo.
Embora "Khi Toi 20" não tenha permissão para ser exibido
pelo país, ele pode ser visto no
centro para assistência e desenvolvimento de jovens talentos do cinema no Vietnã, onde
fãs de cinema têm acesso fácil a
ele e podem assisti-lo legalmente. Até onde eu sei, o filme
foi colocado na internet há cerca de seis meses.
FOLHA - Como é o relacionamento
do governo vietnamita com a cena
cinematográfica? De que modo esse
tipo de interferência ocorre?
DI - Antes de 2003, os estúdios
do Vietnã eram estatais, cineastas recebiam um orçamento do
governo para produzir filmes
como ordem do Estado. Desde
2003, quando o governo aprovou o estabelecimento de estúdios privados, o mercado ficou
mais agitado que nunca. Os cineastas têm mais chances e opções. Mais chances significam
mais liberdade para os cineastas, mas isso não significa que
eles podem fazer qualquer coisa. O governo ainda tem o controle dos estágios finais: censura antes da ampla exibição.
FOLHA - A Guerra do Vietnã é assunto explorado exaustivamente
em filmes dos EUA. Como você vê o
modo como o país é retratado?
DI - Há muitas obras-primas
norte-americanas sobre épicos
da Guerra do Vietnã, como
"Apocalypse Now" (Francis
Ford Coppola), "Nascido para
Matar" (Stanley Kubrick),
"Platoon", "Entre o Céu e a
Terra", "Nascido em 4 de Julho" (Oliver Stone). Do ponto
de vista de um cineasta, sou
atraído por essas visões que
transmitem uma linguagem cinematográfica tão impressionante. Para mim, eles significam muito mais que simplesmente assistir como esses cineastas monstraram meu país.
FOLHA - Você pode nos falar um
pouco sobre a tradição cinematográfica do Vietnã?
DI - Os filmes clássicos vietnamitas eram muitas vezes ligados a temas de guerra. Atualmente, embora a guerra não seja mais um tópico quente, eu
escolheria "When Will October
Come", de Dang Nhat Mihn
(1884), como o filme mais representativo. Ele conta a história de uma mulher cujo marido
morre na guerra. Com medo de
que seu sogro não consiga superar a notícia, ela pede a um
professor para escrever cartas
em nome de seu marido.
FOLHA - Qual a importância do cinema dentro da cultura vietnamita?
Qual o volume de produção, e como
é a recepção do público em geral?
DI - O cinema foi a forma de
entretenimento mais popular
no Vietnã desde a guerra até os
anos 1980. Durante esse tempo,
cinemas móveis percorreram o
país mostrando filmes vietnamitas, russos, chineses e da Europa Oriental. As coisas mudaram no começo dos anos 1990,
a maioria das famílias tem uma
TV, que se tornou a principal
prioridade. Cerca de 80% dos
cinemas fecharam, e houve um
tempo em que o Vietnã produzia apenas três filmes por ano.
Em 2003 os estúdios privados
começaram a atuar, e o mercado chegou ao ponto decisivo.
Atualmente, cerca de dez filmes são produzidos a cada ano.
FOLHA - Quais locais você recomendaria a um turista no país?
DI - O Vietnã tem uma longa
costa de 1.600 km. A maioria
dos resorts está localizado perto da praia, como Phu Quoc,
Nha Trang. Halong Bay é reconhecida como um dos locais
mais lindos do mundo. Sua
imagem apareceu em filmes como "Indochina", de Régis
Wargnier, e "As Luzes de um
Verão", de Tran Anh Hung. Turistas na região central devem
visitar três sítios históricos:
Hue, Hoi An e My Son.
FOLHA - E quais experiências você
recomenda aos viajantes?
DI - Explorar a área montanhosa no norte, na fronteira
com a China. E descobrir a cozinha vietnamita é um motivo
atraente o bastante para comprar as passagens imediatamente.
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