São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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internacional/japão

Tezuka, marco para a história do mangá, nasceu há 80 anos

BIOGRAFIA Entre as obras mais conhecidas do artista japonês estão o personagem Astro Boy e a biografia de Buda

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mais "ofensivo" já dito sobre Osamu Tezuka (1928-1989) é que seria o "Disney japonês", diz Rogério de Campos, diretor da Conrad, que publicou no Brasil biografia em quadrinhos sobre o artista japonês e suas obras "Adolf" e "Buda".
Walt Disney (1901-1966), criador de Mickey e tantos outros personagens nos quadrinhos e animação, foi referência no desenvolvimento destas artes. Segundo Patrícia Maria Borges, que estuda mangás e animes há 14 anos e é doutora no assunto, Tezuka, como os outros japoneses, se "encantou" com os trabalhos de Disney: "Tanto que "A Princesa e o Cavaleiro" é muito parecido com "Branca de Neve'".
Mas Campos explica que, enquanto Disney restringiu-se ao universo infantil e participava como informante na caça aos comunistas (informações do FBI, Birô de Investigações dos EUA); Tezuka, ao lado da liberdade, não permitiu isso: "Ele lutou contra a censura no Japão, publicando um artigo e histórias de todo tipo, inclusive adultas e eróticas".
O diretor da Conrad e estudioso de quadrinhos acredita que essa atitude libertária de Tezuka é um motivo fundamental para que, hoje, o mercado de quadrinhos no Japão seja 17 vezes maior que nos Estados Unidos e 33 vezes maior que o europeu, encarado como leitura para todo tipo de público.
Patrícia considera mesmo que o artista japonês "revolucionou" a linguagem, com histórias baseadas em fatos reais e fantasiosos" e ângulos cinematográficos, enfatizando a dramaticidade das relações sociais.
Mas ela diz que a universalização dos mangás fez parte do processo de ocidentalização do Japão, em que se conseguiu colocar aspectos que fossem apreciados em todo o mundo.

Biografias
Sua obra "Adolf" (1983-85), por exemplo, envolve a delicada amizade, no Japão, entre o filho de um diplomata nazista e o filho de judeus, ambos chamados Adolf; e o desaparecimento, durante as Olimpíadas de Berlim, no governo de Adolf Hitler, do irmão de um repórter japonês. "Isto poderia até ser um filme do Orson Welles", compara o diretor da Conrad.
Tezuka também mostra preocupações humanistas e pelos animais; tanto em "Kimba, o Leão Branco" (1950-54) como em "Buda" (1974-84), que talvez seja a maior biografia em quadrinhos já publicada, enfatiza questões pacifistas, incluindo a idéia de os outros animais serem tão merecedores de viver como os humanos.
Posteriormente, foi Tezuka que influenciou a indústria Disney, como com o lançamento do filme "O Rei Leão" (1994), que guarda muitas características de Kimba, a começar pelo nome do protagonista, Simba: ambas as histórias contam a vida do filho de um rei leão que precisa superar obstáculos.

Mangás de trás pra frente
O público brasileiro hoje está conhecendo os mangás, os quadrinhos japoneses, pelo final, conta Campos; apesar de os brasileiros apreciarem obras populares como Dragon Ball Z, Evangelion, Cavaleiros do Zodíaco, entre outras, seria necessário conhecer quem criou a gramática básica dos mangás.
A importância de Tezuka, médico que não exerceu a profissão e desenhou 150 mil páginas de quadrinhos em 600 títulos de mangas, além de 60 trabalhos de animação, de curtas a longa-metragens, transcende até mesmo o universo dos quadrinhos, pois também influenciou a moda e a cultura pop do Japão em geral. (MK)


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