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internacional/japão
Tezuka, marco para a história do mangá, nasceu há 80 anos
BIOGRAFIA Entre as obras mais conhecidas do artista japonês estão o personagem Astro Boy e a biografia de Buda
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mais "ofensivo" já dito sobre Osamu Tezuka (1928-1989)
é que seria o "Disney japonês",
diz Rogério de Campos, diretor
da Conrad, que publicou no
Brasil biografia em quadrinhos
sobre o artista japonês e suas
obras "Adolf" e "Buda".
Walt Disney (1901-1966),
criador de Mickey e tantos outros personagens nos quadrinhos e animação, foi referência
no desenvolvimento destas artes. Segundo Patrícia Maria
Borges, que estuda mangás e
animes há 14 anos e é doutora
no assunto, Tezuka, como os
outros japoneses, se "encantou" com os trabalhos de Disney: "Tanto que "A Princesa e o
Cavaleiro" é muito parecido
com "Branca de Neve'".
Mas Campos explica que, enquanto Disney restringiu-se ao
universo infantil e participava
como informante na caça aos
comunistas (informações do
FBI, Birô de Investigações dos
EUA); Tezuka, ao lado da liberdade, não permitiu isso: "Ele
lutou contra a censura no Japão, publicando um artigo e
histórias de todo tipo, inclusive
adultas e eróticas".
O diretor da Conrad e estudioso de quadrinhos acredita
que essa atitude libertária de
Tezuka é um motivo fundamental para que, hoje, o mercado de quadrinhos no Japão seja
17 vezes maior que nos Estados
Unidos e 33 vezes maior que o
europeu, encarado como leitura para todo tipo de público.
Patrícia considera mesmo
que o artista japonês "revolucionou" a linguagem, com histórias baseadas em fatos reais e
fantasiosos" e ângulos cinematográficos, enfatizando a dramaticidade das relações sociais.
Mas ela diz que a universalização dos mangás fez parte do
processo de ocidentalização do
Japão, em que se conseguiu colocar aspectos que fossem
apreciados em todo o mundo.
Biografias
Sua obra "Adolf" (1983-85),
por exemplo, envolve a delicada amizade, no Japão, entre o
filho de um diplomata nazista e
o filho de judeus, ambos chamados Adolf; e o desaparecimento, durante as Olimpíadas
de Berlim, no governo de Adolf
Hitler, do irmão de um repórter
japonês. "Isto poderia até ser
um filme do Orson Welles",
compara o diretor da Conrad.
Tezuka também mostra
preocupações humanistas e pelos animais; tanto em "Kimba,
o Leão Branco" (1950-54) como em "Buda" (1974-84), que
talvez seja a maior biografia em
quadrinhos já publicada, enfatiza questões pacifistas, incluindo a idéia de os outros animais serem tão merecedores de
viver como os humanos.
Posteriormente, foi Tezuka
que influenciou a indústria
Disney, como com o lançamento do filme "O Rei Leão" (1994),
que guarda muitas características de Kimba, a começar pelo
nome do protagonista, Simba:
ambas as histórias contam a vida do filho de um rei leão que
precisa superar obstáculos.
Mangás de trás pra frente
O público brasileiro hoje está
conhecendo os mangás, os quadrinhos japoneses, pelo final,
conta Campos; apesar de os
brasileiros apreciarem obras
populares como Dragon Ball Z,
Evangelion, Cavaleiros do Zodíaco, entre outras, seria necessário conhecer quem criou a
gramática básica dos mangás.
A importância de Tezuka,
médico que não exerceu a profissão e desenhou 150 mil páginas de quadrinhos em 600 títulos de mangas, além de 60 trabalhos de animação, de curtas a
longa-metragens, transcende
até mesmo o universo dos quadrinhos, pois também influenciou a moda e a cultura pop do
Japão em geral. (MK)
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