|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artista fez de tudo para "tirar a pintura da tela"
NO RIO DE JANEIRO
Quem não se dá com nomenclaturas, mas se interessa pela arte
brasileira pode chamar Hélio Oiticica de um novidadeiro amalucado que desejava ver as pessoas
metendo a mão em suas obras ou
até entrando nelas.
O carioca que morou em Washington, Londres e Nova York era
dado a invencionices, às quais batizava com nomes como bólides,
parangolés, metaesquemas e penetráveis.
Nascido em 1937, Oiticica estudou pintura e desenho com Ivan
Serpa no MAM-RJ (Museu de Arte Moderna). Ele e seu irmão, César, iam juntos às aulas, em 1954.
Já no primeiro ano em que tomou essas lições, ele escreveu um
texto sobre artes plásticas. E nunca mais parou. Escreveu e produziu até morrer, em 1980.
Entrou e saiu do grupo Frente
(1955-56) e entrou no Neoconcreto (a partir de 1959).
Então, teimou em deslocar a
pintura do quadro para objetos
ou roupas. E começou com as tais
invencionices. Criou "Relevos Espaciais", formas coloridas penduradas no teto por fiozinhos, "Penetráveis", labirintos de madeirite, panos e outros materiais, com
cores e sons em sequências pensadas, e Parangolés (leia texto ao lado), entre outras criações.
O artista se aventurou também
pelo cinema e pela fotografia.
Em 1964, Oiticica revela um outro talento: vira passista da Estação Primeira de Mangueira.
Com toda essa agitação e ziriguidum, ele armou um barraco
uma vez. Foi na abertura da mostra Opinião 65, no MAM-RJ,
quando chamou seus amigos da
Mangueira, que foram impedidos
de entrar. Ele protestou e foi expulso do museu. Enfezado, decidiu organizar uma manifestação.
Então, vestiu seus amigos com os
Parangolés e foram todos para a
frente do museu protestar contra
o ato de discriminação.
Na década de 70, ele ganhou
uma bolsa da Fundação Guggenheim e mudou-se para Nova
York. Continuou produzindo
nessa metrópole. Foi lá que surgiu
a série Cosmococa, exposta na Pinacoteca do Estado de São Paulo
neste ano. Feitos em parceria com
o cineasta Neville d'Almeida, os
trabalhos tinham a cocaína como
uma de suas matérias-primas,
maquiando e mascarando capas
de revistas e de jornais.
Depois de sua morte, Lygia Pape, Waly Salomão e Luciano Figueiredo fizeram o Projeto Hélio
Oiticica para preservar e analisar
o que ele produziu. Em 1996, foi
criado o Centro de Arte Hélio Oiticica para colocar suas obras à
disposição de todos.
(HL)
Texto Anterior: Obras esperam para ser tocadas e vestidas Próximo Texto: Bar deu pontapé na venda de chope na cidade Índice
|