São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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ARLES DAS ARTES
Quadros do artista retratam a região da Provença, cuja cultura popular abriga até touradas
Van Gogh enxergou outra luz na cidade

LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
enviado especial à França

Mesmo que se queira, é difícil falar de Arles (França) sem citar Van Gogh. O motivo principal -mas não exclusivo- é a enorme quantidade de girassóis decorando o que quer que seja. Desde toalhas de mesa de restaurantes, porcelanas e infinitos tipos de pôsteres nas lojas até camisas e vestidos dos habitantes locais.
Van Gogh se mudou para a cidade em fevereiro de 1888 decidido a ver uma outra luz. E conseguiu. Foram exatamente a luz e as formas da região da Provença que Van Gogh explorou em seus quadros. Uma de suas obras mais conhecidas, "A Arlesiana", retrata uma habitante da cidade.
No Hôtel-Dieu (uma espécie de Santa Casa, construído em 1573), o pintor foi internado em 1888, quando cortou sua própria orelha após as disputas com Gauguin.
Em fevereiro de 1889, Van Gogh voltou a ser internado no local a pedido de seus vizinhos, que julgavam-no louco. Hoje, no Hôtel-Dieu funciona o Espace Van Gogh, uma fundação destinada à obra do artista que foi aberta ao público em 1989. O jardim interno do lugar foi refeito -com as flores que existiam à época- baseado na tela "O Jardim da Casa de Saúde de Arles", do artista.
Arles também tem participação importante na cultura, digamos, "popular". Foi ali que nasceu, em 1830, Fréderic Mistral, o poeta que defendeu a língua da Provença, na época em que as línguas regionais eram combatidas na França. Mistral foi o autor de "Mireille", poema épico que virou ópera pelas mãos de Charles Gounod em 1864.
No Museon Arlaten, criado pelo poeta em 1896 e dedicado à etnografia da região, pode-se ver a preocupação que Mistral tinha com a perda da identidade provençal. Com o dinheiro do Prêmio Nobel que ganhou em 1904, ele organizou o museu para mostrar o cotidiano da vida da Provença antiga.

Festa e jogo
Em Arles cultura popular também é festa e jogo. Quase vizinhos, estão na cidade dois importantes remanescentes da civilização romana: o anfiteatro e o teatro, ambos utilizados até hoje.
As touradas locais -nas quais o touro não é morto- acontecem no anfiteatro, com capacidade para 20 mil pessoas. Shows de música e concertos são realizados no teatro, onde "só" cabem 12 mil.
E se o touro não for considerado apto para entrar numa tourada? Não tem problema. A "gardiane de taureau", carne de touro cozida no vinho com arroz, é um dos pratos mais famosos da região.


Luiz Antonio Del Tedesco viajou a convite Maison de la France e da Air France


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