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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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Tzintzuntzan não sucumbiu ao domínio asteca

DO ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO

A história dos conflitos de expansão territorial no México começou antes da chegada do colonizador espanhol e prosseguiu mesmo depois da independência. Foi selada com a anexação pelos EUA, ainda no século 19, de uma área que abrange do Texas à Califórnia, de proporções comparáveis ao tamanho atual do país.
A tradição guerreira vem de muito antes, porém. Remonta, pelo menos, ao recorte final (pós-clássico) do período mesoamericano -o que, trocando em miúdos, abarca do ano de 900 até a chegada do espanhol, ou seja, uns bons seis séculos de diversão. O patrimônio arqueológico ajuda a contar essa história, não só em regiões antes ocupadas pelos astecas, no centro-sul do país.
Michoacán guarda modestas ruínas. Nada comparável ao complexo zapoteca de Monte Albán, no vale de Oaxaca, ou ao suntuoso palácio e às pirâmides maias de Palenque, ambas no sul do país.
O mais antigo sítio arqueológico do Estado é o de Tinganio, em Santiago Tingambato, a 37 km de Pátzcuaro. Estima-se que as construções tenham sido feitas em duas etapas, a primeira entre os anos de 450 e 600 e a outra daí a 900. São, portanto, anteriores à civilização purépecha.
O conjunto está mais bem conservado ali do que na média da região. O que resistiu à pilhagem do colonizador (que muitas vezes usou material dos templos indígenas para construir suas igrejas) foi maltratado pelo tempo ou por frequentadores.
As construções mais importantes do legado purépecha estão nas cidades de Tzintzuntzan e Ihuatzio. Eram as bases do território daqueles que entraram para a história como os mais duros inimigos dos astecas, que nunca se deixaram conquistar. Mas seus monumentos estão aquém do passado bravio. Dilapidados, são visitados apenas parcialmente.

Rádio purépecha
Tzintzuntzan era o centro do poder purépecha -uma etnia que, estima-se, tenha cerca de 120 mil descendentes hoje. A língua purépecha ainda é largamente falada. Há até uma rádio que transmite exclusivamente nela.
O nome esquisito da cidade-satélite já dá pista de que o idioma espanhol é uma referência distante, assim como outras línguas indígenas mexicanas. O termo tzintzuntzan, para ter idéia, quer dizer "lugar de colibris". O império purépecha (ou tarasco, como o chamavam os espanhóis, numa generalização do termo usado para designar os chefes do grupo) ocupou larga fatia do oeste mexicano. Começou a tomar forma entre os séculos 13 e 14, quando ainda era nômade. Depois, desenvolveram agricultura e pesca.
Os purépechas chegavam a somar 40 mil habitantes no início do século 16, na chegada do colonizador. O espanhol sequer gastou munição para reduzir a população drasticamente. Vitimados pela varíola, no final do século eles eram apenas 8.000.
As ruínas de Tzintzuntzan já foram o principal templo tarasco. Suas cinco plataformas eram, cada uma, dedicada a uma divindade -sempre associada a um elemento da natureza ou a uma virtude, como a capacidade de semear ou de guerrear, de criar vida ou de decretar a morte. O principal deus era Curícaueri.
A praça cerimonial incluía palácio e altar, com cinco yácatas ("pedras arredondadas"), como eram chamadas as construções de formas retangulares e semicirculares. A base das construções é feita em pedras retangulares vulcânicas, chamadas de "xanamu".
Era sobre essas plataformas que ficavam os templos. Todo o entorno era, originalmente, cercado por uma muralha de pedra. Do alto de Tzintzuntzan avista-se o lago de Pátzcuaro e sua principal ilha, Janitzio, hoje com 5.000 habitantes. Em dias menos nebulosos, é possível ver dali a estátua erguida na ilhota em homenagem ao mártir José María Morelos. (ISRAEL DO VALE)


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