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Tzintzuntzan não sucumbiu ao domínio asteca
DO ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO
A história dos conflitos de expansão territorial no México começou antes da chegada do colonizador espanhol e prosseguiu
mesmo depois da independência.
Foi selada com a anexação pelos
EUA, ainda no século 19, de uma
área que abrange do Texas à Califórnia, de proporções comparáveis ao tamanho atual do país.
A tradição guerreira vem de
muito antes, porém. Remonta,
pelo menos, ao recorte final (pós-clássico) do período mesoamericano -o que, trocando em miúdos, abarca do ano de 900 até a
chegada do espanhol, ou seja, uns
bons seis séculos de diversão. O
patrimônio arqueológico ajuda a
contar essa história, não só em regiões antes ocupadas pelos astecas, no centro-sul do país.
Michoacán guarda modestas
ruínas. Nada comparável ao complexo zapoteca de Monte Albán,
no vale de Oaxaca, ou ao suntuoso
palácio e às pirâmides maias de
Palenque, ambas no sul do país.
O mais antigo sítio arqueológico do Estado é o de Tinganio, em
Santiago Tingambato, a 37 km de
Pátzcuaro. Estima-se que as construções tenham sido feitas em
duas etapas, a primeira entre os
anos de 450 e 600 e a outra daí a
900. São, portanto, anteriores à civilização purépecha.
O conjunto está mais bem conservado ali do que na média da região. O que resistiu à pilhagem do
colonizador (que muitas vezes
usou material dos templos indígenas para construir suas igrejas) foi
maltratado pelo tempo ou por
frequentadores.
As construções mais importantes do legado purépecha estão nas
cidades de Tzintzuntzan e Ihuatzio. Eram as bases do território
daqueles que entraram para a história como os mais duros inimigos dos astecas, que nunca se deixaram conquistar. Mas seus monumentos estão aquém do passado bravio. Dilapidados, são visitados apenas parcialmente.
Rádio purépecha
Tzintzuntzan era o centro do
poder purépecha -uma etnia
que, estima-se, tenha cerca de 120
mil descendentes hoje. A língua
purépecha ainda é largamente falada. Há até uma rádio que transmite exclusivamente nela.
O nome esquisito da cidade-satélite já dá pista de que o idioma
espanhol é uma referência distante, assim como outras línguas indígenas mexicanas. O termo
tzintzuntzan, para ter idéia, quer
dizer "lugar de colibris". O império purépecha (ou tarasco, como
o chamavam os espanhóis, numa
generalização do termo usado para designar os chefes do grupo)
ocupou larga fatia do oeste mexicano. Começou a tomar forma
entre os séculos 13 e 14, quando
ainda era nômade. Depois, desenvolveram agricultura e pesca.
Os purépechas chegavam a somar 40 mil habitantes no início do
século 16, na chegada do colonizador. O espanhol sequer gastou
munição para reduzir a população drasticamente. Vitimados pela varíola, no final do século eles
eram apenas 8.000.
As ruínas de Tzintzuntzan já foram o principal templo tarasco.
Suas cinco plataformas eram, cada uma, dedicada a uma divindade -sempre associada a um elemento da natureza ou a uma virtude, como a capacidade de semear ou de guerrear, de criar vida
ou de decretar a morte. O principal deus era Curícaueri.
A praça cerimonial incluía palácio e altar, com cinco yácatas
("pedras arredondadas"), como
eram chamadas as construções de
formas retangulares e semicirculares. A base das construções é feita em pedras retangulares vulcânicas, chamadas de "xanamu".
Era sobre essas plataformas que
ficavam os templos. Todo o entorno era, originalmente, cercado
por uma muralha de pedra. Do alto de Tzintzuntzan avista-se o lago de Pátzcuaro e sua principal
ilha, Janitzio, hoje com 5.000 habitantes. Em dias menos nebulosos, é possível ver dali a estátua erguida na ilhota em homenagem
ao mártir José María Morelos.
(ISRAEL DO VALE)
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