São Paulo, segunda, 16 de novembro de 1998

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POR DENTRO DA COSTA DO DESCOBRIMENTO
Arqueologia desenterra história do Brasil

da enviada especial a Porto Seguro

Um projeto de mapeamento arqueológico na região de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália está desenterrando uma história que o Brasil ainda não conhece. Por meio desse trabalho, estão surgindo fragmentos de civilizações brasileiras das épocas pré e pós-descobrimento.
Até agora 22 sítios arqueológicos foram localizados. Os mais antigos são os do tipo sambaqui, que indicam a existência de culturas anteriores à dos índios tupis, que habitavam o litoral do país na época do descobrimento.
Foram encontrados também sítios pré-históricos, que dizem respeito às civilizações indígenas da época da chegada dos portugueses, além de sítios históricos, que revelam resquícios da cultura européia trazida para o Brasil.
Há ainda os sítios de contato, que indicam a convivência entre índios e europeus. Por fim, há os sítios de engenho de açúcar. Muitos fragmentos já foram resgatados nesses lugares, principalmente de cerâmica indígena e européia.
A maior peça achada até agora foi uma urna funerária indígena, encontrada atrás da igreja de São João Batista, em Trancoso.
"Não sabemos ainda se a urna data do período pré ou pós-descobrimento", diz a arqueóloga Leticia de Barros Mota, 27, que faz parte do grupo de cinco arqueólogos que coordena o trabalho de mapeamento dos sítios.
A urna foi encontrada em agosto, por um morador de Trancoso. Ele estava cavando uma área para plantar coqueiros e de repente sentiu que havia batido em uma parte oca. O morador resolveu desenterrar o objeto e depois chamou a equipe de arqueólogos.
"Quando chegamos, a peça já estava quase toda desenterrada. A população se reuniu em volta do desenterramento e acompanhou todo o processo. Muita gente achava que era ouro", conta Leticia.
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Restos mortais Outro achado arqueológico ocorrido em Trancoso se deu dentro da igreja. Foram encontrados restos mortais de três pessoas, provavelmente padres.
Os ossos estavam em bom estado de conservação, e cada corpo usava uma mortalha. Segundo Leticia, os restos mortais foram descobertos em setembro de 97, quando o piso da igreja ia ser trocado.
A arqueóloga conta que não foi possível retirar os ossos do local. Eles foram apenas mapeados, fotografados e novamente cobertos. "Para retirá-los de lá, precisaríamos de um local apropriado, perto da igreja, para acondicioná-los, e não há verba para isso", conta a arqueóloga.
Assim como aconteceu com a urna, os moradores achavam que se tratava de ouro. (MiF)



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