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Sexta-Feira gera polêmica sexual
DA ENVIADA ESPECIAL
Um romance homossexual, um
índio misquito (povo que habitava a Nicarágua e a Honduras), a
repressão sexual e a solidão são os
elementos da história de Sexta-Feira, o outro habitante da ilha.
Crusoé, no romance de Defoe,
fica 28 anos ali. No 24º, salva a vida de um índio que ia virar almoço de canibais que aportam em
uma das praias da ilha. O "jovem
alto, com braços fortes e musculosos (...) e longos cabelos de um negro brilhante" é batizado por Crusoé de Sexta-Feira.
Os dois ficam amigos, e Sexta-feira dá nova esperança ao náufrago: diz que, com uma canoa,
seria possível sair dali.
Diana Souhami, no livro "A
Verdadeira História de Robinson
Crusoé", diz que, em 1680, três
navios espanhóis aportaram na
ilha e, na pressa de ir embora, deixaram para trás um escravo índio
da tribo misquito chamado Will,
que viveu ali até 1684, quando o
navio de Dampier chegou à ilha e
o resgatou.
Souhami acha que Defoe viu a
história do índio nos relatos de
Dampier, que publicou seu diário
de bordo em 1697, chamado
"Uma Nova Viagem ao Redor do
Mundo". A pesquisadora conta
que Selkirk foi abandonado na
ilha em 1704, logo o encontro jamais teria acontecido.
Real ou não, a relação de Crusoé
com Sexta-Feira gera especulações desde que foi narrada. Para
alguns, a solidão teria feito de
Crusoé um amante de seres humanos, deixando no ar a possibilidade de um romance homossexual entre os prisioneiros da ilha.
A versão está no poema "Crusoé
na Inglaterra", de Elizabeth Bi-
shop, em que nosso herói lembra
com carinho os dias em que viveu
ao lado do companheiro.
Para outros, Crusoé e Sexta-Feira nada teriam de amantes. Em
"Ensaios de Sociologia", Max Weber analisa o caso e conclui que a
ideologia do capitalismo industrial controla os impulsos sexuais.
A repressão sexual, para Weber,
seria total em Crusoé. Sexta-Feira,
seu único companheiro, teria,
portanto, uma relação funcional
com ele, e o diálogo entre os dois
seria restrito a perguntas com respostas como "sim" e "não".
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