|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARQUITETURA MIÚDA
Museu mostra edifícios históricos feitos com mesmo material dos originais, mas em escala reduzida
Distrito de Ouro Preto abriga uma Lilipute
ACÁCIA RIOS
free-lance para a Folha
Quem passa pela rodovia dos Inconfidentes, a 20 quilômetros de
Ouro Preto, vê uma placa que indica o museu das Reduções.
Para matar a curiosidade, entre
no arraial de Amarantina -conhecido pela cavalhada realizada
em setembro-, distrito de Ouro
Preto que nem aparece no mapa.
Você vai encontrar cinco séculos
de história do Brasil, por meio da
reconstituição, em escala reduzida, de 21 marcos arquitetônicos do
país. São réplicas produzidas com
o mesmo material dos originais.
Variam no tamanho, mas não pecam em nenhum detalhe.
Os irmãos Vilhena, idealizadores
do projeto, desenvolveram técnicas próprias e adaptaram ferramentas conforme suas necessidades para produzir as miniaturas.
Ao reconstituir as janelas da residência dos Reis Magos, de Nova
Almeida (ES), Sílvia Vilhena usou
lima de ourives para fazer os relevos. A construção do século 16
pertenceu aos jesuítas.
Do século seguinte, há um edifício também marcado pela presença dos jesuítas: um colégio erguido
por eles em Paranaguá (PR), que
hoje abriga o museu de Arqueologia e Artes Populares.
Como a construção é de pedra,
Sílvia desenhou a parede numa
cartolina, colou as pedrinhas, colocou sobre a laje e comprimiu. A
cartolina se desprendeu depois
com água.
A Casa dos Contos, construção
do século 18, é
a mais suntuosa, com cunhais, cimalhas e guarnições de vãos
em cantaria.
Segundo Sílvia, não há outra visão total
da casa como a
do museu das
Reduções.
"Aqui se vê
toda a fachada,
o mirante, a
ponte, o forno
onde as moedas eram cunhadas e mais
um detalhe que
pouca gente
conhece: o relevo sob a sacada com desenhos detalhados." Como
no original, a
casa também
acompanha a
rua e por isso fica meio torta.
Independência
Do século 19 destaca-se a fazenda
do Resgate, em Bananal (SP), uma
das primeiras do Vale do Paraíba,
tombada pelo patrimônio histórico. Até mesmo o controle da chaminé do fogão a lenha e o relevo
sob a guarda da sacada não escaparam aos olhos dos irmãos Vilhena.
O século atual foi destacado na
arquitetura de Oscar Niemeyer,
por meio do Palácio da Alvorada,
de Brasília. A cobertura do palácio
em telha de amianto chama a atenção. As colunas foram feitas em
pedra-sabão esculpida à máquina.
Há ainda outras edificações, como o farol da Barra, em Salvador
(BA), cujo muro foi colado na laje
(mesmo procedimento utilizado
no museu de Paranaguá).
Outra construção é o convento
de São Francisco, em Olinda, que
se destaca pelas 6.000 telhas em
miniatura feitas por Ênio Vilhena.
Para dar acabamento ao palácio
de São Cristóvão, em Sergipe, Ênio
criou uma serra circular para esculpir as grades das sacadas e os
sulcos de madeira, evitando, assim, que as janelas do palácio ficassem retas e não se igualassem
ao prédio original.
A família também não deixou de
fora sua cidade natal. Registrou o
prédio da Prefeitura de Campanha, tombada como patrimônio
histórico.
O museu não pára por aí. Os Vilhena pretendem também confeccionar os teatros Amazonas, em Manaus, e José de
Alencar, em
Fortaleza.
De Minas,
querem recriar
as janelas de
muxarabi de
Diamantina, o
santuário de
Bom Jesus de
Matosinhos
(onde estão os
profetas de
Aleijadinho),
em Congonhas
do Campo.
Ainda de Minas, serão recriadas edificações de Tiradentes, São
João del Rei e
Ouro Preto
-como a antiga cadeia de
Vila Rica, hoje
museu da Inconfidência.
O projeto
Os irmãos estão aposentados, e,
embora exercessem funções bastante diferentes -Sílvia e Ênio
eram bancários, Décio, aviador civil, e Evangelina trabalhava no
Instituto de Previdência do Estado-, sempre desenvolveram trabalhos como artesãos.
Decidiram ocupar o tempo, depois de aposentados, com o projeto Redução. Dos quatro, três dão a
sua parcela como artesãos, e cabe a
Evangelina administrar o museu.
A idéia surgiu há oito anos,
quando as duas irmãs fizeram uma
viagem à Europa. Na Holanda, conheceram a cidade-miniatura de
Madurodan e, na terra de Camões,
o Portugal dos Pequenitos.
Mas todas são maquetes. Pensaram então em fazer algo diferente
no Brasil: réplicas artesanais.
Desde então, se dedicam ao projeto idealizado, criado, financiado
e mantido com verba própria, desde a pesquisa histórica da sede até a
confecção dos artefatos.
Uma vez firmado o projeto,
mandaram uma carta para as secretarias estaduais da Cultura pedindo informações sobre as principais construções.
Após receber resposta, estudaram seus aspectos históricos e partiram para conhecê-los. Evangelina fotografou cada detalhe das
construções.
Ao longo de oito anos construíram a casa que abriga o museu e
fizeram as réplicas. Segundo Sílvia,
cada uma leva entre quatro e seis
meses para ser finalizada.
O loteamento foi comprado há
14 anos, quando, pensando na
aposentadoria, eles decidiram sair
de Belo Horizonte para morar
num local mais tranquilo, mas não
muito longe da capital.
Como Amarantina fica a 20 quilômetros de Ouro Preto, resolveram pegar carona no fluxo da antiga Vila Rica para engrenar o museu. Quem já viu de perto os monumentos se emociona ao ver réplicas tão perfeitas de uma só vez.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|