São Paulo, segunda, 17 de novembro de 1997.



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ARQUITETURA MIÚDA
Museu mostra edifícios históricos feitos com mesmo material dos originais, mas em escala reduzida
Distrito de Ouro Preto abriga uma Lilipute

ACÁCIA RIOS
free-lance para a Folha

Quem passa pela rodovia dos Inconfidentes, a 20 quilômetros de Ouro Preto, vê uma placa que indica o museu das Reduções.
Para matar a curiosidade, entre no arraial de Amarantina -conhecido pela cavalhada realizada em setembro-, distrito de Ouro Preto que nem aparece no mapa.
Você vai encontrar cinco séculos de história do Brasil, por meio da reconstituição, em escala reduzida, de 21 marcos arquitetônicos do país. São réplicas produzidas com o mesmo material dos originais. Variam no tamanho, mas não pecam em nenhum detalhe.
Os irmãos Vilhena, idealizadores do projeto, desenvolveram técnicas próprias e adaptaram ferramentas conforme suas necessidades para produzir as miniaturas.
Ao reconstituir as janelas da residência dos Reis Magos, de Nova Almeida (ES), Sílvia Vilhena usou lima de ourives para fazer os relevos. A construção do século 16 pertenceu aos jesuítas.
Do século seguinte, há um edifício também marcado pela presença dos jesuítas: um colégio erguido por eles em Paranaguá (PR), que hoje abriga o museu de Arqueologia e Artes Populares.
Como a construção é de pedra, Sílvia desenhou a parede numa cartolina, colou as pedrinhas, colocou sobre a laje e comprimiu. A cartolina se desprendeu depois com água.
A Casa dos Contos, construção do século 18, é a mais suntuosa, com cunhais, cimalhas e guarnições de vãos em cantaria.
Segundo Sílvia, não há outra visão total da casa como a do museu das Reduções.
"Aqui se vê toda a fachada, o mirante, a ponte, o forno onde as moedas eram cunhadas e mais um detalhe que pouca gente conhece: o relevo sob a sacada com desenhos detalhados." Como no original, a casa também acompanha a rua e por isso fica meio torta.
Independência
Do século 19 destaca-se a fazenda do Resgate, em Bananal (SP), uma das primeiras do Vale do Paraíba, tombada pelo patrimônio histórico. Até mesmo o controle da chaminé do fogão a lenha e o relevo sob a guarda da sacada não escaparam aos olhos dos irmãos Vilhena.
O século atual foi destacado na arquitetura de Oscar Niemeyer, por meio do Palácio da Alvorada, de Brasília. A cobertura do palácio em telha de amianto chama a atenção. As colunas foram feitas em pedra-sabão esculpida à máquina.
Há ainda outras edificações, como o farol da Barra, em Salvador (BA), cujo muro foi colado na laje (mesmo procedimento utilizado no museu de Paranaguá).
Outra construção é o convento de São Francisco, em Olinda, que se destaca pelas 6.000 telhas em miniatura feitas por Ênio Vilhena.
Para dar acabamento ao palácio de São Cristóvão, em Sergipe, Ênio criou uma serra circular para esculpir as grades das sacadas e os sulcos de madeira, evitando, assim, que as janelas do palácio ficassem retas e não se igualassem ao prédio original.
A família também não deixou de fora sua cidade natal. Registrou o prédio da Prefeitura de Campanha, tombada como patrimônio histórico.
O museu não pára por aí. Os Vilhena pretendem também confeccionar os teatros Amazonas, em Manaus, e José de Alencar, em Fortaleza.
De Minas, querem recriar as janelas de muxarabi de Diamantina, o santuário de Bom Jesus de Matosinhos (onde estão os profetas de Aleijadinho), em Congonhas do Campo.
Ainda de Minas, serão recriadas edificações de Tiradentes, São João del Rei e Ouro Preto -como a antiga cadeia de Vila Rica, hoje museu da Inconfidência.
O projeto
Os irmãos estão aposentados, e, embora exercessem funções bastante diferentes -Sílvia e Ênio eram bancários, Décio, aviador civil, e Evangelina trabalhava no Instituto de Previdência do Estado-, sempre desenvolveram trabalhos como artesãos.
Decidiram ocupar o tempo, depois de aposentados, com o projeto Redução. Dos quatro, três dão a sua parcela como artesãos, e cabe a Evangelina administrar o museu.
A idéia surgiu há oito anos, quando as duas irmãs fizeram uma viagem à Europa. Na Holanda, conheceram a cidade-miniatura de Madurodan e, na terra de Camões, o Portugal dos Pequenitos.
Mas todas são maquetes. Pensaram então em fazer algo diferente no Brasil: réplicas artesanais.
Desde então, se dedicam ao projeto idealizado, criado, financiado e mantido com verba própria, desde a pesquisa histórica da sede até a confecção dos artefatos.
Uma vez firmado o projeto, mandaram uma carta para as secretarias estaduais da Cultura pedindo informações sobre as principais construções.
Após receber resposta, estudaram seus aspectos históricos e partiram para conhecê-los. Evangelina fotografou cada detalhe das construções.
Ao longo de oito anos construíram a casa que abriga o museu e fizeram as réplicas. Segundo Sílvia, cada uma leva entre quatro e seis meses para ser finalizada.
O loteamento foi comprado há 14 anos, quando, pensando na aposentadoria, eles decidiram sair de Belo Horizonte para morar num local mais tranquilo, mas não muito longe da capital.
Como Amarantina fica a 20 quilômetros de Ouro Preto, resolveram pegar carona no fluxo da antiga Vila Rica para engrenar o museu. Quem já viu de perto os monumentos se emociona ao ver réplicas tão perfeitas de uma só vez.



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