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ENOTURISMO
Pesquisas sugerem que uvas são cultivadas no vale de Bekaa desde 4.000 a.C.; casas se abrem para turistas
Milenar, vinho libanês vive retomada
DA REUTERS
Antes conhecido como centro
do haxixe libanês e campo de treinamento de milícias na guerra civil (1975-1990), o vale do Bekaa
está redescobrindo o vinho.
Localizada 1.000 metros acima
do nível do mar, a área é abençoada por longos verões secos, invernos úmidos e um solo perfeito para o cultivo de uvas syrah, cabernet sauvignon e chardonnay.
A reputação do vinho libanês foi
estabelecida entre os "connaisseurs" quando o "château" Musar
ganhou o prêmio de "achado" na
feira de vinho de Bristol, em 1979,
durante a guerra civil libanesa.
Histórias de vinicultores desafiando bombas e balas de revólver
para apanhar suas uvas nos morros com vista para a costa seduziram a imaginação do público.
"Quando a guerra começou, em
1975, o mercado entrou em colapso. Como nós vendíamos 75% do
nosso vinho localmente, tivemos
que buscar a exportação. Foi
quando meu pai foi à feira", diz
Gaston Hochar, segurando um
copo de vinho tinto da safra de
1991 em sua cave.
"Quando a guerra acabou, em
1990, nós estávamos exportando
97% de nosso vinho. Abandonamos o mercado local, que agora
está começando a ser retomado."
Quando a paz voltou, novas vinícolas foram abertas em lugares
antes dominados por milícias e
agora exportam valiosas garrafas.
Fileiras de vinhas amadurecendo no calor do verão se tornaram
uma visão comum nesse vale. Algumas propriedades já oferecem
tour com degustação de amostras
de seus vinhos. E servem comida
libanesa em rústicos restaurantes
construídos perto de um reduto
do grupo extremista Hizbollah.
Embora a produção libanesa de
vinhos seja uma gota no oceano
enológico -são de 6 a 7 milhões
de garrafas por ano, que geram
cerca de US$ 25 milhões-, ela está crescendo rapidamente.
Quando o conflito no país começou, havia quatro vinícolas comerciais. Hoje são cerca de 20.
O "château" Kefraya, um dos
maiores, começou fazendo vinhos premiados nos anos 1980,
mas a maior parte das novas vinícolas abriu na última década.
Franco-libanês
A casa Massaya é um exemplo
da onda de vinícolas dos anos
1990. Os irmãos Ramzi e Sami
Ghosn eram crianças durante a
guerra. Passaram grande parte do
tempo de duração do conflito fora
do país. Eles entraram no ramo
do vinho com parceiros franceses
em 1998, depois de expulsar invasores de sua terra do tempo da
guerra. A proposta era fazer um
produto com caráter libanês e
apelo internacional. "Quando você toma um vinho, é como se você
estivesse viajando para aquele
país. Se ele for exótico, as pessoas
vão comprar. Mas, se a imagem é
a do terrorismo, elas não vão
comprar", afirma Ramzi Ghosn.
História
A história do vinho no Líbano
começa antes de Cristo. E foi lá,
em Canaã, que Jesus Cristo fez seu
primeiro milagre, transformando
água em vinho. No coração do vale de Bekaa há um templo romano
dedicado a Baco, o deus do vinho.
Com cerca de 2.000 anos, é decorado com entalhes de uvas.
Pesquisas arqueológicas sugerem que os fenícios, civilização
antiga que habitava a costa libanesa, exportava vinho para os faraós do Egito. "O comércio atingiu o auge em 900-300 a.C., mas a
vinicultura libanesa é detectada
desde 4.000 a.C.", afirma Michael
Karam, autor do livro "Wines of
Lebanon" (US$ 39,95, na www.amazon.com).
"Os faraós eram enterrados
com ânforas de vinho libanês. O
Líbano tem uma herança de vinho fabulosa, que poderia usar
para se promover mais."
Os vinicultores afirmam que é
preciso focar na qualidade. "Antes, se você mencionasse vinhos
libaneses, as pessoas provavelmente pensariam Musar; agora,
nenhum guia de vinhos pode ignorar o Líbano", diz Charles
Ghostine, diretor da Ksara, que
armazena seus vinhos em caves
subterrâneas que, acredita-se, tenham sido usadas pelos romanos.
"Nós podemos fazer dez vezes
mais vinho só no vale de Bekaa,
mas é algo que toma tempo", diz.
"Vinho não é refrigerante."
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