São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ENOTURISMO

Pesquisas sugerem que uvas são cultivadas no vale de Bekaa desde 4.000 a.C.; casas se abrem para turistas

Milenar, vinho libanês vive retomada

DA REUTERS

Antes conhecido como centro do haxixe libanês e campo de treinamento de milícias na guerra civil (1975-1990), o vale do Bekaa está redescobrindo o vinho.
Localizada 1.000 metros acima do nível do mar, a área é abençoada por longos verões secos, invernos úmidos e um solo perfeito para o cultivo de uvas syrah, cabernet sauvignon e chardonnay.
A reputação do vinho libanês foi estabelecida entre os "connaisseurs" quando o "château" Musar ganhou o prêmio de "achado" na feira de vinho de Bristol, em 1979, durante a guerra civil libanesa.
Histórias de vinicultores desafiando bombas e balas de revólver para apanhar suas uvas nos morros com vista para a costa seduziram a imaginação do público.
"Quando a guerra começou, em 1975, o mercado entrou em colapso. Como nós vendíamos 75% do nosso vinho localmente, tivemos que buscar a exportação. Foi quando meu pai foi à feira", diz Gaston Hochar, segurando um copo de vinho tinto da safra de 1991 em sua cave.
"Quando a guerra acabou, em 1990, nós estávamos exportando 97% de nosso vinho. Abandonamos o mercado local, que agora está começando a ser retomado."
Quando a paz voltou, novas vinícolas foram abertas em lugares antes dominados por milícias e agora exportam valiosas garrafas.
Fileiras de vinhas amadurecendo no calor do verão se tornaram uma visão comum nesse vale. Algumas propriedades já oferecem tour com degustação de amostras de seus vinhos. E servem comida libanesa em rústicos restaurantes construídos perto de um reduto do grupo extremista Hizbollah.
Embora a produção libanesa de vinhos seja uma gota no oceano enológico -são de 6 a 7 milhões de garrafas por ano, que geram cerca de US$ 25 milhões-, ela está crescendo rapidamente.
Quando o conflito no país começou, havia quatro vinícolas comerciais. Hoje são cerca de 20.
O "château" Kefraya, um dos maiores, começou fazendo vinhos premiados nos anos 1980, mas a maior parte das novas vinícolas abriu na última década.

Franco-libanês
A casa Massaya é um exemplo da onda de vinícolas dos anos 1990. Os irmãos Ramzi e Sami Ghosn eram crianças durante a guerra. Passaram grande parte do tempo de duração do conflito fora do país. Eles entraram no ramo do vinho com parceiros franceses em 1998, depois de expulsar invasores de sua terra do tempo da guerra. A proposta era fazer um produto com caráter libanês e apelo internacional. "Quando você toma um vinho, é como se você estivesse viajando para aquele país. Se ele for exótico, as pessoas vão comprar. Mas, se a imagem é a do terrorismo, elas não vão comprar", afirma Ramzi Ghosn.

História
A história do vinho no Líbano começa antes de Cristo. E foi lá, em Canaã, que Jesus Cristo fez seu primeiro milagre, transformando água em vinho. No coração do vale de Bekaa há um templo romano dedicado a Baco, o deus do vinho. Com cerca de 2.000 anos, é decorado com entalhes de uvas.
Pesquisas arqueológicas sugerem que os fenícios, civilização antiga que habitava a costa libanesa, exportava vinho para os faraós do Egito. "O comércio atingiu o auge em 900-300 a.C., mas a vinicultura libanesa é detectada desde 4.000 a.C.", afirma Michael Karam, autor do livro "Wines of Lebanon" (US$ 39,95, na www.amazon.com).
"Os faraós eram enterrados com ânforas de vinho libanês. O Líbano tem uma herança de vinho fabulosa, que poderia usar para se promover mais."
Os vinicultores afirmam que é preciso focar na qualidade. "Antes, se você mencionasse vinhos libaneses, as pessoas provavelmente pensariam Musar; agora, nenhum guia de vinhos pode ignorar o Líbano", diz Charles Ghostine, diretor da Ksara, que armazena seus vinhos em caves subterrâneas que, acredita-se, tenham sido usadas pelos romanos. "Nós podemos fazer dez vezes mais vinho só no vale de Bekaa, mas é algo que toma tempo", diz. "Vinho não é refrigerante."


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