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Papa queria que cidade fosse capital da grandeza européia
DAVID LASKIN
do "Travel/The New York Times"
Planejamento urbano é um termo mundano demais para definir
o grande projeto que Fabio Chigi
fez em Roma durante os 12 anos
em que foi o papa Alexandre 7º.
De 1655 a 1667, Alexandre 7º
conduziu os grandes arquitetos da
época -Bernini, Pietro da Cortona, Carlo Rainaldi- na criação de
longos e retos bulevares, praças
dramáticas e cercanias festivas.
Homem de inteligência, vaidade,
ambição e irresponsabilidade fiscal, o papa imaginou Roma como
um teatro de pedra, onde grandes
europeus se reuniriam para exibir
e admirar a própria grandiosidade.
Ele cometeu algumas das mais
impressionantes obras públicas da
cidade, incluindo a Piazza del Popolo e a praça de São Pedro.
Para conhecer um pouco a visão
do papa, pegue um ônibus no centro da cidade até a Via Flaminia e
reentre na Piazza del Popolo.
O portal norte, desenhado por
Bernini em 1655 para celebrar a
chegada da rainha sueca Cristina,
não representa muito em si. Mas o
projeto que se revela abaixo dele é
um triunfo da teatralidade urbana.
Alexandre queria que Cristina
entendesse a grandeza de Roma a
partir do momento em que entrasse na praça. O papa reconfigurou a
área com um tipo de abertura em
funil a partir da porta del Popolo
até as três avenidas na outra ponta.
Mais tarde, o papa ancorou o desenho com as igrejas de Santa Maria di Monte Santo e Santa Maria
dei Miracoli.
Embora o traço de Alexandre para a Piazza del Popolo esteja oculto
por uma reforma do século 18, as
composições do portal, obelisco,
fonte e igrejas continuam intatas.
Alexandre 7º enfrentou um problema de design diferente nas pequenas e elegantes igreja e Piazza
Santa Maria della Pace.
Espremida no final de uma rua
estreita da Piazza Navona, a igreja
esteve na moda no século 17. Era
uma das poucas em Roma que
abrigava missas à tarde.
O problema era a localização: a
aproximação era acidentada, e os
cocheiros mal podiam fazer a volta. E chegar à igreja em outra coisa
que não uma carruagem era impensável para os fiéis do século 17.
Cortona, nomeado por Alexandre 7º para resolver a situação,
apareceu com um plano corajoso e
genial: alargar e embelezar a praça,
derrubar um quarteirão de casas e
mascarar as remanescentes com
fachadas imitando palácios.
Deterioração
Infelizmente, Santa Maria della
Pace tem deteriorado ultimamente e está fechada para restauração.
O consolo é que o claustro de Bramante -clássica e austera construção de 1504- está aberto.
A partir de Santa Maria della Pace, uma curta e agradável caminhada pela extensão da Piazza Navona leva a outro importante projeto de Alexandre 7º.
Trata-se da igreja de Sant'Andrea della Valle, imortalizada como cenário do primeiro ato da
ópera "Tosca", de Puccini.
O piso inferior é creditado a Carlos Maderno. Alexandre 7º trouxe
Carlo Rainaldi e Carlo Fontana para completar o trabalho. Maderno
também desenhou o duomo, o segundo maior de Roma, atrás apenas do de São Pedro.
Se você se prostrar no extremo
da praça -que o papa queria expandir e conectar a um bulevar-
e voltar a cabeça, verá um anjo.
Um segundo anjo seria colocado
para completar a simetria, mas,
depois que Alexandre criticou o
primeiro, o escultor Cosimo Fancelli desistiu da empreitada. "Se
quiser outro, ele que faça."
O papa teve uma relação trabalhista muito mais amigável com
Gian Lorenzo Bernini.
Sob Alexandre, Bernini realizou
um dos maiores feitos de sua carreira: a curva fileira de colunas que
abraçam a praça de São Pedro.
Alexandre e Bernini continuaram sua colaboração em São Pedro na Cathedra Petri.
A tumba que Bernini projetou
para Alexandre está há alguns passos, na alcova do lado de fora da
asa esquerda do prédio.
A julgar pela estátua do papa que
preside o monumento, Alexandre
era um homem pequeno, com linhas faciais delicadas, uma estreita
barbicha e um ar de esperteza.
No sempre giratório caleidoscópio de Roma, a simbologia de Alexandre ocorre com frequência, um
lembrete do legado duradouro do
homem que se autodenominava o
"amplificador" da cidade.
Tradução de Edson Franco
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