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Liberar
Representante acha legítimo o bar de fumante
DA REDAÇÃO
Para Percival Maricato, diretor jurídico da Abrasel (Associação Brasileira de Bares
e Restaurantes), a escolha de
permitir ou não fumantes
deve ser tomada pelo estabelecimento.
(PPR)
FOLHA - Como o setor de bares e
restaurantes está vendo o projeto de lei de restrição ao fumo?
PERCIVAL MARICATO - Para nós,
todas as proibições exageradas e que poderiam ser resolvidas dentro do estabelecimento, sem intervenção do
poder público, acabam sendo
constrangedoras e afugentando clientes. Somos contrários a essa ânsia de ficar
normatizando as atividades.
Isso é totalmente anormal.
FOLHA - Qual deve ser a estratégia do setor para atrair clientes no
caso de o projeto ser aprovado?
MARICATO - Tenho total certeza de que a lei será aprovada. O que vai acontecer é que
muita gente vai tentar se defender se autodenominando
tabacaria, cigar bar... É uma
tendência. A interpretação
vai ficar para o fiscal, que
nem sempre tem preparo ou
boas intenções. Eu acho inclusive que essa lei estadual
vai ser inconstitucional. Porque já existe uma lei federal
que dá conta disso. E se a lei
federal permite, eu entendo
que a estadual não pode proibir. Existe uma hierarquia.
Quando a competência é
compartilhada, os três poderes podem disciplinar uma
atividade. Aí, prevalece o federal sobre o estadual e o estadual sobre o municipal.
FOLHA - E quanto à questão dos
malefícios que o cigarro leva aos
fumantes passivos?
MARICATO - A escolha de ser
ou não um fumante é legítima. Assim como é legítimo
por parte dos estabelecimentos determinar se ele vai ou
não aceitar fumantes. Se o
mercado pudesse optar, certamente você teria centenas
de milhares de bares para fumantes e outro tanto desse
para não-fumantes na cidade. E aí você escolheria. Nossos homens no poder poderiam se dedicar a problemas
muito mais urgentes, como
poluição, trânsito, educação,
habitação, violência. Num
bar, a pessoa vai para descansar, conversar, puxar um cigarro. Já é praticamente
proibido beber. Agora tem isso de proibir o cigarro. Daqui
a pouco você não vai mais poder pedir um hambúrguer e
não sei mais o quê.
FOLHA - Além da saúde, gastos
públicos com tratamentos de
doenças causadas pelo fumo não
são um problema importante?
MARICATO - Esse negócio de
gasto público é muito relativo. Eu não sei quais são as estatísticas, mas o governo ganha muito dinheiro com cigarro. Até por isso eu acho
que eles não proíbem de vez.
Eu acho que poderíamos resolver esse problema muito
mais com educação. Não sei
quantas pessoas levam facada e vão para o hospital público. Agora, vão proibir a faca? Não adianta proibir o cigarro porque ele vai existir
sempre. E o bar não pode ser
vítima disso mais uma vez.
FOLHA - Muitos fumantes, segundo pesquisas, apóiam essa
lei. O que o senhor acha disso?
MARICATO - Acho que os fumantes tinham de se unir.
Não só eles, mas as pessoas
que gostam de beber, de sair
à noite, os GLS. Enfim, esse
pessoal que já aproveita as liberdades obtidas pela modernização da sociedade, que
é a maioria. Mas é uma maioria não tão poderosa e organizada como a minoria conservadora, tradicionalista.
Essa maioria tem de tirar a
cabeça para fora e impedir
que a minoria queira impor
suas proibições sem limite
para todo mundo.
FOLHA - Qual deve ser o impacto no setor do turismo?
MARICATO - Esse clima está
prejudicando o lazer na cidade. As suas duas maiores
atrações turísticas, que são
vida noturna e gastronomia.
FOLHA - O senhor acha que é
possível aplicar essa lei dentro
dos hotéis, como está previsto?
MARICATO - Não. Acho muito
difícil que se evite que a pessoa fume no quarto. Só se a
gente colocar agora uma câmera para monitorá-la. E
olha que, se der a idéia, logo
aparece um deputado querendo adotar isso. Acho que a
possibilidade de tentar proibir existe, mas fazer vigorar a
é impossível. Os fiscais não
terão nem como multar. O
dono poderá se defender,
alegando que não tem como
saber se o hóspede está fumando no quarto. E, se você
não pode impedir um fato,
como você pode ser culpado?
"A escolha de ser ou não
um fumante é legítima.
Assim como é legítimo
o estabelecimento
determinar se aceita
fumantes. Se o mercado
pudesse optar,
certamente você teria
centenas de milhares
de bares para fumantes
e outro tanto para não-fumantes na cidade.
Nossos homens no
poder poderiam se
dedicar a problemas
muito mais urgentes,
como poluição, trânsito,
educação, habitação,
violência"
PERCIVAL MARICATO
advogado e diretor jurídico da Abrasel
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