DA REPORTAGEM LOCAL

Eram 16h de sexta-feira quando uma moça entrou apressada pela porta da casa Menorah, na rua Guarani. Ela achava que já não ia mais encontrar nenhum resquício da fornada de beigale, um biscoito salgado típico da culinária judaica, que teve a última saída às 15h. A próxima porção, só no dia seguinte, às 8h. Mas não custava tentar, dar uma passadinha rápida para ver se havia sobrado algum.
A moça foi recebida pelos funcionários da casa pelo nome. E logo abriu um sorriso. É que, um deles, notando que ela estava atrasada para o ritual de todas as tardes, havia separado algumas unidades em um saquinho. "Guardei pra senhora", disse, esbanjando simpatia.
Basta passar alguns minutos nessa loja de produtos judaicos do Bom Retiro para presenciar situações parecidas, em que o cliente é tratado como um velho amigo. "Tem gente que freqüenta desde antes de eu começar a trabalhar aqui", diz o gerente José Campi, 57, que em fevereiro completa 40 anos na Casa Menorah.
Chamado carinhosamente de "seu Zé", ele foi contratado aos 17 anos, como entregador.
"Naquela época, praticamente só havia judeus no bairro. E eu sabia onde cada um morava, acaba conhecendo a família de todo mundo", conta. "Hoje, há mais coreanos aqui." Se eles freqüentam a casa? "Sim, muitos vêm aqui comprar pão de farinha de centeio." É o pão preto, vendido a R$ 4.
A loja, que começou como uma mercearia de secos e molhados, hoje fabrica mais de 120 produtos. Entre os mais procurados, o próprio beigale (R$ 1,30, cada um), o challah (R$ 4,50), um pão trançado semidoce feito com farinha de trigo, gergelim e uva passa, e o varenike (R$ 9, o potinho de meio quilo), uma massa com recheio de batata e coberta de cebola frita.
As receitas de chocolate são as mais recomendadas por seu Zé. "Indico o jofre (R$ 3 a unidade) e o rocambole (R$ 30, o quilo), ambos recheados e cobertos de chocolate. São dois dos doces mais gostosos da casa", diz. (PRISCILA PASTRE-ROSSI)