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QUALQUER VIAGEM
Chame-a Mallorca
ou Majorca, mas
vá para lá, já
DAVID DREW ZINGG
em Sampa
"Tantos! Eu não imaginara que a
morte houvesse destruído tantos."
Dante, no inferno.
Na época em que ela era invadida por milhões e mais milhões de
turistas alemães e ingleses, bêbados e bronzeados, eles grafavam o
nome dessa ilha catalã espanhola
no Mediterrâneo "Majorca".
Quando tio Dave visitou o recém-reformado destino turístico
de alta classe, duas semanas atrás,
os nativos já tinham mudado a
grafia para "Mallorca".
Mallorca é a grafia mais classuda e tradicional do nome da ilha.
A diferença na maneira como se
escreve seu nome ressalta a enorme mudança operada no resort,
hoje tremendamente melhorado.
Durante anos, ir à ilha era como
arrotar ou enfiar o dedo no nariz
-todo o mundo o fazia.
Mais de 7 milhões de turistas
iam para lá todos os anos.
Aquele jota revelador em "Majorca" era irremediavelmente vinculado a um certo tipo de turismo
caracterizado por vôos fretados,
praias abarrotadas, sol, areia e sexo regado a muito álcool.
Ma"ll"orca hoje é um lugar
muito elegante
Hoje, porém, ouso afirmar que
Mallorca -a versão autêntica,
com o tão importante "ll"- virou
um lugar cool, elegante, na moda,
fashion. Em suma, "in".
Mallorca está fazendo um esforço tremendo para se reformar.
Os feios hotéis de muitos andares foram demolidos e seu lugar
foi tomado por avenidas ladeadas
de árvores. Áreas inteiras à beira-mar foram poupadas da onda de
construção, e muito dinheiro foi
aplicado na restauração da arquitetura tradicional da ilha.
Mallorca voltou a ser "posh"
(que significa chique em inglês
britânico, Joãozinho).
Fato: Michael Douglas está produzindo xerez Malmsey numa fazenda que já pertenceu ao arquiduque Luis Salvador, da Áustria.
Fato: aulas de Tai Chi Chuan
estão sendo dadas na praia numa
velha cidade histórica chamada
Magaluf.
Fato: no Abaco, um palácio do
século 17 reformado, no centro de
Palma de Mallorca, integrantes
do jet-set eurotrash bebericam coquetéis de frutas à luz de velas, ao
som de música clássica e do canto
de pássaros engaiolados.
Mallorca vem sendo visitada
por turistas desde o ano de 1838,
quando Chopin e sua amante
George Sand passaram o inverno
num mosteiro cartuxo.
Chopin sobreviveu, mas o amor
dos dois, não, e Sand (que começou a usar calças para se aquecer
no inverno e foi apedrejada pelos
aldeões por seu atrevimento) escreveu um livro malcriado no
qual comparou os ilhéus a macacos.
Brasil líquido em Mallorca
Passeie a pé pela avenida à
beira-mar de Palma, à meia-noite, e você se sentirá como se estivesse em Barcelona ou em Biarritz. Estudantes ficam sentados na
rua em volta de um velho violão,
ou então vão ao Made in Brasil,
em busca de caipirinhas e de alguns amassos.
Os TRBYITs (the Rich Bright
Young International Things, ou
jovens internacionais ricos e inteligentes) dançam bop ao som dos
últimos sucessos no Pacha's, enquanto a turma do iatismo se reúne no Club de Mar, do outro lado
da rua.
Cuidado com o aeroporto espanhol gigante
Um aviso a quem pretende visitar a Espanha.
A palavra é "aeroportos". A Espanha embarcou num frenesi de
modernização, para conseguir receber os rapidamente crescentes
milhões de turistas que chegam ao
país em busca de sol e diversão.
Os aeroportos de Madri, Barcelona e Palma de Mallorca são todos novinhos em folha -e enormes. Fica claro que foram construídos para poderem comportar
as multidões que vão invadir o
país no ano 3000.
É evidente que foram projetados
por um arquiteto que pretendeu
promover a saúde dos viajantes,
por meio de caminhadas de longa
distância em alta velocidade.
Se seu vôo aterrissar no portão
A-1 e você tiver de fazer uma conexão com outro vôo que sai do
portão Z-26, você tem grandes
chances de morrer de velhice antes de chegar até o segundo avião.
Outra contribuição espanhola à
arte da projeção de aeroportos
modernos é a ausência de locais
que forneçam o mais básico em
termos de comida e bebida. Se você não morrer de velhice, provavelmente morrerá de fome.
Voltar para casa, para os aeroportos de dimensões humanas do
Brasil, confere todo um significado novo ao conceito do viajar civilizado.
Ainda existem alguns momentos raros, quando se viaja de
avião, em que se apreende algo de
profundo valor.
Na classe econômica da Spanair, quando eu retornava da Finlândia e de Mallorca, me serviram um copo de suco de laranja
-feito na hora, com laranjas espanholas. Aquele suco de laranjas
de Valência, feito na hora, cancelou todo o suplício anterior do aeroporto.
Tradução de Clara Allain.
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