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CEARÁ
Vila se divide entre paz e efervescência
Cada vez mais reduto de estrangeiros, Jericoacoara vê convívio de ruas sem postes e hotel com lounge
DO ENVIADO A JERICOACOARA
O cartão de débito se estabeleceu em Jericoacoara. Assim
como o petit gateau, o lounge e
o utilitário de luxo.
Isso na Jericoacoara de ruas
sem placas nem postes.
Aldeia de pescadores até a
década de 80 e referência zen
do litoral brasileiro até a década de 90, a praia ainda não é
exatamente sinônimo de ebulição, mas vê somar, aos nativos e
alternativos, levas de italianos,
portugueses, espanhóis, franceses e outros europeus não
apenas em viagem, mas estabelecidos como moradores e donos de pousadas.
A padaria Santo Antônio, conhecida por abrir das 2h às 6h
para atender notívagos com fome e aficionados pelos pães de
coco, banana ou com queijo caseiros a R$ 0,50 cada, tem hoje
a companhia de uma estilosa
padaria 24h.
Não por causa da concorrência, mas o estabelecimento está
à venda. Filho de "seu" Antônio
-o inaugurador do negócio,
hoje aposentado-, Antônio
Marques quer dividir o dinheiro com os três irmãos e seguir
outra profissão.
Em contraste com as duas
padarias abertas de madrugada, Jericoacoara não tem caixas
eletrônicos -para a população,
eles geram assaltos. A 20 km
dali, em Jijoca de Jericoacoara,
ficam os caixas mais próximos.
Era em Jijoca, também, que
as correspondências eram buscadas, mas hoje há um carteiro
que aparece duas vezes por semana -alguém que, se não conhece os habitantes locais, deve viver perguntado por eles: as
cinco ruas maiores têm nomes
que são conhecidos localmente
mas que não estão registrados
em placas; as 20 e poucas ruelas
que as conectam, nem uma coisa nem outra.
Capoeira e eletrônica
A falta de postes é uma escolha local. Até 1998 nem mesmo
as casas tinham eletricidade. A
casa de forró que concentra
moradores locais funcionava
com gerador e os passeios noturnos da população eram iluminados com velas coladas em
garrafas de água mineral.
Agora, cabos subterrâneos
distribuem a eletricidade, mas
Jericoacoara continua sem iluminação pública -o motivo é
que ela não condiz com o charme do lugar.
Aparentemente, não há riscos de andar de madrugada, e
alguns comércios abertos na
rua principal são sinalizadores
suficientes. Em outras ruas, no
entanto, há trechos de breu,
que alguém com pouco domínio da cartografia dali simplesmente não tem como encarar
sem uma lanterna.
Em torno de 17h30, há uma
espécie de procissão até a "duna do pôr-do-sol" para observar o sol desaparecer no Atlântico, cenário acompanhado de
um jogo ou dois de futebol
areia. E seguido de uma roda de
capoeira engrossada por um
aglomerado de curiosos.
A noite segue ao som de
MPB, hip hop, rock, reggae ou
"chill out" -aquela música eletrônica mais sossegada que toca nos lounges.
E o sol pode surgir com um
DJ tocando uma versão eletrônica, essa agitada, de "Money
for Nothing", do Dire Straits.
Uma medida interessante dos
contrastes de Jericoacoara.
(THIAGO MOMM)
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