São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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CEARÁ

Vila se divide entre paz e efervescência

Cada vez mais reduto de estrangeiros, Jericoacoara vê convívio de ruas sem postes e hotel com lounge

DO ENVIADO A JERICOACOARA

O cartão de débito se estabeleceu em Jericoacoara. Assim como o petit gateau, o lounge e o utilitário de luxo. Isso na Jericoacoara de ruas sem placas nem postes.
Aldeia de pescadores até a década de 80 e referência zen do litoral brasileiro até a década de 90, a praia ainda não é exatamente sinônimo de ebulição, mas vê somar, aos nativos e alternativos, levas de italianos, portugueses, espanhóis, franceses e outros europeus não apenas em viagem, mas estabelecidos como moradores e donos de pousadas.
A padaria Santo Antônio, conhecida por abrir das 2h às 6h para atender notívagos com fome e aficionados pelos pães de coco, banana ou com queijo caseiros a R$ 0,50 cada, tem hoje a companhia de uma estilosa padaria 24h.
Não por causa da concorrência, mas o estabelecimento está à venda. Filho de "seu" Antônio -o inaugurador do negócio, hoje aposentado-, Antônio Marques quer dividir o dinheiro com os três irmãos e seguir outra profissão.
Em contraste com as duas padarias abertas de madrugada, Jericoacoara não tem caixas eletrônicos -para a população, eles geram assaltos. A 20 km dali, em Jijoca de Jericoacoara, ficam os caixas mais próximos.
Era em Jijoca, também, que as correspondências eram buscadas, mas hoje há um carteiro que aparece duas vezes por semana -alguém que, se não conhece os habitantes locais, deve viver perguntado por eles: as cinco ruas maiores têm nomes que são conhecidos localmente mas que não estão registrados em placas; as 20 e poucas ruelas que as conectam, nem uma coisa nem outra.

Capoeira e eletrônica
A falta de postes é uma escolha local. Até 1998 nem mesmo as casas tinham eletricidade. A casa de forró que concentra moradores locais funcionava com gerador e os passeios noturnos da população eram iluminados com velas coladas em garrafas de água mineral.
Agora, cabos subterrâneos distribuem a eletricidade, mas Jericoacoara continua sem iluminação pública -o motivo é que ela não condiz com o charme do lugar.
Aparentemente, não há riscos de andar de madrugada, e alguns comércios abertos na rua principal são sinalizadores suficientes. Em outras ruas, no entanto, há trechos de breu, que alguém com pouco domínio da cartografia dali simplesmente não tem como encarar sem uma lanterna.
Em torno de 17h30, há uma espécie de procissão até a "duna do pôr-do-sol" para observar o sol desaparecer no Atlântico, cenário acompanhado de um jogo ou dois de futebol areia. E seguido de uma roda de capoeira engrossada por um aglomerado de curiosos.
A noite segue ao som de MPB, hip hop, rock, reggae ou "chill out" -aquela música eletrônica mais sossegada que toca nos lounges. E o sol pode surgir com um DJ tocando uma versão eletrônica, essa agitada, de "Money for Nothing", do Dire Straits.
Uma medida interessante dos contrastes de Jericoacoara. (THIAGO MOMM)

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