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QUALQUER VIAGEM
Olha aí! Não é a asa que está caindo?
DAVID DREW ZINGG
em Sampa
"Há muitas coisas que você pode fazer durante uma viagem aérea longa
para afastar da sua cabeça o fato de
que você se encontra a vários quilômetros de altitude no céu, num objeto
pesado, construído e operado por pessoas que você nem sequer conhece,
pessoas que podem muito bem ser viciadas em drogas, ser loucas, suicidas
e irresponsáveis." Dave Barry.
Tio Dave está tentando preparar psicologicamente a coisinha minúscula que ele chama
de seu "cérebro" para mais
uma viagem às Gringo e Eurolândias.
O problema é que, cada vez
que ponho os pés num avião,
reflito sobre a probabilidade
crescente de que este possa encostar no chão, sem querer, antes de chegarmos a nosso destino previsto.
Trata-se de um problema
alarmante que gosto de descrever como "o dilema da gravidade que se agrava". Quanto mais
pessoas existem, mais fazem
questão de sair de Bananalândia em direção a outros destinos elegantes do mundo.
Essa demanda crescente vai
fazer com que haja cada vez
mais aviões voando no céu, o
que, é claro, vai fazer com que
ocorram muito mais erros humanos, o que vai fazer com que
haja muito mais aviões encostando na Terra a contragosto, o
que vai reduzir as chances pessoais de tio Dave não conseguir
chegar inteiro ao destino almejado. Estou assustado. Faça-me
rir, por favor. Tudo isso é mais
do que assustador.
As companhias aéreas brasileiras não são nem muito mais
nem muito menos seguras do
que outras companhias aéreas
internacionais, mas são muito
mais sérias do que estas.
A pergunta é: já que o povo
brasileiro é conhecido por seu
senso de humor sempre pronto
a se manifestar, por que nossas
linhas aéreas nacionais não nos
brindam com um sorriso?
Outro dia alguém me mandou
um recorte de jornal sobre "alguns pequenos conselhos adicionais incluídos nas instruções
de segurança de vôo" de uma
companhia aérea norte-americana.
"No caso de o avião pousar na
água", aconselhou o comissário
de bordo, "lembrem-se, por favor: todo mundo nadando cachorrinho até a praia."
Quando um grupo de passageiros parecia estar ligeiramente apavorado na decolagem,
num vôo ocorrido na primavera passada, a comissária disse:
"O comandante consegue tirar
o avião do chão sozinho, portanto os passageiros que estão
agarrando os braços das poltronas podem soltá-los agora".
Não sei quanto a você, Joãozinho, mas no meu caso esse tipo
de conselho bem-humorado me
ajudaria muito a superar o
meu medo de voar profundamente arraigado.
Você e eu sabemos que aquela
famosa lengalenga de segurança que as comissárias nos infligem no início dos vôos não faz
sentido nenhum.
Para começo de conversa, se
você realmente pensasse que
seu avião iria cair, para que pagaria um monte de dinheiro
para subir nele?
Uma alternativa sempre possível é ir até Nova York de carro
ou nadar até Miami (se o seu
avião cair, o resultado será o
mesmo: você vai virar comida
de tubarão).
É tranquilizador observar que
os assentos das poltronas do
avião funcionam como bóias.
Estas poderão ser recolhidas do
mar pela companhia aérea,
sempre interessada em fazer
economia, para serem reutilizadas em oportunidades posteriores. Para mim, parece óbvio
que o que distingue as companhias aéreas é a capacidade de
elas saberem ou não fazer você
sorrir e, desse modo, esquecer-
se do pavor muito real despertado pelo ato de voar.
O saquinho de amendoins que
elas lhe dão é o mesmo em todas as empresas.
²
Boas risadas salvam viagens
O humor é uma arma de sobrevivência.
Fale a verdade -você não
acha que as viagens aéreas seriam bem mais humanas se as
companhias aéreas da Bananalândia deixassem seus comissários de bordo dar asas à sua
imaginação?
Eis alguns casos reais de humor aéreo vindos de tripulantes
de aviões comerciais:
"Bem-vindos a bordo de nosso
vôo de aqui para ali. Para operar seu cinto de segurança, insira a ponta de metal no orifício
correto e aperte bem. Ele funciona exatamente como todos
os outros cintos de segurança, e,
se você ainda não sabe usar cinto de segurança, provavelmente
nem deveria estar andando em
público sem supervisão";
"no caso de uma despressurização repentina da cabine,
máscaras de oxigênio irão cair
do teto. Pare de gritar, agarre a
máscara e coloque-a sobre o
rosto. Se você estiver acompanhado de uma criancinha, coloque sua própria máscara antes
de ajudá-la a colocar a dela. Se
estiver acompanhado de duas
criancinhas, decida já qual delas você ama mais";
"a temperatura no nosso local
de destino está em 20 graus,
com algumas nuvens esparsas,
mas vão tentar juntar essas nuvens até a hora de nossa chegada. Obrigado por voarem conosco, e, lembrem-se, ninguém
gosta mais de vocês ou de seu
dinheiro do que nossa companhia aérea";
Já passava da hora da decolagem, e o avião não saía da pista. Depois de 30 minutos de espera, os passageiros já estavam
ficando irrequietos. Foi quando
o piloto pegou o microfone e fez
a platéia dissolver-se em gargalhadas. "Sentimos muito pelo
atraso", explicou, num sotaque
texano arrastado, "mas a máquina que normalmente esmaga e amassa suas malas quebrou, e tivemos de fazer o serviço a mão."
Funcionou. Os passageiros deram risada, e mais uma trapalhada da companhia aérea foi
perdoada com um sorriso.
Tradução de
Clara Allain.
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