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GENTE QUE FEZ
Filósofo e artista despertam controvérsias
Famosos do Estado
animam polêmica
CARLA ARANHA
da Reportagem Local
Um na filosofia e literatura,
outro no campo das artes plásticas, os dois sergipanos de
maior renome nacional viveram e morreram imersos em
um mar de polêmica que até
hoje respinga na análise de
suas obras.
Sobre o literato Tobias Barreto (1839-1889), que empresta
seu nome a ruas e escolas de
Aracaju, pesa a acusação de
falta de coerência filosófica.
Já no caso do artista plástico
Arthur Bispo do Rosário
(1909-1989), esquizofrênico, a
controvérsia está centrada em
um ponto de interrogação: gênio ou louco?
Nem mesmo admiradores famosos de Rosário, como os integrantes da banda Paralamas
do Sucesso, e uma exposição
em Veneza, realizada em 1995,
puderam ajudar a responder
essa questão.
É bom lembrar também que
o trabalho do artista até hoje
não consta dos "anais" da arte
brasileira. Quem procurar não
vai achar: sua obra não passeia
pelos livros especializados.
O que talvez não importasse
nem um pouco para o artista,
que passou mais de 30 anos internado em um hospital psiquiátrico.
Suas montagens -feitas com
congas, vassouras, bonecas e
cacos de vidro, entre outros
objetos- foram subitamente
alçadas à fama nos seus últimos anos de vida e mais ainda
depois de sua morte.
Aí, então, o alvoroço foi tal
que, em 1995, 140 peças do artista, das 2.000 que produziu,
atravessaram o oceano para
participar da conceituada Bienal de Veneza.
Pouco antes, um bordado de
Rosário girou o Brasil como
ilustração da capa do disco
"Severino", dos Paralamas do
Sucesso.
Segundo declarações de Herbert Vianna dadas na época,
esse e outros trabalhos de Rosário estavam abandonados na
Colônia Juliano Moreira, o
hospital psiquiátrico de Jacarepaguá onde o artista morreu.
Arthur Bispo do Rosário, que
pôs mãos à obra enquanto interno do hospício, foi taxado
de "louco" por alguns e de "artista genial" por outros, que
viam em sua arte a tradução do
caos mental.
Filosofia
O literato Tobias Barreto,
que nasceu na vila de Campos,
tem a seu favor o fato de ter sido um dos primeiros filósofos
brasileiros. Contra, a predileção precoce por um estilo, digamos, tucano de ser.
O filósofo foi espiritualista
no início, depois aderiu ao positivismo, então em voga, para
depois criticar ambos e adotar
a metafísica.
Mas isso não impede que
Barreto, irradiador de inúmeras discussões filosóficas na
Universidade de Sergipe, onde
foi professor de direito, seja
defendido por gente do quilate
de Miguel Reale.
Para Reale, autor do livro
"Filosofia Alemã no Brasil"
(USP, 1974), o maior mérito de
Tobias Barreto é o de ter disposto as pilastras do pensamento brasileiro.
O pensador, que também
exerceu o jornalismo, criticava
a enorme influência estrangeira, notadamente francesa, na
cultura nacional.
Durante toda a sua vida filosófica, Barreto empunhou armas contra essa tendência. Dizia que o Brasil deveria se despojar das "muletas francesas" e
trilhar caminho próprio.
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