São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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GENTE QUE FEZ
Filósofo e artista despertam controvérsias
Famosos do Estado animam polêmica

CARLA ARANHA
da Reportagem Local

Um na filosofia e literatura, outro no campo das artes plásticas, os dois sergipanos de maior renome nacional viveram e morreram imersos em um mar de polêmica que até hoje respinga na análise de suas obras.
Sobre o literato Tobias Barreto (1839-1889), que empresta seu nome a ruas e escolas de Aracaju, pesa a acusação de falta de coerência filosófica.
Já no caso do artista plástico Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), esquizofrênico, a controvérsia está centrada em um ponto de interrogação: gênio ou louco?
Nem mesmo admiradores famosos de Rosário, como os integrantes da banda Paralamas do Sucesso, e uma exposição em Veneza, realizada em 1995, puderam ajudar a responder essa questão.
É bom lembrar também que o trabalho do artista até hoje não consta dos "anais" da arte brasileira. Quem procurar não vai achar: sua obra não passeia pelos livros especializados.
O que talvez não importasse nem um pouco para o artista, que passou mais de 30 anos internado em um hospital psiquiátrico.
Suas montagens -feitas com congas, vassouras, bonecas e cacos de vidro, entre outros objetos- foram subitamente alçadas à fama nos seus últimos anos de vida e mais ainda depois de sua morte.
Aí, então, o alvoroço foi tal que, em 1995, 140 peças do artista, das 2.000 que produziu, atravessaram o oceano para participar da conceituada Bienal de Veneza.
Pouco antes, um bordado de Rosário girou o Brasil como ilustração da capa do disco "Severino", dos Paralamas do Sucesso.
Segundo declarações de Herbert Vianna dadas na época, esse e outros trabalhos de Rosário estavam abandonados na Colônia Juliano Moreira, o hospital psiquiátrico de Jacarepaguá onde o artista morreu.
Arthur Bispo do Rosário, que pôs mãos à obra enquanto interno do hospício, foi taxado de "louco" por alguns e de "artista genial" por outros, que viam em sua arte a tradução do caos mental.

Filosofia
O literato Tobias Barreto, que nasceu na vila de Campos, tem a seu favor o fato de ter sido um dos primeiros filósofos brasileiros. Contra, a predileção precoce por um estilo, digamos, tucano de ser.
O filósofo foi espiritualista no início, depois aderiu ao positivismo, então em voga, para depois criticar ambos e adotar a metafísica.
Mas isso não impede que Barreto, irradiador de inúmeras discussões filosóficas na Universidade de Sergipe, onde foi professor de direito, seja defendido por gente do quilate de Miguel Reale.
Para Reale, autor do livro "Filosofia Alemã no Brasil" (USP, 1974), o maior mérito de Tobias Barreto é o de ter disposto as pilastras do pensamento brasileiro.
O pensador, que também exerceu o jornalismo, criticava a enorme influência estrangeira, notadamente francesa, na cultura nacional.
Durante toda a sua vida filosófica, Barreto empunhou armas contra essa tendência. Dizia que o Brasil deveria se despojar das "muletas francesas" e trilhar caminho próprio.



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