São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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Lenda diz que botos engravidam solteiras

em Maués (AM)

Saboreie um peixe frito (pacu, jaraqui, ou, que tal, um pirarucu?) com a farinha do Uarini (única) encantado com as lendas sobre os pescadores do Amazonas.
Dê preferência aos bares e restaurantes situados à beira dos rios, como o imponente Maués-Açu, que banha Maués.
Antes de se entregar aos causos, ambientados nos rios e nas floresta, é bom saber que histórias de pescadores estão incorporadas à vida do Amazonas, onde essas lendas ajudam a compreender um pouco melhor a cultura de sua gente, que depende dos rios para praticamente tudo na vida.
Famosa em Maués é a lenda do pescador Anselmo (há versões com outros nomes), que teria peregrinado durante as décadas de 30 e 40. Mantinha, contam os nativos, um comportamento considerado diferente pelos habitantes.
Anselmo, por exemplo, não costumava levar os utensílios necessários para garantir uma boa pescaria, quando saía pelos rios amazonenses.
Mesmo assim, conta a lenda, era o pescador que conseguia a melhor performance, sempre fisgando a maior quantidade possível de peixes e superando, de longe, seus concorrentes.
Há antigos pescadores de Maués, hoje com mais de 80 anos, que também contam que Anselmo aparecia às margens de rios mais distantes do município sem ter saído de barco. Ninguém entendia ao certo como ele chegava a esses lugares longínquos.
A lenda ainda diz que Anselmo teria se encantando com as riquezas dos rios e resolveu então seguir um boto, à noite, no meio da floresta. Nunca mais viram Anselmo em Maués.
Segundo alguns moradores, ele às vezes aparece incorporado ao vento ou ao banzeiro na ponta da praia do rio Maués-Açu.
Suas aparições ganham diferentes contornos: ele também surge, sempre segundo a lenda, de chapéu, para outros moradores.
Dizem os pescadores que Anselmo promete voltar a viver como um ser humano, caso os moradores de Maués cumpram um ritual religioso com oferenda aos rios do Amazonas.

Os botos
O boto é um animal presente em boa parte das histórias de pescadores da Amazônia.
Uma delas narra que o boto-vermelho, conhecido no resto do Brasil como boto-cor-de-rosa, frequentava os forrós de moradores e as festas de índios da região.
Transformado em homem, todo vestido de branco, usava um chapéu como disfarce. Dessa forma, seria possível, alimenta a lenda, passar imune ao arpão dos pescadores.
Então o boto caía na festança. Dançava com as moças e seguia em direção às matas ciliares, bem próximas aos rios, esconderijo perfeito para o amor.
Segue a lenda dizendo que as mulheres apareciam grávidas depois desses encontros ardentes.
O pai da criança, como não podia deixar de ser, era o boto, e seus filhos nasciam com os pés voltados para trás.
Estudiosos do folclore amazonense afirmam que as mulheres contavam essa lengalenga para justificar o fato de serem mães solteiras. Mas o boto no Amazonas também despeja sua sedução por outros cantos.
O boto-tucuxi, por exemplo, é conhecido entre os pescadores por ser um animal amigo das crianças. Nas pescarias, o tucuxi seria o companheiro ideal.
Conta a lenda que o boto é um bicho que funciona como um guia de direção para os cardumes de peixes e age como o salvador em situações complicadas, como em tempestades.
Quando o boto percebe que irá chover muito forte sobre um rio, ele desvia o percurso do pescador em outras direções de águas mais tranquilas.
Vem daí, dizem os estudiosos, o motivo que leva alguns pescadores a acreditar que o boto é um animal que dá sorte.
Quando apanham um boto em suas redes, alguns pescadores arrancam os olhos do animal e os carregam dentro dos bolsos como um amuleto.
Os olhos significam, na história difundida entre os pescadores, sorte nos rios e no amor. (RO)

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