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BRASIL QUADRO A QUADRO
Obras expostas em museus brasileiros contam a história da chegada de Cabral ao Novo Mundo
Pinturas testemunham Descobrimento
FEDERICO MENGOZZI
especial para a Folha
Pena que não houvesse um pintor na armada comandada por Pedro Álvares Cabral. Por mais que a
carta de Pero Vaz de Caminha descreva em minúcias a terra e sua
gente, não existem imagens do instante da descoberta do Brasil.
Foi preciso esperar mais de três
séculos e meio para que, sobretudo por obra dos pintores acadêmicos do Segundo Reinado, se conseguisse, com alguma arte e muita
imaginação, reconstituir os primeiros movimentos da criação de
um novo país.
São quadros meramente ilustrativos, que, colocados na sequência
em que se deram os acontecimentos, se transformam numa espécie
de história em quadrinhos que pode ser "lida" com muito prazer e
alguma surpresa.
Em "A Providência Guia Cabral" (Pinacoteca do Estado, São
Paulo), Eliseu Visconti
(1866-1944) faz uma alegoria do
navegador que singra os mares
confiante em si mesmo, mas sem
dispensar o auxílio da sorte -ou
da Providência.
Já "Descobrimento do Brasil"
(Museu Nacional de Belas Artes,
Rio), de Aurélio de Figueiredo
(1856-1916), mostra o momento
exato em que se avista a terra.
Pedro Álvares Cabral aponta para o horizonte com a mão esquerda, vestido como se fosse a um baile de gala -e isso depois de um
mês e meio de mar, com todo o
desconforto que caracterizava as
viagens marítimas daquele tempo.
O português José Malhoa
(1855-1933) também registra a cena em "Cabral Avista a Costa Brasileira" (Real Gabinete Português
de Leitura, Rio) e retrata um comandante menos plácido, em pinceladas quase expressionistas.
Descoberta a terra, é preciso entrar em contato com sua natureza
e, se existirem, seus habitantes.
É a cena que Oscar Pereira da Silva (1867-1939) recria em "Desembarque de Cabral em Porto Seguro" (Museu Paulista, São Paulo),
com a figura do comandante Nicolau Coelho junto ao estandarte da
Ordem de Cristo, trocando presentes com os indígenas.
A contrapartida, a visita dos habitantes da terra a uma das naus, o
mesmo artista recriou em "Índios
a Bordo da Nau Capitânia de Cabral" (Museu Paulista).
Mal-humorado como só um pintor acadêmico pode ser, Pereira da
Silva reconstitui a cena que Cabral
montou para impressionar os nativos, mas nem pensou em registrar o medo que sentiram de uma
galinha que lhes foi mostrada.
O episódio da Primeira Missa rezada em terra brasileira comparece em dois famosos quadros acadêmicos: "Elevação da Cruz"
(Museu Nacional de Belas Artes),
de Pedro Peres (1850-1923), e
"Primeira Missa" (Museu Nacional de Belas Artes), de Vítor Meireles (1832-1903).
Em ambos, o congraçamento de
europeus e indígenas, que presenciam a cena com curiosidade e sem
entender direito o que se passa. Só
que, em vez de retratar a Primeira
Missa, Meireles na verdade retratou a segunda, celebrada no dia 1º
de maio de 1500, em terra firme.
Bem mais tarde, Cândido Portinari (1903-1962) reproduziu a cena
numa têmpera sobre tela em que se
vale das lições do cubismo: "A
Primeira Missa no Brasil" (Banco
Central, Brasília).
É hora de comunicar a descoberta a dom Manuel 1º. Em "Leitura
da Carta de Caminha" (Biblioteca
Municipal, SP), também de Aurélio de Figueiredo, um público especial -Pedro Álvares Cabral,
mestre João e frei Henrique de
Coimbra- ouve atentamente a
leitura da carta pelo escrivão.
Então, contam os historiadores,
uma nau comandada por Gaspar
de Lemos se dirigiu a Portugal, e a
armada retomou o caminho para
as Índias, de onde Cabral voltaria
cheio de glória, para morrer duas
décadas depois, esquecido.
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