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MERCADO
Oscilações do câmbio podem prejudicar número de embarques, que caiu de 10% a 15% entre janeiro e abril
Dólar caro mingua negócios com o Canadá
SANDRA BALBI
ENVIADA ESPECIAL A TORONTO
A disparada do dólar na última
semana -chegou a bater em R$
2,35 na terça- provocou um
friozinho na barriga dos 14 operadores brasileiros que participavam da 25ª Rendez-Vous Canadá,
a principal feira de turismo canadense, em Toronto.
Eles estavam em busca de novos
pacotes e acordos de cooperação
com os governos provinciais (estaduais) para enviar 58,6 mil turistas brasileiros ao país neste
ano, segundo projeção da CTC
(Comissão de Turismo do Canadá). Um aumento de mais de 11%
em relação ao ano passado.
Mas as oscilações do câmbio
poderão levar os operadores a rever suas projeções de embarque.
No ano passado, o Brasil foi o
país que registrou o maior aumento do número de visitantes,
26% a mais do que no ano anterior. Foi um crescimento sobre
uma base baixa, pois em 1999,
quando o dólar saltou de R$ 1,20
para R$ 1,80, muita gente desfez
as malas às vésperas do embarque
(queda de 22,9% no movimento).
Agora os operadores temem
que a retomada dos negócios, esperada este ano, acabe minguando. "Enquanto o câmbio oscilar
no Brasil, seremos afetados aqui",
diz Alfredo Rost, presidente da
CTC para a América Latina e da
operadora canadense Incentours.
No ano passado ele embarcou 12
mil brasileiros para o Canadá. De
janeiro a abril, os embarques caíram entre 10% e 15%.
Ruim para quem vai viajar, pior
para quem vive de vender pacotes, serviços e produtos vorazmente consumidos pelos viajantes brasileiros. "Eles chegam com
uma mala e, no meio da viagem,
estão com três", conta Rost, que
organiza tours de brasileiros pelo
Canadá desde 1979.
Segundo a CTC, o turista brasileiro é o visitante mais gastador
do Canadá. Cada um deixa no
país CN$ 2.133 (dólares canadenses) por estada (CN$ 1 vale US$
0,65). "É o mais alto valor gasto
por estrangeiros", diz Leslie Benveniste, representante no Brasil
da CTC. Os gastos de um brasileiro equivalem aos de 5,21 americanos. No ano passado 51,4 mil brasileiros que visitaram o país deixaram CN$ 126,3 milhões.
Parece uma fortuna, mas para o
porte da indústria canadense de
turismo o total é uma gota de
água no oceano. O setor movimenta CN$ 50 bilhões por ano e
emprega 400 mil pessoas. Hoje o
país é um dos dez mais visitados
do mundo. Com 32 milhões de
habitantes, recebe anualmente
cerca de 21 milhões de visitantes.
Talvez por terem um peso tão
pequeno nos negócios de turismo
desse gigante, os operadores brasileiros que tentaram aproveitar o
contato mantido com seus fornecedores durante o Rendez-Vous
Canadá para renegociar preços tiveram pouco sucesso.
A Soletur foi ao encontro mais
preocupada com preços do que
com novos destinos. Segundo
Luiz Felix, gerente de produtos da
empresa, "a receptividade à renegociação de contratos foi tímida".
Felix diz que em janeiro conseguiu uma redução de 5% nos preços dos fornecedores e, agora,
busca um corte de mais 12%. Sem
isso, diz ele, ficará difícil manter o
ritmo de embarques previsto para
5.000 pessoas este ano.
Já a CVC queria garimpar novos
roteiros. "Estamos entrando na
alta estação, e há uma grande demanda de outros países que não
têm as mesmas dificuldade que o
Brasil. O que dava para negociar
em termos de preço já ocorreu no
início do ano", diz Barbara Picolli,
representante da empresa. Além
disso, ela não acredita que a atual
oscilação do câmbio vá afetar a vida de quem viaja para o exterior.
"São pessoas de alto poder aquisitivo, muitos têm dólar guardado."
O porte da indústria canadense
de turismo é estampado em suas
feiras anuais. Este ano, segundo a
Tiac (Tourism Industry Association of Canada), representante do
setor, 1.763 delegados, representando todas as Províncias canadenses, operadores e vendedores
de serviços, além de jornalistas e
compradores de produtos e serviços do mundo inteiro, estiveram
na feira. Durante quatro dias, de
12 a 16 deste mês, eles lotaram o
moderno edifício do Metro Toronto Convention Centre.
Estima-se que o encontro resulte em CN$ 350 milhões em negócios a serem fechados posteriormente. Ao todo, participaram 856
delegados e 526 organizações pelo
lado dos vendedores e 437 delegados e 311 organizações pelo lado
dos compradores.
Sandra Balbi, editora do Folhainvest,
viajou a convite da Comissão de Turismo
do Canadá
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