São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2001

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MERCADO

Oscilações do câmbio podem prejudicar número de embarques, que caiu de 10% a 15% entre janeiro e abril

Dólar caro mingua negócios com o Canadá

SANDRA BALBI
ENVIADA ESPECIAL A TORONTO

A disparada do dólar na última semana -chegou a bater em R$ 2,35 na terça- provocou um friozinho na barriga dos 14 operadores brasileiros que participavam da 25ª Rendez-Vous Canadá, a principal feira de turismo canadense, em Toronto.
Eles estavam em busca de novos pacotes e acordos de cooperação com os governos provinciais (estaduais) para enviar 58,6 mil turistas brasileiros ao país neste ano, segundo projeção da CTC (Comissão de Turismo do Canadá). Um aumento de mais de 11% em relação ao ano passado.
Mas as oscilações do câmbio poderão levar os operadores a rever suas projeções de embarque.
No ano passado, o Brasil foi o país que registrou o maior aumento do número de visitantes, 26% a mais do que no ano anterior. Foi um crescimento sobre uma base baixa, pois em 1999, quando o dólar saltou de R$ 1,20 para R$ 1,80, muita gente desfez as malas às vésperas do embarque (queda de 22,9% no movimento).
Agora os operadores temem que a retomada dos negócios, esperada este ano, acabe minguando. "Enquanto o câmbio oscilar no Brasil, seremos afetados aqui", diz Alfredo Rost, presidente da CTC para a América Latina e da operadora canadense Incentours. No ano passado ele embarcou 12 mil brasileiros para o Canadá. De janeiro a abril, os embarques caíram entre 10% e 15%.
Ruim para quem vai viajar, pior para quem vive de vender pacotes, serviços e produtos vorazmente consumidos pelos viajantes brasileiros. "Eles chegam com uma mala e, no meio da viagem, estão com três", conta Rost, que organiza tours de brasileiros pelo Canadá desde 1979.
Segundo a CTC, o turista brasileiro é o visitante mais gastador do Canadá. Cada um deixa no país CN$ 2.133 (dólares canadenses) por estada (CN$ 1 vale US$ 0,65). "É o mais alto valor gasto por estrangeiros", diz Leslie Benveniste, representante no Brasil da CTC. Os gastos de um brasileiro equivalem aos de 5,21 americanos. No ano passado 51,4 mil brasileiros que visitaram o país deixaram CN$ 126,3 milhões.
Parece uma fortuna, mas para o porte da indústria canadense de turismo o total é uma gota de água no oceano. O setor movimenta CN$ 50 bilhões por ano e emprega 400 mil pessoas. Hoje o país é um dos dez mais visitados do mundo. Com 32 milhões de habitantes, recebe anualmente cerca de 21 milhões de visitantes.
Talvez por terem um peso tão pequeno nos negócios de turismo desse gigante, os operadores brasileiros que tentaram aproveitar o contato mantido com seus fornecedores durante o Rendez-Vous Canadá para renegociar preços tiveram pouco sucesso.
A Soletur foi ao encontro mais preocupada com preços do que com novos destinos. Segundo Luiz Felix, gerente de produtos da empresa, "a receptividade à renegociação de contratos foi tímida".
Felix diz que em janeiro conseguiu uma redução de 5% nos preços dos fornecedores e, agora, busca um corte de mais 12%. Sem isso, diz ele, ficará difícil manter o ritmo de embarques previsto para 5.000 pessoas este ano.
Já a CVC queria garimpar novos roteiros. "Estamos entrando na alta estação, e há uma grande demanda de outros países que não têm as mesmas dificuldade que o Brasil. O que dava para negociar em termos de preço já ocorreu no início do ano", diz Barbara Picolli, representante da empresa. Além disso, ela não acredita que a atual oscilação do câmbio vá afetar a vida de quem viaja para o exterior. "São pessoas de alto poder aquisitivo, muitos têm dólar guardado."
O porte da indústria canadense de turismo é estampado em suas feiras anuais. Este ano, segundo a Tiac (Tourism Industry Association of Canada), representante do setor, 1.763 delegados, representando todas as Províncias canadenses, operadores e vendedores de serviços, além de jornalistas e compradores de produtos e serviços do mundo inteiro, estiveram na feira. Durante quatro dias, de 12 a 16 deste mês, eles lotaram o moderno edifício do Metro Toronto Convention Centre.
Estima-se que o encontro resulte em CN$ 350 milhões em negócios a serem fechados posteriormente. Ao todo, participaram 856 delegados e 526 organizações pelo lado dos vendedores e 437 delegados e 311 organizações pelo lado dos compradores.


Sandra Balbi, editora do Folhainvest, viajou a convite da Comissão de Turismo do Canadá



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