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ÁGUAS E TRILHAS
Rafting, canyoning, banhos de cachoeira e caminhadas são algumas das opções para adultos e crianças
Brotas garante diversão com ecoturismo
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
enviada especial a Brotas (SP)
Caminhadas por trilhas que margeiam rios limpos e dão em cachoeiras, bóia-cross, rafting e ca-nyoning são atividades comuns
nos passeios em Brotas (a 247 quilômetros de São Paulo) e boas para
quem gosta do contato com a natureza e de praticar esportes.
O visitante pode escolher entre
ficar em hotéis que oferecem programação pronta de passeios ou
alugar casa ou sítio (leia texto abaixo) e fazer seu roteiro pessoal de
diversão, contatando as agências
de aventuras ecológicas.
A paisagem de Brotas é impactante. O patrimônio geológico são
as "cuestas basálticas", com mata
nativa preservada em vales e encostas, e o manancial hídrico, com
mais de 30 cachoeiras -destaca-se o rio Jacaré-Pepira, afluente do
Tietê. Predominam a vegetação de
cerrado e a mata de planalto.
A cidade, hoje com cerca de 18
mil habitantes, teve seu auge de desenvolvimento no início do século
com a cultura do café em fazendas
que estão lá até hoje, só que agora
criando gado de corte e de leite,
plantando laranja, eucalipto, cana-de-açúcar e, mais recentemente
(pouco mais de cinco anos), abrindo as porteiras para o turismo. A
diversão provém dessas propriedades particulares.
Astor Speranza, 64, é o dono da
fazenda Astor, de 80 alqueires, que
fica na região de Cassorova. Herança de família e com mais de cem
anos, a fazenda tem a cachoeira do
Astor, de 35 metros de altura, formada pelo ribeirão do Pinheirinho
e onde ocorre a prática do canyoning. Speranza conta que foi "forçado" pelo prefeito de Brotas a
abrir sua propriedade.
"Não gosto de ficar preso aqui,
sou escravo do que tenho. O prefeito pediu para eu fazer esse serviço porque estavam depredando
tudo. Enjoamos de recolher garrafas de plástico. Tiramos duas carretas de trator de lixo só do estacionamento. Agora gastei R$ 15 mil
com instalações e para puxar água.
Não sei quando terei retorno. Não
é do jeito que a turma pensa, mas o
turismo ajuda, porque todo mundo está em crise."
Speranza diz que o fluxo organizado de turistas ajuda a preservar a
região. "Aqui há turismo há mais
de dez anos, entrava e saía gente o
dia inteiro da minha fazenda. Eu
estava tirando leite, não podia ficar
vigiando. Mas falta muita coisa, o
turismo está engatinhando. Vamos ver se meus sucessores encaminham isso aqui."
Para Renato Scatolin, 26, um dos
sócios da agência Mata'dentro
Ecoturismo e Aventura, "o ecoturismo chegou como alternativa de
desenvolvimento da cidade, que
estava parada, com pouca auto-estima, pois a maioria da população
se baseou na cana-de-açúcar, e hoje está tudo quebrando. Brotas tem
propriedades rurais em decadência porque a agricultura no Brasil
perde dinheiro."
A Mata'dentro, que existe há seis
anos, tem vários parceiros e três
sócios que promovem a prática de
esportes. "Eu e José Carlos de
Francisco Júnior, 35, que era zootecnista, somos de Brotas. O terceiro sócio é Fernando Leal, de São
Paulo. Comecei a faculdade de engenharia civil e parei no quarto
ano. A Mata'dentro foi uma coisa
de moleque, mas que tinha objetivo sério." Agora a empresa fatura
entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês
em alta temporada (de novembro
a março). "Mas até abril deste ano
estávamos tendo reservas."
Segundo Scatolin, julho não é um
mês frio em Brotas. "De dia faz calor, e à noite esfria. Às vezes, vem o
frio e dura de três a quatro dias,
mas logo passa."
Reino das caminhadas
A reportagem esteve em Brotas
por três dias experimentando o lazer que a cidade proporciona a jovens, grupos de amigos ou famílias
com crianças. No primeiro dia, para começar com uma atividade leve, o passeio pela trilha de Santa
Maria é agradável nesta época.
A caminhada dura uma hora em
mata secundária e primária, cruzando quatro vezes o ribeirão de
Santa Maria. Nela o visitante reconhece jequitibás, figueiras e jatobás e observa a luz adentrar a mata,
colorindo as árvores, até alcançar a
cachoeira de Santa Maria, que tem
60 metros de altura e um barulho
estonteante.
No mesmo dia, se você chegar cedo, é possível visitar a fonte que
desperta a maior curiosidade nos
turistas: a nascente de água Areia
que Canta, que fica na fazenda Tamanduá, cercada de mata ciliar.
O olho d'água borbulha em uma
piscina natural. Se você mergulha
ali, a força da água devolve seu corpo à superfície. Devido a uma propriedade específica, a areia emite
som similar ao de cuíca quando esfregada nas mãos.
Há outras inúmeras trilhas, como a do Bom Jardim, mais agreste,
com percurso de relevo acidentado e duração de quatro horas. No
caminho, há vários córregos da bacia do rio Jacaré-Pepira.
Novo programa
A agência Mata'dentro tem novo
programa para as férias de julho,
próprio para quem tem vontade de
caminhar. Trata-se de dois dias de
aventuras no vale do rio do Peixe.
O visitante caminha, cavalga,
pratica canyoning e relaxa à noite
com conversas ao pé da fogueira.
O vale do rio do Peixe é uma fenda na "cuesta basáltica" cercada de
paisagens preservadas. Há só uma
via de acesso. Na caminhada, o visitante encontra duas cachoeiras.
No primeiro dia, são 15 quilômetros de trilha, com pausas para
mergulho e lanche.
Depois de duas horas e meia, vê-se a primeira cachoeira e depois a
segunda, com piscina natural. O
pior vem a seguir: trecho em subida de mais de 150 metros. O esforço é recompensado no ápice, de
onde se tem a melhor visão do vale.
Lá está a fazenda Santa Cruz do
Paredão. O grupo de aventureiros
pernoita no casarão abandonado
da fazenda, que não tem água nem
energia elétrica.
Depois do banho no rio, os zeladores da fazenda servem o jantar,
feito em fogão a lenha. No dia seguinte, o café da manhã é servido
na varanda e, depois, são cinco
quilômetros de cavalgada até a cachoeira do Paredão, com 66 metros de altura. Aí acontece a prática
do canyoning.
A agência assegura que a cachoeira não é difícil para iniciantes
e há a opção de descer por uma trilha paralela a ela. Depois da atividade, há duas horas de caminhada
pelo outro lado do vale, cruzando
riachos, fazendas e campos típicos
da paisagem brotense.
A Mata'dentro recomenda uma
mala com tênis confortáveis, mochila impermeável, cantil, protetor
solar, boné ou chapéu, duas toalhas, saco de dormir, cobertor,
agasalho e conjunto de roupa sobressalente. A alimentação está incluída no pacote, que custa R$ 178
em duas vezes. As saídas são quinzenais, nos sábados, às 9h, com retorno nos domingos, às 16h.
Mônica Rodrigues da Costa e Lili Martins viajaram a convite das agências Casa & Cia e Mata'dentro Ecoturismo e Aventura.
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