São Paulo, Segunda-feira, 21 de Junho de 1999
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ÁGUAS E TRILHAS
Rafting, canyoning, banhos de cachoeira e caminhadas são algumas das opções para adultos e crianças
Brotas garante diversão com ecoturismo

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
enviada especial a Brotas (SP)

Caminhadas por trilhas que margeiam rios limpos e dão em cachoeiras, bóia-cross, rafting e ca-nyoning são atividades comuns nos passeios em Brotas (a 247 quilômetros de São Paulo) e boas para quem gosta do contato com a natureza e de praticar esportes.
O visitante pode escolher entre ficar em hotéis que oferecem programação pronta de passeios ou alugar casa ou sítio (leia texto abaixo) e fazer seu roteiro pessoal de diversão, contatando as agências de aventuras ecológicas.
A paisagem de Brotas é impactante. O patrimônio geológico são as "cuestas basálticas", com mata nativa preservada em vales e encostas, e o manancial hídrico, com mais de 30 cachoeiras -destaca-se o rio Jacaré-Pepira, afluente do Tietê. Predominam a vegetação de cerrado e a mata de planalto.
A cidade, hoje com cerca de 18 mil habitantes, teve seu auge de desenvolvimento no início do século com a cultura do café em fazendas que estão lá até hoje, só que agora criando gado de corte e de leite, plantando laranja, eucalipto, cana-de-açúcar e, mais recentemente (pouco mais de cinco anos), abrindo as porteiras para o turismo. A diversão provém dessas propriedades particulares.
Astor Speranza, 64, é o dono da fazenda Astor, de 80 alqueires, que fica na região de Cassorova. Herança de família e com mais de cem anos, a fazenda tem a cachoeira do Astor, de 35 metros de altura, formada pelo ribeirão do Pinheirinho e onde ocorre a prática do canyoning. Speranza conta que foi "forçado" pelo prefeito de Brotas a abrir sua propriedade.
"Não gosto de ficar preso aqui, sou escravo do que tenho. O prefeito pediu para eu fazer esse serviço porque estavam depredando tudo. Enjoamos de recolher garrafas de plástico. Tiramos duas carretas de trator de lixo só do estacionamento. Agora gastei R$ 15 mil com instalações e para puxar água. Não sei quando terei retorno. Não é do jeito que a turma pensa, mas o turismo ajuda, porque todo mundo está em crise."
Speranza diz que o fluxo organizado de turistas ajuda a preservar a região. "Aqui há turismo há mais de dez anos, entrava e saía gente o dia inteiro da minha fazenda. Eu estava tirando leite, não podia ficar vigiando. Mas falta muita coisa, o turismo está engatinhando. Vamos ver se meus sucessores encaminham isso aqui."
Para Renato Scatolin, 26, um dos sócios da agência Mata'dentro Ecoturismo e Aventura, "o ecoturismo chegou como alternativa de desenvolvimento da cidade, que estava parada, com pouca auto-estima, pois a maioria da população se baseou na cana-de-açúcar, e hoje está tudo quebrando. Brotas tem propriedades rurais em decadência porque a agricultura no Brasil perde dinheiro."
A Mata'dentro, que existe há seis anos, tem vários parceiros e três sócios que promovem a prática de esportes. "Eu e José Carlos de Francisco Júnior, 35, que era zootecnista, somos de Brotas. O terceiro sócio é Fernando Leal, de São Paulo. Comecei a faculdade de engenharia civil e parei no quarto ano. A Mata'dentro foi uma coisa de moleque, mas que tinha objetivo sério." Agora a empresa fatura entre R$ 30 mil e R$ 40 mil por mês em alta temporada (de novembro a março). "Mas até abril deste ano estávamos tendo reservas."
Segundo Scatolin, julho não é um mês frio em Brotas. "De dia faz calor, e à noite esfria. Às vezes, vem o frio e dura de três a quatro dias, mas logo passa."

Reino das caminhadas
A reportagem esteve em Brotas por três dias experimentando o lazer que a cidade proporciona a jovens, grupos de amigos ou famílias com crianças. No primeiro dia, para começar com uma atividade leve, o passeio pela trilha de Santa Maria é agradável nesta época.
A caminhada dura uma hora em mata secundária e primária, cruzando quatro vezes o ribeirão de Santa Maria. Nela o visitante reconhece jequitibás, figueiras e jatobás e observa a luz adentrar a mata, colorindo as árvores, até alcançar a cachoeira de Santa Maria, que tem 60 metros de altura e um barulho estonteante.
No mesmo dia, se você chegar cedo, é possível visitar a fonte que desperta a maior curiosidade nos turistas: a nascente de água Areia que Canta, que fica na fazenda Tamanduá, cercada de mata ciliar.
O olho d'água borbulha em uma piscina natural. Se você mergulha ali, a força da água devolve seu corpo à superfície. Devido a uma propriedade específica, a areia emite som similar ao de cuíca quando esfregada nas mãos.
Há outras inúmeras trilhas, como a do Bom Jardim, mais agreste, com percurso de relevo acidentado e duração de quatro horas. No caminho, há vários córregos da bacia do rio Jacaré-Pepira.

Novo programa
A agência Mata'dentro tem novo programa para as férias de julho, próprio para quem tem vontade de caminhar. Trata-se de dois dias de aventuras no vale do rio do Peixe.
O visitante caminha, cavalga, pratica canyoning e relaxa à noite com conversas ao pé da fogueira.
O vale do rio do Peixe é uma fenda na "cuesta basáltica" cercada de paisagens preservadas. Há só uma via de acesso. Na caminhada, o visitante encontra duas cachoeiras. No primeiro dia, são 15 quilômetros de trilha, com pausas para mergulho e lanche.
Depois de duas horas e meia, vê-se a primeira cachoeira e depois a segunda, com piscina natural. O pior vem a seguir: trecho em subida de mais de 150 metros. O esforço é recompensado no ápice, de onde se tem a melhor visão do vale.
Lá está a fazenda Santa Cruz do Paredão. O grupo de aventureiros pernoita no casarão abandonado da fazenda, que não tem água nem energia elétrica.
Depois do banho no rio, os zeladores da fazenda servem o jantar, feito em fogão a lenha. No dia seguinte, o café da manhã é servido na varanda e, depois, são cinco quilômetros de cavalgada até a cachoeira do Paredão, com 66 metros de altura. Aí acontece a prática do canyoning.
A agência assegura que a cachoeira não é difícil para iniciantes e há a opção de descer por uma trilha paralela a ela. Depois da atividade, há duas horas de caminhada pelo outro lado do vale, cruzando riachos, fazendas e campos típicos da paisagem brotense.
A Mata'dentro recomenda uma mala com tênis confortáveis, mochila impermeável, cantil, protetor solar, boné ou chapéu, duas toalhas, saco de dormir, cobertor, agasalho e conjunto de roupa sobressalente. A alimentação está incluída no pacote, que custa R$ 178 em duas vezes. As saídas são quinzenais, nos sábados, às 9h, com retorno nos domingos, às 16h.


Mônica Rodrigues da Costa e Lili Martins viajaram a convite das agências Casa & Cia e Mata'dentro Ecoturismo e Aventura.


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