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BALEIA À VISTA
Caçador do mamífero só ganhava uns trocados
Marcelo Pigler/Folha Imagem
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O ex-caçador de baleias Mattos, hoje com 82 anos, que tem saudades da época em que havia mais peixe no mar |
DO ENVIADO ESPECIAL A IMBITUBA
Ex-caçador de baleias, Celdolino Alexandre Mattos trabalhou
como timoneiro de um grupo de
caçadores entre 1950 e 1956. Hoje,
aos 82 anos, lembra-se de como
era feito o serviço, proibido em
1973.
(MARCELO PLIGER)
Folha - Como era a caça?
Celdolino Alexandre Mattos - A
gente remava até a baleia [e levava" dois ou três minutos para chegar ao animal. Então acendia a dinamite na ponta do arpão, para
ter propulsão, e acertava. Fazia
duas espoletas, dois estopins, colocava prego para segurar no
"bomb-lança". Na ponta do estopim, colocava cinco ou seis fósforos. Quando a baleia subia, o arpoador fincava a lança afiada. Era
rápido. Um arpão só já matava.
Uma vez um pescador usou um
barco pequeno para colocar um
"bomb-lança". Mas o arpoador
não era bom, ele colocou muita
força e o arpão atravessou a baleia. Uma vez, um outro acertou
numa baleia morta.
Folha - Quantas pessoas participavam da caça?
Mattos - Eram 18 em três barcos,
com um arpoador e um timoneiro para cada um.
Folha - Como vocês traziam a baleia para a terra?
Mattos - No braço. Depois a gente usava um guincho para puxá-la
até o barracão [onde era preparado o óleo, hoje sede do Museu da
Baleia". A gente também perdia
muita baleia. Lutar contra a água
era o mais difícil. Um dia trabalhamos o dia todo no mar para
trazer só uma. Chegou a noite e o
mar quebrava, então achamos
que o mar ia levar a baleia morta
lá para Itapirubá. Quebramos até
a quilha da lancha naquele marzão. No dia seguinte, cadê a baleia? O mar havia levado.
Folha - As baleias não revidavam?
Mattos - Nunca. É bicho muito
manso, a gente chegava tão perto
que dava para subir nela. Não fazia nada. Teve só uma vez que um
filhote já crescido deu trabalho. Se
uma baleia pegar mesmo, corta o
barco ao meio. Mas nunca aconteceu. Numa ocasião avistamos,
eu e o irmão do Chico Paes, um
macho em cima da fêmea. Quando a gente chegou, o macho já tinha saído, mas ela não teve tempo
de se virar. Nenhum dos dois fez
nada.
Folha - Vocês matavam filhotes?
Mattos - Não. Filhote nunca.
Folha - Quanto o senhor ganhava
caçando baleia?
Mattos - Só ganhava uns trocados. E era um trabalhão para pescar, desmanchar, picar tudo, preparar o óleo. Vivia comprando
fiado na venda. Quem pescava recebia pouco.
Folha - Como você começou a caçar baleias?
Mattos - Fui obrigado a abandonar a escola para ajudar minha
mãe, e os pescadores me convidaram para pescar anchova. Essa
praia [do Rosa", em novembro, ficava preta de anchova. Tinha
muito peixe, não era como agora.
Tinha peixe até o último dia de
pesca, 2 de novembro. A sardinha
encalhava na praia. Era tanta que
a gente enterrava no barranco,
porque sobrava. O peixe era dado.
Quando uma mãe de família perguntava por peixe, a gente respondia: "Pega aí, é de graça".
Agora é tudo difícil, falta peixe,
falta trabalho. Naquele tempo,
quem queria trabalhar trabalhava. E o serviço era pesado.
Folha - O que o senhor sente pensando nesse passado?
Mattos - Quem viveu naquele
tempo sente saudade. Vivia de janela aberta, porta aberta, não
acontecia nada. Hoje quem pega
uma garoupa fica admirado. A
gente matava baleia e deixava baleia viver. Tinha tanta tainha que
[a gente a" comia o ano todo. Hoje
ainda tem, mas naquele tempo
parece que era mais gostoso. Enquanto tiver saúde, graças a Deus,
quero deixar o barco rolar.
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