São Paulo, segunda, 22 de junho de 1998

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Itália era apenas a região da atual Calábria

WALTER CENEVIVA
da Equipe de Articulistas

Graças a Antioquio de Siracusa sabe-se que o nome "Itália" compreendia, originariamente, apenas a Calábria de hoje. Depois abrangeu desde o golfo de Taranto até o mar Tirreno, na informação do historiador grego Tucídides. Séculos mais tarde passou a designar todo o país.
Ao longo dos milênios, os meridionais se mantiveram fiéis ao solo, trabalhando na agricultura. O mar, o sol, o calor, por um lado, as montanhas, as vistas maravilhosas, as águas e os monumentos em pedra, por outro, em contraste com a falta de meios, não estimulavam o trabalho sistemático.
Constitui, porém, grave erro supor que os italianos meridionais sejam preguiçosos ou maus trabalhadores, como insistem os do norte. A história e a sociologia explicam por que a região se desenvolveu de modo diverso. Parte da explicação está na diversidade dos dominadores do sul por dois milênios. Gregos, romanos, vândalos e lombardos sucederam-se, até o século 5º, em destruição e reconstrução, agravadas por terremotos e ataques repetidos de sarracenos, expulsos no século 10º.
Os normandos, em meados do século 11, se deslocaram da Calábria à Puglia, em domínio que durou mais de cem anos. Nos séculos seguintes sucederam-se novos invasores, até a presença dos aragoneses entre os séculos 15 e 18. Nápoles foi submetida à monarquia dos Bourbon, que alternaram o controle com Napoleão.
Grandes esperanças cercaram a unificação da Itália no século 19, mas, com ela, se caracterizou mais fortemente o enriquecimento do norte e o empobrecimento do sul, em cujas causas se inclui o analfabetismo das populações rurais, contidas em economia feudal, estimulada por interesses da Igreja Católica. A miséria, o desemprego e a falta de garantias para os pobres marcaram a Itália meridional nos últimos 30 anos do século passado, detonando a emigração em massa.
O sul italiano e muitos de seus habitantes ainda são pobres, com renda anual inferior à média do país. O fluxo importante de imigrantes clandestinos (a mídia tem destacado os albaneses) contribui -com a prestação de serviços irregulares- para a depreciação da mão-de-obra.
Criado o Mercado Comum Europeu, muitos produtos agrícolas passaram a sofrer restrição no processo de exportação, o que só fez atrasar mais o progresso das províncias sulinas. Investimentos importantes, como as novas rodovias, ligando o sul a Roma, a criação de linhas aéreas para a Calábria, no aeroporto de La Mezia Terme, e a indústria siderúrgica em Taranto, por exemplo, não foram isentos de falhas.



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