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Mirella Domenich/Folha Imagem
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Casario colonial de Diamantina, cidade que foi tombada em 1999 pela Unesco como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Humanidade |
MENTES DE MINAS
Guias mirins declamam poemas nos pontos de Itabira em que o poeta se inspirou
Placas seguem trilha de Drummond
MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O poema "Confidência do Itabirano" (no alto) é um retrato da
transformação que Itabira, localizada a 102 km de Belo Horizonte
(MG), sofreu durante o século 20.
A descrição foi feita por seu mais
ilustre cidadão, o poeta Carlos
Drummond de Andrade, que, se
estivesse vivo, completaria seu
centenário em outubro deste ano.
Há comemorações marcadas
para celebrar a data, embora os
detalhes ainda não tenham sido
definidos (veja quadro).
Morto aos 84 anos no Rio, em
1987, Drummond preferia se lembrar da Itabira de sua infância,
aquela que ele podia recordar nas
fotografias da família e que descreveu em vários de seus poemas,
44 deles salpicados pela cidade em
forma de placas que compõem o
Museu de Território Caminhos
Drummondianos, criado em dezembro de 1997. As placas ficam
nos locais onde o poeta se inspirou para escrever os poemas.
Percorrer os Caminhos Drummondianos é a melhor maneira
de conhecer Itabira e entender a
poesia de Drummond, principalmente se você for acompanhado
por um guia mirim do projeto
Drummonzinhos.
Desde outubro do ano passado,
27 crianças itabiranas entre oito e
17 anos estão estudando a vida e a
obra do poeta para acompanhar
os turistas que a cidade espera receber durante este ano.
Elas foram selecionadas pelo
perfil socioeconômico -algumas
são carentes e outras pertencem a
um grupo de teatro. A cidade
também está desenvolvendo nas
escolas municipais aulas periódicas sobre a obra do poeta.
Os drummonzinhos, em particular, recebem treinamento intensivo. Duas vezes por semana,
duas horas por dia, eles têm aulas
sobre Drummond, de declamação de poesias, de teatro e de patrimônio histórico. "Há um projeto em tramitação na Câmara Municipal para que as crianças recebam meio salário mínimo por
mês para trabalhar 12 horas por
semana como guia turístico", diz
o superintendente da Fundação
Cultural Carlos Drummond de
Andrade, Cléber Rodrigues.
Tudo isso porque, na moderna
concepção de museu aberto, os
drummonzinhos não apenas
mostram os lugares por onde o
poeta passou, mas fazem uma leitura dramática de cada uma das
44 poesias colocadas em placas.
É o que acontece em frente à Casa do Brás, de 1857, que conserva
objetos do fotógrafo e livreiro
Brás Martins da Costa, que tirou a
primeira fotografia de Drummond. É um espaço dedicado a
eventos culturais e exposições.
Além de declamar o poema
"Imagem, Terra, Memória", os
drummonzinhos guiam os turistas dentro da casa, onde contam a
história do fotógrafo e mostram a
exposição do momento.
José
Já no hotel Itabira estão os poemas-placas "José" e "Sobrado do
Barão de Alfié". Segundo os
drummonzinhos, em "José", o
poeta se inspirou num episódio
que aconteceu com seu irmão
mais novo, José. Ele interrompeu
uma procissão para subir a cavalo
as escadarias do sobrado do barão
de Alfié (hoje hotel Itabira), para
declarar seu amor a uma moça.
No alto das escadarias, na porta
do hotel que conserva o ar de casarão do século passado, os
drummonzinhos Aline Santos, 17,
e Douglas Couto, 14, dão um show
de interpretação do poema. Para
quem está assistindo de baixo, a
imagem fica mais bonita porque
no muro que segura as escadarias
há a pintura do antigo cartão-postal da cidade, o pico do Cauê, devastado pela mineração.
Hoje o hotel Itabira pertence ao
primo de terceiro grau de Drummond, Walde Andrade, 42. Bom
de prosa, ele tem muitas histórias
da família para contar. No hall do
hotel, há diversas fotos antigas de
seus parentes. Até uma de José,
para matar a curiosidade.
No MCDA (Memorial Carlos
Drummond de Andrade), projetado por Oscar Niemeyer, é possível encontrar parte da obra do
poeta. Lá estão livros de sua biblioteca e o rádio que ele usou nos
últimos dez anos de vida.
O memorial fica na encosta do
pico do Amor, de onde se avista
parte da cidade. Inaugurado em
1998, ele é o último ponto visitado
no trajeto dos Caminhos Drummondianos, que tem início no trevo de entrada da cidade onde está
a estátua de Drummond e o poema-placa "A Ilusão do Migrante",
no qual o poeta se refere à importância de suas origens na sua vida.
Os passeios guiados devem ser
agendados e podem ser feitos individualmente ou em grupo. O
percurso todo dura duas horas e
meia, e é necessário ter um carro
para ir de um lado a outro da cidade. Quem estiver a pé tem condições apenas de visitar os 12 pontos
que ficam no centro histórico de
Itabira. Os drummonzinhos também terão o maior prazer em
acompanhá-lo na caminhada.
Museu de Território Caminhos
Drummondianos - Agendamento de
visitas no MCDA, tel. 0/xx/31/3831-1553,
das 8h às 18h, todos os dias. Grátis.
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