São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 2002

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Mirella Domenich/Folha Imagem
Casario colonial de Diamantina, cidade que foi tombada em 1999 pela Unesco como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Humanidade


MENTES DE MINAS

Guias mirins declamam poemas nos pontos de Itabira em que o poeta se inspirou

Placas seguem trilha de Drummond

MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O poema "Confidência do Itabirano" (no alto) é um retrato da transformação que Itabira, localizada a 102 km de Belo Horizonte (MG), sofreu durante o século 20. A descrição foi feita por seu mais ilustre cidadão, o poeta Carlos Drummond de Andrade, que, se estivesse vivo, completaria seu centenário em outubro deste ano.
Há comemorações marcadas para celebrar a data, embora os detalhes ainda não tenham sido definidos (veja quadro).
Morto aos 84 anos no Rio, em 1987, Drummond preferia se lembrar da Itabira de sua infância, aquela que ele podia recordar nas fotografias da família e que descreveu em vários de seus poemas, 44 deles salpicados pela cidade em forma de placas que compõem o Museu de Território Caminhos Drummondianos, criado em dezembro de 1997. As placas ficam nos locais onde o poeta se inspirou para escrever os poemas.
Percorrer os Caminhos Drummondianos é a melhor maneira de conhecer Itabira e entender a poesia de Drummond, principalmente se você for acompanhado por um guia mirim do projeto Drummonzinhos.
Desde outubro do ano passado, 27 crianças itabiranas entre oito e 17 anos estão estudando a vida e a obra do poeta para acompanhar os turistas que a cidade espera receber durante este ano.
Elas foram selecionadas pelo perfil socioeconômico -algumas são carentes e outras pertencem a um grupo de teatro. A cidade também está desenvolvendo nas escolas municipais aulas periódicas sobre a obra do poeta.
Os drummonzinhos, em particular, recebem treinamento intensivo. Duas vezes por semana, duas horas por dia, eles têm aulas sobre Drummond, de declamação de poesias, de teatro e de patrimônio histórico. "Há um projeto em tramitação na Câmara Municipal para que as crianças recebam meio salário mínimo por mês para trabalhar 12 horas por semana como guia turístico", diz o superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, Cléber Rodrigues.
Tudo isso porque, na moderna concepção de museu aberto, os drummonzinhos não apenas mostram os lugares por onde o poeta passou, mas fazem uma leitura dramática de cada uma das 44 poesias colocadas em placas.
É o que acontece em frente à Casa do Brás, de 1857, que conserva objetos do fotógrafo e livreiro Brás Martins da Costa, que tirou a primeira fotografia de Drummond. É um espaço dedicado a eventos culturais e exposições.
Além de declamar o poema "Imagem, Terra, Memória", os drummonzinhos guiam os turistas dentro da casa, onde contam a história do fotógrafo e mostram a exposição do momento.

José
Já no hotel Itabira estão os poemas-placas "José" e "Sobrado do Barão de Alfié". Segundo os drummonzinhos, em "José", o poeta se inspirou num episódio que aconteceu com seu irmão mais novo, José. Ele interrompeu uma procissão para subir a cavalo as escadarias do sobrado do barão de Alfié (hoje hotel Itabira), para declarar seu amor a uma moça.
No alto das escadarias, na porta do hotel que conserva o ar de casarão do século passado, os drummonzinhos Aline Santos, 17, e Douglas Couto, 14, dão um show de interpretação do poema. Para quem está assistindo de baixo, a imagem fica mais bonita porque no muro que segura as escadarias há a pintura do antigo cartão-postal da cidade, o pico do Cauê, devastado pela mineração.
Hoje o hotel Itabira pertence ao primo de terceiro grau de Drummond, Walde Andrade, 42. Bom de prosa, ele tem muitas histórias da família para contar. No hall do hotel, há diversas fotos antigas de seus parentes. Até uma de José, para matar a curiosidade.
No MCDA (Memorial Carlos Drummond de Andrade), projetado por Oscar Niemeyer, é possível encontrar parte da obra do poeta. Lá estão livros de sua biblioteca e o rádio que ele usou nos últimos dez anos de vida.
O memorial fica na encosta do pico do Amor, de onde se avista parte da cidade. Inaugurado em 1998, ele é o último ponto visitado no trajeto dos Caminhos Drummondianos, que tem início no trevo de entrada da cidade onde está a estátua de Drummond e o poema-placa "A Ilusão do Migrante", no qual o poeta se refere à importância de suas origens na sua vida.
Os passeios guiados devem ser agendados e podem ser feitos individualmente ou em grupo. O percurso todo dura duas horas e meia, e é necessário ter um carro para ir de um lado a outro da cidade. Quem estiver a pé tem condições apenas de visitar os 12 pontos que ficam no centro histórico de Itabira. Os drummonzinhos também terão o maior prazer em acompanhá-lo na caminhada.

Museu de Território Caminhos Drummondianos - Agendamento de visitas no MCDA, tel. 0/xx/31/3831-1553, das 8h às 18h, todos os dias. Grátis.


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