|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÚLTIMO DESEJO
Tombamento do sítio, em São Roque, ocorrido em 1941, foi esforço pessoal do escritor Mario de Andrade
Desejo de modernista era comprar capela
DA ENVIADA ESPECIAL A SÃO ROQUE (SP)
"Pretendo acabar a vida lá, se
Deus quiser", escreveu Mario de
Andrade (1893-1945) para seu
amigo Paulo Duarte (outro protagonistas da Semana de Arte Moderna de 22), cinco meses antes de
morrer. O "lá" a que se referia o
autor de "Macunaíma" era o sítio
de Santo Antônio, localizado em
São Roque, a uma hora de carro
de São Paulo.
A escolha de Mario é compreensível. A simplicidade da capelinha
e da casa-grande -ambas construídas no século 17 pelo bandeirante Fernão Paes de Barros-, a
quietude do local e a paisagem pedem exclusividade.
No altar, de madeira policromada, o nicho do santo é coberto de
ouro. Os antigos contam que o
santo original foi levado e que boa
parte do metal foi raspado. As paredes têm cerca de 60 cm de espessura e são de taipa de pilão,
uma mistura de barro com argila,
técnica trazida de Portugal. As
portas e janelas da casa-grande,
verdadeiras toras, são originais.
A 7 km do centro, o sítio foi
apresentado ao escritor em meados da década de 30 por intermédio de Paulo Duarte, que, por sua
vez, soube da capela pela boca de
Washington Luis, presidente do
Brasil entre 1926 e 1930.
O escritor tinha especial interesse pelo local. Ele estava envolvido
em um projeto de pesquisa, divulgação e ampliação dos bens culturais do país, apoiado por intelectuais como Rodrigo Melo Franco,
Sérgio Milliet e o próprio Duarte
-com quem trocou correspondência de 1938 a 1945.
Como primeiro diretor do
Sphan (Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional),
criado em 1937, Mario exigiu a
restauração da capela, em péssimas condições, e da casa-grande.
"Como eu, [Mario" se encantou
por aquela relíquia", escreveu
Paulo Duarte no seu livro "Mario
de Andrade por Ele Mesmo" (ed.
Edart, 361 páginas). A restauração
apaziguou a paixão, mas os dois
modernistas combinaram que o
primeiro que tivesse condições
compraria o sítio.
"Tenho uma notícia daquelas
prá lhe dar, sente, senão você vai
cair de costas. Vou comprar o sítio de Santo Antônio, do bandeirante Capitão Fernão Paes de Barros, com a capela e tudo (...) Compro, dôo uma parte com capela e
casa-grande ao Brasil, que entrará
na posse da doação depois da minha morte", escreveu a Duarte.
O sítio ganhou um último proprietário ilustre, Mario de Andrade, em 16 de dezembro de 1944.
Mas o escritor não chegou a morar lá, vindo a morrer pouco depois, em fevereiro de 1945.
(MARGARETE MAGALHÃES)
Capela de Santo Antônio - Estrada
Mario de Andrade, km 7; de ter. a dom.,
das 9h às 16h45; entrada: R$ 1
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Circuito das adegas tenta resgatar imagem do vinho de São Roque Índice
|